O novo módulo da Escola de Militância Socioambiental Amazônida - EMSA 2023 aconteceu no último fim de semana, dos dias 23 ao dia 27/03. O primeiro eixo de formação foi o eixo sociopolítico que visa abordar as questões políticas-sociais da Amazônia, e em especial, da bacia do rio Tapajós.
A Escola de Militância Socioambiental Amazônida - EMSA, é uma iniciativa do Movimento Tapajós Vivo - MTV, em articulação com várias outras entidades sociais, e tem como proposta: a construção e partilha de saberes tradicionais e científicos para fortalecer a sensibilidade crítica sobre as mudanças climáticas e o comprometimento dos vários sujeitos que moram na bacia do Rio Tapajós.
Sobre o primeiro módulo, Johnson Portela - educador popular e ambiental e militante do Movimento Tapajós Vivo (MTV) - pontua que “esse primeiro módulo de 2023 teve como formação o eixo sociopolítico, que é um debate mais reflexivo sobre a história, sobre a arqueologia, sobre política, sobre economia, mais no sentido de formação sobre a Amazônia e sobre a Bacia do Tapajós”.
Jovens do Alto Tapajós e de Mato Grosso participantes do EMSA 2023/ Foto Tapajós de Fato
Neste ano, a escola conta com a participação de um quantitativo interessante de jovens membros de diversos movimentos sociais, entre eles: Guardiões do Bem Viver, Associação Pariri, Rede Juruena Vivo, Coletivo Audiovisual Wakoburum, Movimento pela soberania popular na mineração - MAM, Tapajós de Fato, entre outros.
Durante os cinco dias de formação foram abordadas várias temáticas. Na quinta-feira, primeiro dia de formação, aconteceu a viagem até o local do encontro e as apresentações dos participantes.
Movimento Tapajós Vivo/ Foto Tapajós de Fato
Na sexta-feira aconteceu o primeiro dia de intervenções, onde na parte da manhã foi realizada uma breve apresentação sobre a EMSA, seus objetivos e sua atuação. Na parte da tarde foi feito uma importante e densa análise de conjuntura levando em consideração os contextos nacionais e regionais que afetam a Bacia do Tapajós e o contexto amazônico.
No sábado pela manhã foi realizada a intervenção com o tema “Navegando pelo rio da vida: Conjuntura da Bacia do Rio Tapajós”. Realizado pela equipe do EMSA, a proposta deste momento foi a construção do mapa da Bacia do Rio - os participantes desenharam o mapa - o que pontuou todos os outros debates. Outros subtemas, também, foram abordados em relação à arqueologia do território em torno da bacia do rio Tapajós e toda a longa história de ocupação desses territórios.
Mapa da Bacia desenhado pelos participantes / Foto Tapajós de Fato
Já na parte da tarde a intervenção ficou a cargo do professor Dr. Raimundo Valdomiro de Sousa, que trouxe como tema a “História Sociopolítica e Econômica da Amazônia”. O professor fez um relato muito importante sobre o contexto histórico da construção social, política e econômica da Amazônia, ao qual reflete, diretamente, na realidade posta nos territórios hoje.
No domingo pela manhã a temática foi mudanças climáticas. O tema foi trabalhado pela facilitadora Mikaela Valentim, coordenadora de campanhas do laboratório de clima da Purpose Brasil. Em conversa com o Tapajós de Fato, Mikaela fala de sua participação nesse módulo da EMSA.
Apresentação de grupo de trabalho / Foto Tapajós de Fato
“O Movimento Tapajós Vivo convidou a Purpose para contribuir com esse módulo do EMSA e a nossa contribuição foi justamente poder compartilhar sobre os processos de mudanças climáticas e também um pouco da nossa expertise, que está relacionada com comunicação de campanhas”.
Mikaela Valentim durante a sua intervenção no EMSA 2023/ Foto Tapajós de Fato
Mikaela também pontua os desafios em se trabalhar essa temática: “em relação a mudanças climáticas, o maior desafio para o EMSA, já que tem público muito diverso, com idades diferentes, com conhecimentos diferentes foi tentar falar de mudanças climáticas de uma forma que fizesse sentido para todo mundo. Desde os aspectos científicos, passando por efeito estufa, aquecimento global, mudança climática, como isso impacta no dia a dia, trazendo alguns dados e informações específicas de projeções climáticas para a bacia do Tapajós. Numa tentativa de contribuir para que os alunos do EMSA tenham acesso a esses dados e possam utilizá-los no seu dia a dia”.
Pela parte da tarde a temática trabalhada foi militância e engajamento. O facilitador foi o Padre Edilberto Sena que, com toda a sua irreverência e experiência, trouxe como tema “Engajamento na luta em defesa do território, porque (re) existir". Um momento de reflexão pessoal, autoconhecimento e aprendizagem.
Momento de apresentação dos participantes/ Foto Tapajós de Fato
A atuação da Escola de Militância é importante e fundamental na formação de lideranças que atuam no território e em defesa da Amazônia. Assim como foi enfatizado durante a aplicação dos conteúdos, nesse módulo, a “Bacia do Tapajós é um território em disputa” (Padre Edilberto Sena). Logo, empoderar a militância através do conhecimento é fundamental para a manutenção das lutas.
Sobre esse momento de estudo e formação, o Jovem Helton Gilvan, morador da região do Arapiuns, participante do Coletivo Jovens Guardiões do Bem Viver, fala sobre sua participação na EMSA de 2023.
Jovens do PAE Lago Grande participantes da EMSA 2023/ Foto Tapajós de Fato
“Foi uma formação muito importante sobre a Bacia do Tapajós, onde a gente aprendeu bastante sobre o território, coisas que com certeza a maioria da galera que estava aqui não sabia. Creio eu que para a maioria de nós que estamos participando, não só os do Guardiões do Bem Viver, o povo Munduruku, o representante do povo Enawene nawe foi uma formação muito valiosa e gratificante [...] Creio eu que daqui todos nós sairemos com uma mensagem né, que é lutar e defender o que é nosso né, ou seja, o nosso território”.
Johnson Portela lembra que a EMSA 2023 ainda terá mais dois módulos que irão abordar o eixo Mobilização/Agitação e o Eixo Comunicação Popular, respectivamente.
As pontuais ações de formação executadas pela Escola de Militância Socioambiental Amazônida consolidam a sua atuação na região e marcam a formação popular.
“Vamos trazer novos agentes políticos, reflexivos, politizados”, finaliza Portela.