Nos dias 23 e 24 de março, aconteceu o 2º Fórum de mulheres do Baixo Amazonas, no município de Terra Santa no Pará, o evento contou com a presença de aproximadamente 500 mulheres da região do Baixo Amazonas, e teve como objetivo principal fortalecer a luta das mulheres, e também discutir a partir das suas vivências o avanço nos direitos fundamentais das mulheres da região.
No dia 23, o evento teve início às 14h, onde foi realizado o credenciamento das delegações de mulheres participantes do Fórum, posteriormente, a promotora de justiça Lilian Braga, deu início ao evento convidando as autoridades locais como a prefeitura de Terra Santa, representantes do Ministério Público, promotores de justiça, presidente da Associação de Mulheres de Terra Santa e outras autoridades para a mesa de abertura.
Foto: Tapajós de Fato / Mesa de abertura
Para a presidente da Associação de Mulheres de Terra Santa (AMTS), Norma Maciel, reunir as mulheres no evento na cidade, foi uma forma de "buscar as lutas juntas, para resolver os problemas de forma coletiva, como os assuntos relacionados ao empoderamento de mulheres na política, a violência contra a mulher e a geração de renda que é um ponto para que a gente possa ajudar sem sair de casa, como uma forma de ajudar a mulher a buscar seu próprio empoderamento".
A promotora de justiça, Lilian Braga, conversou com o Tapajós de Fato e fez um apanhado do que foram os dois dias de Fórum e quais suas perspectivas e expectativas. Para a promotora, "o fórum tem uma importância muito grande, porque ele tem primeiro uma fase de preparação onde se articula com o grupo de mulheres do município onde o fórum vai acontecer”, a promotora acredita que a partir dessa preparação é onde existe a ponte de diálogo com as mulheres do município.
Lillian Braga ressalta também que, realizar o Fórum neste mês de março, que tem no 8 de março grandes movimentações a respeito do empoderamento das mulheres, fortalece a luta para o reconhecimento dos direitos constitucionais e legais e também um novo olhar para essa mulher dentro da sociedade. Ainda de acordo com a promotora, conversar com essas mulheres nesse encontro é importante para ter uma ideia da realidade dentro do tema que estava sendo proposto durante o evento.
A promotora destaca ainda a diversidade das mulheres do evento, vindas em caravanas de vários municípios como Alenquer, Oriximiná, Óbidos, Juruti, Santarém, Mojuí dos Campos, Trombetas, além de convidadas como Laura Cardoso, psicóloga convidada da Bahia e Maria Luiza Nunes, do coletivo Pretas Paridas de Belém.
Foto: Tapajós de Fato/ Abertura do 2º Fórum de Mulheres do Baixo Amazonas - Terra Santa - PA.
Após a mesa com autoridades, as participantes foram divididas em 4 grupos de trabalhos para aprofundar as discussões sobre: autocuidado feminino, geração de renda, violência doméstica e familiar contra a mulher e a rede de proteção, comunicação não-violenta. Onde as mulheres sentiram-se à vontade para expor suas experiências e vivências, a partir do acolhimento dado pelas palestrantes, à exemplo disso foi a mesa de violência doméstica, que teve maior participação das mulheres e o maior número de depoimentos sobre os mais diversos tipos de violência sofridas por serem mulheres, além de apresentarem também suas reivindicações como a criação de mais DEAMs (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) nos municípios do Baixo Amazonas.
O primeiro dia do fórum encerrou-se com a noite cultural, onde as participantes trouxeram músicas autorais, paródias e danças para divertir a noite após um longo dia de debate.
Foto: Tapajós de Fato / Noite cultural Roda de Carimbó
No dia 24, o Fórum iniciou com a mesa de debate sobre a geração de renda para mulheres, com Maria Luiza, quilombola de Salvaterra no Marajó, que conversou com o Tapajós de Fato e explicou um pouco mais da sua experiência no 2º Fórum de Mulheres do Baixo Amazonas. Para Maria Luiza, "é ancestral estar vivendo esse momento do 2º Fórum de Mulheres no Baixo Amazonas, são muitas histórias, muitas sabedorias, muito conhecimento, que juntando faz com que a gente vá lá para nossa memória da infância, memória ancestral. Então, estar aqui e poder compartilhar conhecimentos e saberes, falando da nossa sustentabilidade, do nosso bem viver, a partir daquilo que nós produzimos, é ancestral".
Foto: Tapajós de Fato / Mesa de Geração de Renda com Maria Luiza
Seguindo a programação do segundo dia de debates do Fórum, o evento teve mesas de debates sobre o autocuidado feminino, que contou com a participação de Eveny Pereira do Conselho Regional de Psicologia (CRP).
Em entrevista ao Tapajós de Fato, Eveny Pereira pontuou um pouco da participação do CRP no 2º Fórum de mulheres do Baixo Amazonas, de acordo com a entrevistada “cada mulher pôde falar por fim sobre as suas dificuldade em se priorizar para o autocuidado e uma conclusão que nós chegamos em grupo é que nós mulheres fomos socializadas a cuidarmos dos outros”. Em entrevista a psicóloga também ressalta que foi possível perceber que as mulheres têm dificuldade de ter tempo para atividades básicas como planejar a própria alimentação, caminhar, entre outras atividades básicas. Para Eveny Pereira, essa falta de tempo, acaba gerando nessas mulheres uma sobrecarga emocional e acabam aparecendo quadros como ansiedade e depressão, e o que tem sustentado essas mulheres é a saúde espiritual, seja ela da igreja, ou do quilombo.
Foto: Tapajós de Fato / Mesa sobre Autocuidado
Outra mesa que marcou o encerramento do Fórum, foi a mesa de debate sobre violência doméstica, onde a Promotora de justiça Vyllya Sereni, falou sobre as experiências da rede de atendimento à vítimas de violências.
O Fórum foi marcado também pela entrega da sala amarela em Terra Santa, feita pela prefeitura do município, a sala será um espaço para escuta e acolhimento humanizado de mulheres vítimas de violência física e sexual.
No encerramento do evento, houve o sorteio da cidade que sediará o próximo fórum de mulheres, a cidade sorteada foi Óbidos e a partir deste momento mulheres seguirão em organização para a preparação do 3º Fórum de Mulheres.
Para Lilian Braga, o sentimento de encerramento do fórum é objetivo alcançado, “de comunicar as mulheres, de fazer com que as mulheres se enxerguem, se vejam. De fazer com que as mulheres do Baixo Amazonas dialoguem, então o nosso objetivo foi alcançado mais uma vez que foi dar lugar de fala, desse lugar de pertencimento, esse lugar de é plena liberdade a essas mulheres que estavam conosco.”
Foto: Tapajós de Fato / Mesa de encerramento
