No último dia 01/03 (quarta-feira), a equipe do Tapajós de Fato, conjuntamente com representantes da Feagle e dos Guardiões do Bem Viver estiveram em duas comunidades da área do Assentamento PAE Lago Grande para fazerem a entrega da cartilha “Justiça Climática pelo Bem Viver”, fruto do projeto Justiça Climática pelo Bem Viver.
O projeto da cartilha é financiado pela Fundación Avina e desenvolvido pela parceria de várias instituições, sendo elas: Tapajós de Fato, FEAGLE, Guardiões do Bem Viver e Terra de Direitos.
O objetivo da construção coletiva que resultou na cartilha Justiça Climática pelo Bem Viver, é trabalhar dentro das comunidades que compõem o Assentamento PAE Lago Grande a temática das mudanças climáticas e como isso afeta o “bem viver” da população da região, bem como, introduzir o conceito de justiça climática nas escolas e na comunidade.
Imagem: Desenvolvimento do Projeto Justiça Climática pelo Bem Viver na Escola São Sebastião/ Foto Tapajós de Fato
As primeiras ações do projeto foram desenvolvidas nas comunidades de Carariacá, na região do Arapixuna, e Vila Brasil, na região do Arapiuns.
Comunidade do Carariacá
Imagem: Escola São Sebastião no Carariacá/ Foto Tapajós de Fato
Na comunidade do Carariacá a ação foi desenvolvida na Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio São Sebastião.
A escola oferta desde a Educação Infantil, passando pelo ensino fundamental I e II, até o ensino médio. A escola é vinculada ao governo municipal, no entanto, funciona também como um anexo da Escola Estadual São Felipe para assim conseguir ofertar o ensino médio, de responsabilidade do governo do estado.
Na comunidade a ação ocorreu no horário da manhã, onde a equipe fez a entrega da cartilha para os alunos e promoveu um momento de conversa tratando dos assuntos abordados pela mesma, Mudanças Climáticas, Justiça Climática e Bem Viver.
Imagem: alunos lendo a cartilha/ Foto Tapajós de Fato
Além da conversa, foram promovidos momentos de ludicidade com o desenvolvimento de brincadeiras, a fim de promover o interesse dos alunos pela cartilha, assim como, incentivar a leitura da mesma.
Os alunos participantes da atividade foram bem participativos e elogiaram a metodologia utilizada pela equipe. Além dos alunos, a equipe gestora da escola também elogiou o desenvolvimento do projeto e falou sobre a importância da temática para a região do Assentamento.
“Essa palestra foi muito importante para os alunos, uma vez que a comunidade tem seus valores e falar sobre esses valores é importante. Muitos dos alunos ainda não possuem conhecimento sobre a temática abordada na cartilha, mas com certeza a partir de agora eles buscarão mais conhecimento”, comenta a professora Ivete Matos Corrêa, Técnica Pedagógica.
Ainda segundo ela “as mudanças climáticas dos nossos rios, das nossas florestas e que muitas vezes vem destruir as roças, os igarapés, os peixes, os rios e o povo vem sentir falta… E esse trabalho que esse grupo está fazendo é um trabalho que diz respeito a tudo isso que acontece, não só na nossa comunidade, mas no mundo e eu agradeço a equipe, e a comunidade escolar agradece o desenvolvimento do projeto em nossa comunidade”.
Comunidade Vila Brasil
Imagem: Atividade lúdica com as crianças/ Foto Tapajós de Fato
Na comunidade Vila Brasil a ação ocorreu no período da tarde e contou com alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental da Escola Municipal Nossa Senhora da Rainha, e estiveram presentes cerca de 60 alunos.
Nela também foi feita a entrega das cartilhas para os alunos e para toda a equipe de funcionários da Escola.
Em relação a temática trabalhada na cartilha, Ivonete Castro, diretora da escola, afirmou que é um excelente material para a introdução da temática mudanças climáticas na sala de aula, e que a escola a utilizará como material pedagógico nas disciplinas de Estudos Amazônicos, propondo reflexões de como as ações de cada um e da comunidade afetam a vida cotidiana da comunidade.
Imagem: criança lendo a cartilha Justiça Climática pelo Bem Viver/ Foto Tapajós de Fato
Segundo a diretora, “é muito bom trazer essa temática para os alunos, porque a gente está vendo coisas que se viam longe somente na mídia nacional e internacional, hoje a gente está sentido dentro da comunidade como o aumento do calor e das chuvas, o que de certa forma já promove degradação dentro da comunidade, e a gente percebe que isso é efeito das mudanças do clima que já está complicando a vivência dentro da nossa comunidade”.
Como exemplo de consequências já perceptíveis na comunidade, a professora cita a questão da água. Segundo ela, o poço da comunidade teve diminuição no nível da água o que afeta a sua capacidade de abastecer a comunidade. E ela pontua que isso é preocupante.
Imagem: criança folheando a cartilha/ Foto Tapajós de Fato
Em relação a cartilha a professora pontua que o tema é bom e que “a cartilha vem para somar aos projetos de meio ambiente que a escola já possui, e iremos sim trabalhar ela na disciplina de Estudos Amazônicos e de Geografia, pois a gente vê que a geografia está mudando por causa das mudanças climáticas”.
Cartilha Justiça Climática pelo Bem Viver
Imagem: Alunos da Escola Nossa Senhora Rainha de posse da Cartilha/ Foto Tapajós de Fato
A cartilha traz em seu conteúdo o conceito de Mudanças Climáticas, mas utiliza uma linguagem didática e familiar dos comunitários da região do PAE Lago Grande. A intenção é que as crianças e jovens, alunos da rede de ensino pública dessas localidades, sintam-se confortáveis em acessar o conteúdo e que enxerguem a sua realidade sendo narrada nas páginas da cartilha.
Raimundo Nonato Bastos, aluno do ensino médio da Escola Municipal São Sebastião e morador da comunidade do Carariacá, pontuou que “a cartilha está bem explicada e muito dinâmica”. Seguindo em sua fala, ele afirmou ter gostado da fala e da representatividade que a cartilha traz. Segundo ele, o desenvolvimento do projeto “foi muito importante para conscientizar a gente a preservar o meio ambiente… foi super produtivo pra gente”.
Imagem: Alunos da escola São Sebastião de posse da cartilha/Foto Tapajós de Fato
Outro importante tema abordado pela cartilha está relacionado a vivência dos comunitários da região, uma vez que a mesma aborda a questão do Bem Viver das comunidades, que nada mais é que preservar as suas tradições e costumes, bem como, primar por preservar seus modos de vida e valorizá-los.
E como forma de preservação de costumes e tradições, bem como, meio de combate às ações do homem e de grandes empresas que promovem o aumento de gases que elevam os níveis do aquecimento global provocando as mudanças climáticas, a cartilha aborda a temática da justiça climática, no intuito de introduzir esse tema nas escolas.
Imagem: Desenvolvimento do projeto em Vila Brasil/ Foto Tapajós de Fato
Nesse sentido, a equipe gestora da escola do Carariacá, representada pela técnica pedagógica Ivete Matos, logo propôs aos alunos atividades a serem desenvolvidas na sala de aula com base na cartilha e nos temas tratados.
Não só lá, mas também na comunidade de Vila Brasil, os professores ficaram com a tarefa, imposta pela equipe gestora da escola, de trabalhar a cartilha nas aulas discutindo o tema com os alunos e desenvolvendo atividades de leitura e interpretação de texto.
PAE Lago Grande
O Projeto de Assentamento Agroextrativista Lago Grande é um assentamento de reforma agrária, localizado no município de Santarém, no Pará. O território é, atualmente, composto por 154 comunidades que compõem as regiões do Arapixuna, Arapiuns e Lago Grande, e possui uma população de aproximadamente 35 mil pessoas.
A região sempre foi alvo de ameaças de grileiros, madeireiras e agropecuaristas, agora, também tem sido alvo de mineradoras. A Alcoa busca a sua expansão para a região e vem travando um embate com as entidades locais e com a população que tentam impedir que a mineradora adentre a sua região.
Nesse cenário, promover ações de educação que visam a valorização do território e da cultura dos ribeirinhos é fundamental para que as crianças e jovens se instruam e se preparem para a defesa de seu território.
Maria Odenilze Miranda, coordenadora da Feagle que acompanhou a equipe no desenvolvimento da atividade nas comunidades disse, “as duas ações feitas nas comunidades foram muito boas, e que a equipe continue com o desenvolvimento do projeto. A Fealgle está sempre à disposição para acompanhar”.
Nas duas comunidades a ação atendeu, no total, cerca de 200 pessoas entre crianças e adolescentes.