Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) em parceria com a Conservação Internacional (CI-Brasil) e a Colônia de Pescadores Z-20, divulgado no último dia 24, mostrou que os pirarucus das áreas do PAE Tapará, estão próprios para consumo humano em relação a presença do mercúrio, metal pesado que oferece risco à saúde. As análises feitas na espécie, considerada o maior peixe de escama de água doce do mundo, apontaram que os níveis de contaminação encontrados estão abaixo do limite aconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O presidente da Colônia de Pescadores Z-20, Amarildo Santos explica que o pirarucu foi escolhido como alvo do estudo principalmente pelo seu alto potencial de comercialização e por ser um peixe que migra por vários rios e lagos da Amazônia. “Nossa região é rica em pirarucu e por isso pedimos a pesquisa para CI- Brasil, que buscou apoio da Ufopa. Sabíamos que podia dar um resultado positivo ou um negativo, sendo que nesse caso os pescadores seriam prejudicados. Trabalhamos juntos e acompanhamos esse processo e está aí o resultado. Graças a Deus a carne do nosso pirarucu aqui do Tapará não contém mercúrio. É uma alegria muito grande saber disso”.
De abril a novembro de 2022, foram coletadas e analisadas amostras de 62 pirarucus, 25 de água, 25 de sedimentos e 98 de peixes que integram a alimentação do pirarucu e da população ribeirinha. A concentração de mercúrio encontrada na espécie no PAE Tapará foi baixa (0,19 mg/kg) e está dentro dos limites de segurança para consumo humano estabelecidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, que é de 1mg/kg. A pesquisa conclui que, pela legislação brasileira, o peixe pode ser consumido. O diretor sênior de programas da Conservação Internacional – Brasil, Miguel Moraes frisou que o resultado alcançado foi melhor do que o esperado, uma vez que a região do Baixo Amazonas tem uma atividade de garimpo muito intensa, sobretudo na cabeceira dos rios e que estudos recentes já mostram o impacto da contaminação por mercúrio no meio ambiente e na saúde.
“Estávamos ansiosos pelo resultado, todas as análises que foram feitas no pirarucu, no solo e nas outras espécies apontaram níveis muito abaixo do limite. Essas amostras foram coletadas em 2022 e a partir de agora esse monitoramento deve ser constante para saber se esses índices vão permanecer os mesmos ou se vão aumentar. Para futuro é interessante pensar em selos de denominação de origem controlada para garantir que o mercado tenha segurança e possa comprar um pirarucu produzido na região sem medo de que esse esteja contaminado com mercúrio, sem que ele vá levar a extinção da espécie. A parceria entre as comunidades e as organizações do terceiro setor e universidades é muito importante para esse processo”.
Segundo a OMS uma pessoa de 60 quilos deve ingerir, no máximo, 0,098mg de metilmercúrio (MeHg), ou seja, cerca de 500 gramas de pirarucu por semana. A pesquisa que também teve como parceiros o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Restaurante Casa do Saulo e a Prefeitura de Santarém através da Secretaria Municipal de Turismo, contou com a participação direta da comunidade e das lideranças, que foram orientados quanto ao risco da contaminação mercurial para a saúde humana e o meio ambiente. A coordenadora de projeto da Conservação Internacional no Tapajós, Maria Farias que esteve diretamente envolvida na iniciativa, destaca que o estudo tem um papel muito importante, haja vista que a cadeia produtiva do pirarucu tem impacto direto na sustentabilidade das comunidades amazônicas.
“O mundo está comendo o pirarucu e está de olho no nosso peixe que é sustentável, que é manejado, que é trabalhado com cultura e com uma ancestralidade que vem de geração em geração. Tem toda uma história nessa criação. Por trás de um quilo de pirarucu tem muito valor, está a vida dos moradores que moram aqui no Tapará. Por isso que falamos que o pirarucu é um produto tão importante na cadeia produtiva das comunidades de várzea. Essa pesquisa não se encerra com os resultados é algo que precisa ter continuidade.”