Entre os dias 22 a 25 de março, aconteceu em Santarém, Oeste do Pará, o Encontro Estadual de Agroecologia, com o tema “Agroecologia tecendo redes por Soberania Alimentar e Popular nos territórios Amazônicos". O encontro reuniu cerca de 150 pessoas de diversos municípios e regiões do Pará.
O encontro teve por objetivo articular e dialogar sobre a agroecologia enquanto alternativa para uma sociedade social e ambientalmente justa, e que garanta os direitos dos/as cidadãos, e criar uma articulação paraense de agroecologia.
A programação contou com mesas de debates e dinâmicas de apresentação de projetos comunitários em torno das temáticas da homeopatia da terra, sistemas agroflorestais, criação de abelhas, questão agrária e formas de gestão territorial na Amazônia, segurança alimentar e nutricional e circuitos curtos de mercado.
Participantes do encontro / Foto: João Fotógrafo
Estavam reunidos povos indígenas, quilombolas, agricultores familiares, agroextrativistas, antropólogos, pesquisadores, mulheres, juventudes e representantes dos movimentos sociais.
O evento foi organizado por um conjunto de organizações da sociedade civil, entre elas, FASE, Fundo Dema, Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Pará (Fetagri), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR-STM), Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande ( FEAGLE), Instituto de Agroecologia Latinamericano-Amazônico (IALA).
A abertura do evento no dia 22 foi a noite teve mística conduzida pelo coletivo de jovens Guardiões do Bem Viver do Pae Lago Grande, com reflexão sobre a agroecologia na afirmação de que o agrotóxico é Morte e a agroecologia é vida, após este momento místico foram apresentadas com muita alegria as regiões presentes no encontro. Regiões do Baixo Amazonas, Sudeste Paraense, Transamazônica, BR 163, Xingu e Nordeste Paraense.
Mística realizada pelos Guardiões do Bem Viver Foto: Tapajós de Fato
O primeiro dia de debates iniciou com a análise de conjuntura, com a participação de Maria Emília da Fase do Rio de Janeiro, Daniele Wagner da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), e Fábio Pacheco membro do ANA Amazônia.
O Tapajós de Fato conversou com Fábio Pacheco, que apresentou a importância da realização do encontro para a agroecologia no Pará.
“O Pará ele sempre teve um importante papel dentro da Amazônia com relação a vários campos, mas principalmente com agroecologia, aqui surgem as formas mais organizadas e organizações que conseguiram puxar o tema da agroecologia mais fortemente a nível nacional, e daqui que a gente começa a fazer os primeiros encontros do que seria a nossa articulação regional de agroecologia da Amazônia, então o Pará tem sempre uma importância fundamental, assim como o Maranhão, Tocantins e Amazonas, digamos que foram os iniciaram a construção da rede de agroecologia, e depois vieram se agregando outros estados”.
Mesa de Debates Fábio Pacheco (2° da esquerda para direita) / Foto: Tapajós de Fato
Fabio Pacheco comenta sobre a contribuição da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) nesse debate para a construção da articulação no estado.
“Como somos uma articulação regional a ideia é animar os estados, trazer os anúncios que vêm da nacional e também animar os estados nos seus processos de fortalecimento estaduais e da gente tentar executar uma unidade de luta da Amazônia, porque o que praticamos de agroecologia da Amazônia difere de algumas outras regiões. Então a gente tem particularidade na Amazônia, e o ANA Amazônia tenta levar isso, para que o âmbito nacional veja os diversos processos que nos diferenciam do jeito de fazer agroecologia".
Leticia Ture, coordenadora nacional da Fase, em entrevista ao Tapajós de Fato comenta sobre o papel da organização nesse processo de contribuir na construção da articulação estadual.
“A FASE, tem entre as suas causas políticas a questão da agroecologia, da soberania e segurança alimentar, essa é uma causa estratégica. E a Fase entende que junto a essa causa estratégica da agroecologia, da alimentação saudável está também a defesa dos territórios, a defesa da biodiversidade e dos direitos das populações tradicionais, e a gente tinha já dentro de uma discussão junto com a ANA Amazônia a importância da gente constituir também articulações estaduais, então a Fase buscou dialogar com organizações que já vinham acompanhando a ANA, ao longo das últimos décadas e vim nessa construção para organicidade de uma grande articulação para pautar a agroecologia em nível estadual”.
Letícia Ture / Foto: Tapajós de Fato
Sobre um dos grandes encaminhamentos do evento que é a criação da Articulação Paraense de Agroecologia, Leticia Ture relata que:
“A gente deve criar uma articulação, que seja um espaço de costura de confluência de todos esses óculos de agroecologia que tenham no estado nas várias regiões, têm aqueles que ainda não tiveram oportunidade de vir, a gente tinha que ir atrás pra se juntar a articulação, e que os elos daqui se encontre também, encontrem com os elos regionais e nacionais, pensar numa perspetiva horizontal, não vertical e que a gente construiu na organização social, fazendo intercâmbios, encontros, plenárias, construindo um grupo que anine esse processo no estado”.
Durante o evento ocorreu uma feira de vendas de produtos agroecológicos, e a feira de trocas de mudas e sementes crioulas da sociobiodiversidade. As feiras de trocas de sementes e mudas foram uma ótima oportunidade para a integração entre grupos de produtores locais e regionais envolvidos na produção orgânica, agroecológica e de alimentos da produção familiar.
Feira de trocas de sementes e mudas / Foto: João Fotógrafo
O evento busca fortalecer as famílias chamadas de “Guardiãs de Sementes”, que conservam e multiplicam sementes e mudas livres de transgênicos há séculos.
Maria do Céu, do município Mãe do Rio, Nordeste do Pará, do movimento de mulheres do Nordeste Paraense, é Guardiã das Sementes e conversou com o Tapajós de Fato.
“Pra mim é uma experiência muito válida e muito importante, porque as sementes crioulas, elas são as sementes da vida, porque elas dão vida, são as sementes da paixão, simplesmente porque elas perpassam pela terra a partir do seu nascimento como solo bem preparado, com os substratos dos microrganismos ajudando no seu nascimento, ela já nasce uma planta sadia, “Santa” como eu digo, então pra mim as sementes elas são muito válidas, depende muito dela ser uma semente sadia, por isso é uma semente crioula, nata, sem a contaminação de agrotóxicos".
Sementes crioulas de andiroba / Foto: João Fotógrafo
A Guardiã das Sementes afirma ainda que as sementes são da ressurreição e da vida. “As sementes também são da ressurreição, pois as vezes a gente tá doente, e com uma alimentação própria, pois restabelece o organismo, o corpo fica sadio, seguro, firme, pra da continuidade aos trabalhos, pra mim uma semente da ressurreição é a semente da andiroba, pois serve muito para nossas curas de enfermidades”.
Mística de Encerramento / Foto: João Fotógrafo
Foram 4 dias de debates, escuta e decisões no ramo da agroecologia, onde, com 43 votos contra 36, aprovou-se a articulação de agroecologia paraense, com frentes de lutas de trabalhos, leitura e aprovação da carta compromisso com a articulação e encerrou-se o evento novamente com uma mística feita pelo movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), reafirmado o compromisso com a luta pela agroecologia e defesa dos territórios amazônicos.