Reconstrução do Ministério da Cultura "esquece" representantes amazônidas em sua composição

"Infelizmente a Amazônia ainda tem esse olhar satélite, esse olhar de que nós somos um produto, que temos várias coisas pra oferecer, mas a gente não pode estar na liderança, na gestão de um setor muito importante", destaca Priscila Castro, cantora e produtora cultural.

11/01/2023 às 12h54
Por: Adrielly Pantoja Fonte: Tapajós de Fato
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Foto: Divulgação/ SEC
Foto: Divulgação/ SEC

Margareth Menezes assume o Ministério da Cultura totalmente desmanchado e com a missão de reconstruir a pasta, após 6 anos seguidos de desmantelamento e abandono por parte do Governo Federal.

 

O desmanche do Ministério iniciou em 2016, quando ele foi fundido ao Ministério da Educação, no governo Temer,  perdendo sua autonomia. O estopim veio no governo Bolsonaro, quando a pasta foi extinta, o ministério se transformou apenas em uma secretaria.

 

Em conivência com seu governo, a Secretaria Especial de Cultura, assim nomeada por Bolsonaro, foi cercada de escândalos por parte de seus gestores, como é o caso do dramaturgo Roberto Alvim, que quando esteve à frente da pasta publicou um vídeo em suas redes sociais com referências nazistas, assim como Regina Duarte que demonstrou por várias vezes em seus atos e discursos o total despreparo para ocupar o cargo.

 

É nesse contexto de reestruturação que Margareth Menezes assume a pasta da Cultura, com mais de 40 anos de carreira, seu currículo demonstra sua capacidade para ocupar o cargo. A compositora e cantora está entre as 100 personalidades negras mais influentes do mundo, além de ser a embaixadora da Organização Internacional de Folclore e Artes Populares da Unesco.

 

Foto: Ricardo Stuckert

 

Em seus discursos tanto Margareth quanto o presidente eleito Lula, sempre destacam a importância da valorização e promoção da cultura no país como um todo.

 

"Nas últimas décadas o Brasil ampliou a ideia de cultura entendendo-a não só como arte, mas em suas três dimensões: econômica, estética e cidadã. Com essa ideia tão potente e ampliadora, a arte e o artista passarão a ser vistos como algo ainda maior", disse ela em um de seus discursos.

 

Mas dentro desse processo de reconstrução do MinC, começaram a surgir algumas críticas, com a nomeação dos membros que irão compor as secretarias do ministério, manifestou-se um desconforto quanto à falta de representantes amazônidas.

 

Com um país tão diverso culturalmente, a concentração de representantes de apenas algumas regiões do Brasil parece contrária à ideia de valorizar toda a cultura nacional, sendo a Amazônia um dos maiores pólos de produção cultural do país, é incoerente não haver sequer um representante da região Norte na pasta do MinC.

 

Foto: Reprodução da Internet 

 

A cantora e produtora cultural de Santarém, Priscila Castro, em entrevista ao Tapajós de Fato comentou sobre essa ausência.

 

"Primeiro eu gostaria de expressar que estou como uma mulher negra e da cultura, muito feliz pela indicação da Margareth no nosso Ministério da Cultura, uma mulher preta e que também tem muitos anos de luta em relação às políticas culturais, e falar que a única tristeza é não termos uma representação amazônida neste ministério com tantos produtores e gestores muito experientes em relação à luta pelas políticas culturais. Infelizmente a Amazônia ainda tem esse olhar satélite, esse olhar de que nós somos um produto, que temos várias coisas pra oferecer, mas a gente não pode estar na liderança, na gestão de um setor muito importante, em especial porque a cultura amazônica é muito rica, muito diversa e pra falar sobre a cultura da Amazônia, também pra ela se inclui, não digo só Amazônia paraense, mas a Amazônia como um todo, é fundamental que nós tivéssemos lá demarcando esse esse espaço".

 

Apesar dessa situação, Priscila disse que ainda acredita na revolução cultural e que espera que o MinC crie conexões com os produtores culturais da Amazônia.

 

Seguindo o próprio discurso de Margareth Menezes, "se a cultura do Brasil é a sétima cultura mais influente do mundo, isso se deve ao seu povo, aos seus artistas, ao setor cultural”, então porque não colocar representantes amazônidas para falar sobre a cultura de sua própria região, com propriedade.

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