No mês de fevereiro, no Brasil, não se pensa em outra coisa a não ser o carnaval, a folia contagia de norte a sul o país. O momento é de muita diversão, assim como de denúncia dos problemas sociais e ambientais vivenciados no dia a dia. Um exemplo é o bloquinho Só no Mapiri Que Tinha, criado pelos moradores do bairro Mapiri, em Santarém, suas músicas e seus enredos são em uma pegada socioambiental, denunciando a destruição do lago do Mapiri.
O bairro do Mapiri se formou a partir de uma ocupação iniciada ainda na década de 80. Por ser uma ocupação, na época, os moradores utilizavam o lago para todas as atividades do dia a dia, como: lavar roupas e louças, tomar banho e pescar eram feitas no lago. Sendo também um espaço de lazer.
Orla do Mapiri. Foto: Reprodução/Internet
Mas, alguns anos após a ocupação, problemas começaram a surgir, um deles foi a pesca com bomba, atividade que detona explosivos no fundo do rios, os cardumes morrem e boiam, facilitando a captura, mas esta atividade é ilegal e considerada crime ambietal. Percebendo que essa atividade poderia acabar com os pescadores do lago, a própria população do bairro mobilizou campanhas de conscientização ambiental até conseguir com que esse tipo de pesca não fosse mais realizada no Mapiri.
O aumento da população e a ineficiência do governo municipal - que perdura até hoje - com serviço de limpeza pública, os comunitários passaram a realizar mutirões para limpar o lago e suas adjacências.
A igreja católica foi uma grande parceira dos comunitários, o bloco Só no Mapiri Que Tinha surgiu a partir dos grupos de canto e as pessoas que tocavam instrumentos, de início surgiu a banda Bandalheira, para tocar nas festas realizadas pela comunidade do Mapiri.
O bloco surgiu a partir da Campanha da Fraternidade de 2016, que tinha o tema “Casa Comum, Nossa Responsabilidade”. Dona Maria das Dores, que faz parte da comunidade católica do bairro, fala da criação do bloco. “Nós resolvemos criar um bloco para chamar a atenção do povo do Mapiri, o nosso lago era tão bonito, tão cheio de vida e hoje nós temos um lago morto”.
Lixo no Lago do Mapiri. Foto: Reprodução/Internet.
Apesar de conseguirem acabar com as bombas, a margem do lago é tomada por estaleiros e embarcações que derramam óleo na água, continuando a destruição do lago.
Jaraqui era um dos peixes que mais tinha no lago, agora é difícil pescar. Foto: Tapajós de Fato.
Dona Marta, porta-estandarte desde a criação do bloco, falou da emoção de mais um carnaval, e da saudade de poder fazer folia nas ruas de seu bairro. “Está sendo maravilhoso! A gente estava louco para se divertir. Com tantos problemas, mortes e agora é só alegria”, comenta.
Porta-estandarte do Só No Mapiri Que Tinha. Foto: Tapajós de Fato.
Outro morador do bairro é seu Raimundo, ele também fala que volta com muita alegria, pois fazem dois anos que a gente não saem. Um outro ponto ressaltado por ele é que o Só no Mapiri Que Tinha é o único bloco que preserva a natureza, que grita pela natureza.
O morador fala ainda que os moradores têm a obrigação de continuar protegendo o local, “o nosso bloco Só No Mapiri Que Tinha tem esse trocadilho: onde tem, onde que tinha, só no Mapiri que tinha”, finaliza.
Enquanto a prefeitura de Santarém estrutura espaços como a Praça de Eventos, para a programação de carnaval, o bloco Só No Mapiri Que Tinha percorreu por diversas ruas do bairro, muitas delas sem o mínimo de infraestrutura, além da lama que se forma por conta das chuvas, a iluminação pública também é precária, alguns trechos foram percorridos no escuro.
Trecho por onde os foliões passaram com o bloco no bairro do Mapiri. Foto: Tapajós de Fato
Mesmo comas dificuldades estruturais e financeiras, pois o bloco é feito apenas com as doações dos moradores, o Só No Mapiri Que Tinha é um bloco que toda a família vai pular o carnaval, é também o único bloco da cidade que levanta a pauta dos direitos socioambientais, pois entendem que o Lago não serve apenas para os moradores, mas sim para toda a cidade.