Eventos skatistas em Santarém excluem a modalidade feminina

Mesmo com as maiores representantes do skate atualmente no Brasil serem mulheres, elas continuam sendo excluídas e desrespeitadas dentro do esporte.

18/01/2023 às 11h53 Atualizada em 24/01/2023 às 12h49
Por: Tapajós de Fato Fonte: Tapajós de Fato
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Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Apesar da atual popularidade do skate, enquanto esporte no Brasil e no mundo, e atualmente ser uma modalidade olímpica, a prática deste esporte ainda é cercada de preconceitos.

 

O esporte, que por muitos anos foi marginalizado pela sociedade, segue a mesma tradição da maioria dos esportes "dominados" por homens, o abandono, a falta de investimento e incentivo às modalidades femininas. 

 

E no município de Santarém não é diferente, eventos realizados pela prefeitura ou por outras organizações sempre "esquecem" que as mulheres também são e podem ser skatistas. Em entrevista ao Tapajós de Fato, Andressa Carneiro, conhecida também como Indiazinha Viajante, conversou a respeito desta problemática.

 

"Faz 12 anos que ando de skate aqui em Santarém e sempre foi muito difícil ser uma mulher skatista em uma cena dominada por homens, pior ainda quando você é nortista em uma cidade em que o skate não é valorizado e muito menos respeitado. Durante todos esses anos andando de skate, vi meninas desistindo pela falta de incentivo, tanto da própria galera que anda de skate quanto incentivo dos organizadores de eventos, que quase sempre esquecem nossa categoria ou simplesmente dão premiações inferiores".

 

Foto: Arquivo pessoal

 

Andressa é integrante do coletivo @sktfmstm (Skate Feminino de Santarém), que disponibiliza oficinas de aula de skate para meninas, o  intuito do coletivo é abraçar todas as meninas que andam e não andam de skate, mas sentem vontade de aprender, realizar encontros e street pela cidade.

 

"Esse coletivo tem se fortificado cada vez mais, principalmente quando criamos um grupo no WhatsApp e falamos absolutamente sobre tudo, skate, vivências, eventos, como poderíamos nos articular e nos organizar politicamente para ter nosso espaço na cena", completa Andressa Carneiro. 

 

Foto: Arquivo pessoal

 

Apesar de toda essa estrutura organizada pelo coletivo, as mulheres continuam sendo "esquecidas" pelas organizações dos eventos e competições da cidade. 

 

A prefeitura de Santarém, responsável pela maior parte das competições no município, muitas vezes não inclui a categoria feminina. O coletivo disse que sente muitas vezes o peso por serem excluídas destes eventos. "Ficamos revoltadas de isso sempre acontecer, de esquecerem a gente, nunca fomos procuradas, muito menos ouvidas. Resolvemos então fazer barulho na internet com o intuito de revolta e de protestar", comenta Andressa.

 

Recentemente a cidade teve um evento, que segundo a organização o foco não era o skate, mas que para fomentar a cena resolveram “incluir” o esporte. Ainda segundo a organização, o evento era uma amostra, mas apenas homens puderam  participar.

 

Esse problema não é de hoje, a prefeitura realizou um evento de esporte e lazer no Parque da Cidade em parceria com uma Skateshop de Santarém, que seria um "game of skate" e tinham apenas duas categorias (iniciante e amador), e Andressa foi a única menina a participar do evento na categoria iniciante.

 

Silvane Silva, de 23 anos, que também é skatista e faz parte do coletivo comentou que no último evento de Skate organizado na cidade, foi realizado no formato "Open", ou seja, seriam mulheres e homens juntos, ela disse que procurou a coordenação do evento, mas que suas observações não foram atendidas.

 

"As meninas queriam se inscrever, queríamos participar, como todo campeonato a gente quer, mas era impossível a gente competir com homens, não tem como. Não tiveram a iniciativa de conversar com a gente, não responderam. Não pode ficar assim, já pensou se pega uma moda fazer todo campeonato "Open" e dane-se o feminino, digamos assim", comenta Silvane.

 

Qual a problemática de um evento OPEN (livre)? Na nossa cidade existem somente três categorias: amador, iniciante e feminino. Em um best trick livre, ou seja, um best trick com todas as categorias, as pessoas iniciantes e do feminino não têm chance alguma dentro da competição.

 

Mesmo com as maiores representantes do skate atualmente no Brasil serem mulheres, o desrespeito continua, Letícia Bufoni e Rayssa Leal são os maiores exemplos de como as mulheres são sim capazes de ocupar todos os espaços.

 

Rayssa que tem apenas 15 anos, é medalhista olímpica, medalhista de ouro nos X-Games e campeã mundial de 2022, e Letícia Bufoni, maior medalhista e vencedora da história do skate de rua no X Games, demonstram na prática que o investimento vale sim a pena, e que as mulheres merecem e exigem respeito enquanto skatistas.

 

Em contrapartida a essa demonstração de machismo e exclusão por parte dos organizadores das competições aqui em Santarém, o coletivo skatistas feminino vem realizando seus próprios eventos. O coletivo já realizou oficinas para mulheres, encontros para andar de skate fazendo filmagens pela cidade, recentemente fez um game of skate (que é basicamente um jogo onde as participantes jogam jockey pow/pedra, papel e tesoura e quem sai primeiro joga a manobra base e todas as outras devem acertar, caso erre você ganha uma letra até formar uma palavra, geralmente (S-K-T ou S-K-A-T-E).

 

Foto: Arquivo pessoal 

 

Esse evento foi pensado por mulheres skatistas, para milhares skatistas, porém Andressa afirma que foi bastante difícil conseguir patrocinadores que pudessem abraçar a ideia. Até mesmo na divulgação, o que mostra o desinteresse.

 

"É difícil, desestimulante, mas nosso amor, meu amor, pelo skate é tão grande que nada vai me fazer parar de andar de skate. Sinto que nós enquanto coletivo estamos caminhando conforme a gente consegue, a gente espera que mais apoiadores possam nos dar voz para realizar eventos em que mulheres não sejam esquecidas muito menos julgadas como inferiores", conclui Andressa.

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