Coletivo Guardiões do Bem viver é objeto de estudo de artigo da Universidade Federal do Amazonas-UFAM

“Sou filha de Vila Brasil, Arapiuns, então falar sobre os Guardiões é falar sobre luta de direitos e defesa do território, é lutar pela floresta conservada, e manutenção das nossas famílias e parentes que vivem na região, com segurança alimentar, pois uma floresta preservada sem poluição é ter qualidade de vida”, ressalta a autora do artigo.

21/03/2023 às 12h43 Atualizada em 21/03/2023 às 13h47
Por: Tapajós de Fato Fonte: Tapajós de Fato
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Foto: Guardiões do Bem Viver
Foto: Guardiões do Bem Viver

Valdilene Lopes, professora da Secretaria de Educação do Amazonas e estudante do 4° período da Universidade Federal do Amazonas de Parintins (UFAM), do curso Serviço Social, escreveu e apresentou artigo sobre os Guardiões do Bem Viver, no primeiro seminário intitulado “Amazônia em Questão e a Questão da Amazônia”.

 

Nesse seminário foram apresentados as temáticas Movimentos Sociais e Pesquisas sobre os povos Originários, ribeirinhos e povos amazônidas. O projeto foi aprovado com o tema: MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMAZÔNIA: Guardiões do Bem Viver no Assentamento Agroextrativista do Pae-Lago Grande em Santarém/PA, o seminário aconteceu em Parintins.

 

Valdilene Lopes apresentou e aprovou o artigo via Meet no seminário,  pois era de forma híbrida, a autora do artigo disse que: “foi muito importante, pois teve uma avaliação positiva, além de o nosso projeto ter sido aprovado para ser publicado na revista da universidade no qual ainda estamos aguardando a publicação”.

 

Ela ainda completa relatando que “falar nas práticas inovadoras como as que os Guardiões estão fazendo, nos orgulha por ser da região,  no qual como professora e logo em breve se Deus quiser como Assistente Social, poder voltar e contribuir para a comunidade será uma honra”.

Valdelene Lopes tem suas raízes na comunidade de Vila Brasil, Rio Arapiuns, saiu ainda jovem para a cidade, buscando oportunidade para a sua qualificação, ela comenta o que motivou a escrever um artigo para ressaltar a luta do coletivo.

 

Valdelene Lopes Autora do artigo Foto:Arquivo pessoal

 

“Sou filha de Vila Brasil, Arapiuns, então falar sobre os Guardiões é falar sobre luta de direitos e defesa do território,  é lutar pela floresta conservada, e manutenção das nossas famílias e parentes que vivem na região, com segurança alimentar, pois uma floresta preservada sem poluição é ter qualidade de vida”, ressalta a autora do artigo.

 

Quando perguntada sobre como foi realizar esse trabalho, a estudante afirma que:

“Ao realizar esse trabalho, foi importante, pois me proporciona conhecer e divulgar o quão importante é a luta dos Guardiões, para que as futuras gerações possam usufruir dessa linda região rica em flora, fauna e de belezas naturais”.

 

Valdilene comenta ainda como foi escrever sobre a juventude do PAE Lago Grande, e como esses jovens vêm se organizando para manter o território protegido.

 

“Escrever sobre os guardiões é dar protagonismo aos movimentos sociais na Amazônia, principalmente pelos jovens nascidos no território em defender as suas ancestralidades e contra a investida do capital que tanto destrói. Assim eu penso que a luta dos jovens seja a continuação de uma luta histórica que partiu desde os invasores portugueses, na luta dos Cabanos e agora jovens defendendo um território livre da mineração e das grandes empresas capitalistas, que geram as grandes mazelas da questão social, como a violência a insegurança e principalmente a destruição da floresta”.

 

Em resumo, o artigo consiste em fazer uma reflexão acerca da importância das lutas sociais ribeirinhas com a demarcação em defesa de seu território. Com o objetivo de identificar a presença desses movimentos no assentamento agroextrativista da PAE, em Santarém-Pará, como meio de discutir as problemáticas que o capital acarreta nas comunidades tradicionais e ribeirinhas diante do avanço da extração de madeireiras e mineradoras em seu território, gerando assim um movimento contemporâneo dos Guardiões do Bem Viver, formado por uma comunidade de jovens que visa defender seu território da investida do capital.

Guardiões do Bem Viver Foto: Guardiões

 

O projeto de Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande, situado no município de Santarém/Pará, foi criado em 2005. Sua área territorial é de aproximadamente 250 mil hectares, formada por 154 comunidades tradicionais e mais de 6.600 famílias entre indígenas, ribeirinhos e populações que já viviam e moravam na área desde muito tempo.

 

A criação desses assentamentos teve como objetivo preservar essas reservas extrativistas dos vários conflitos territoriais que acometiam a região desde o século XX. Com o avanço do setor de agronegócio da produção de soja, a mineradora ALCOA, instalou um projeto de extração de bauxita e madeiras na região e, portanto, o avanço a terra do PAE Lago Grande de forma ilegal começou a ameaçar as famílias assentadas sobre seu território, criando assim, movimentos de lutas para a preservação de suas propriedades diante da investida do crescimento de exploração dessas terras. 

 

Os Guardiões do Bem Viver são formados por jovens dessas comunidades que lutam pela aquisição do título coletivo de suas terras, visto que na Amazônia esses assentamentos sofrem com a imprevisão da tomada de terras pelo INCRA, diante de uma política que privilegia o capital perante a constante instabilidade de ter apenas seu espaço territorial cedido para sua sobrevivência, mas que dependendo do Estado a qualquer momento esse território pode ser afetado pelo capital.

 

Assim, o artigo tem por objetivo refletir sobre a luta do movimento protagonizado pelo Assentamento, como meio de discutir as problemáticas que o capital acarreta nas comunidades rurais. Resulta de revisão bibliográfica e levantamento exploratório no contexto do Assentamento.

 

Em entrevista ao integrante do coletivo Guardiões do Bem Viver, Darlon Neres, ele ressalta como é importante a luta dos Guardiões está sendo documentada.

 

“A luta precisa de mais espaços e a universidade é um deles, pois são de lá que vêm as pesquisas e que pode embasar a ainda mais a nossa luta pela defesa do território, entendendo como a juventude vem se articulando e se organizando nesta grande Amazônia”.

 

O guardião finaliza afirmando que: "Somos os defensores da floresta, guardiões da terra, cultura e ancestralidade, e nossa história passará de geração para geração, por justiça social, direitos humanos e garantia do território para o nosso povo”.

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