Domingo, 03 de Novembro de 2024
Amazônia Pertencimento

A importância das produções audiovisuais feitas por juventudes do território

Luz, câmera, ação e luta: juventudes ecoam, suas vozes de resistência através de audiovisual, e assim lutam pelos seus territórios.

06/04/2023 às 11h56
Por: Darlon Neres Fonte: Tapajós de Fato
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Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

A Amazônia é conhecida por ser a maior floresta tropical do mundo, nela está localizado quase 60% do território do Brasil e vivem 23 milhões de pessoas. Apesar dos números expressivos, a população das florestas possui representação pequena e/ou estereotipada no imaginário brasileiro.

 

Somos uma diversidade de povos, que vivem em uma Amazônia diversa, com culturas e territórios de lutas e vivências, aqui somos rostos diferentes, mas com um único objetivo, dizer que debaixo da floresta tem gente.

 

E para comunicar essa mensagem, diversas formas são utilizadas, como por exemplo através da produção audiovisual. Uma narrativa audiovisual é o conjunto de técnicas cinematográficas que criam toda a história, ambientação e clima de um filme utilizando imagens, cores, sons e efeitos visuais.

 

Todas as produções feitas por pessoas da Amazônia abordam temáticas que valorizam os seus territórios, exaltando as belezas naturais, as mobilizações locais e as boas práticas realizadas, como o reflorestamento e o turismo de base comunitária, contrapondo narrativas hegemônicas depreciativas a partir do protagonismo e emancipação da juventude por meio do audiovisual.

E a juventude tem um papel importante nessas narrativas, pois ela está cada vez mais nesses espaços, para mostrar suas narrativas, suas comunidades e aldeias, em narrativas que contam os desafios nas comunidades a luta por território, a invasão das florestas, a contaminação dos rios, e o enfrentamento a tantos projetos de destruição que estão postos para a Amazônia e seus povos.

 

Jovem do Coletivo de audiovisual Wakoborum / Foto: Cleu Munduruku

 

Quem tem feito suas próprias narrativas é o coletivo  de audiovisual Wakoborum, feito por jovens do povo Munduruku do Alto Tapajós. O coletivo divulga as denúncias dos indígenas para além das margens do rio Tapajós, o vídeo é uma ferramenta muito importante, que fortalece a luta do povo Munduruku.

 

O Tapajós de Fato conversou  Cleuniza Kaba Munduruku,  que mora na aldeia Puy Dinebi do povo Munduruku do Alto Tapajós.

 

“Nós jovens hoje em dia usamos ferramentas de audiovisual e redes sociais tanto internas quanto externas para mostrar a história e a luta do nosso povo”.

 

Em gravação de entrevistas / Foto: Coletivo Wakoborum

 

A jovem diz porque é importante eles falarem de suas histórias e culturas, não outras pessoas.

 

“Por que nós entendemos que muitos pariwat(Branco) vem pro nosso território registrar e levam longe as nossas imagens e não deixam o nosso registro com o próprio povo. E nem todas as informações que acontecem eles contam para fora do território. Por isso que hoje em dia nós jovens fazemos parte de comunicação para contar e fortalecer a luta do nosso povo através do audiovisual”.

 

Jovem Cleu Munduruku / Foto: Arquivo pessoal

 

Sobre o que a juventude espera do material que eles mesmo produzem para narrar suas vivências, Cleu Munduruku comenta.

 

“O coletivo Wakoborun está produzindo documentário sobre o impacto do garimpo na TI Munduruku, a gente quer mostrar a realidade do povo e a cultura também. Espero que nosso documentário seja realizado com sucesso. Sawee!”.

 

Jean Silva do Coletivo Guardiões do Bem Viver, relata sobre o que o audiovisual representa para ele. “O audiovisual pra mim é mostrar a realidade das nossas comunidades, nossa produção, nossos modos de vida, porque falar de audiovisual é mostrar de fato o que nós vivemos”.

Jovens dos Guardiões gravado / Foto: Guardiões do Bem Viver

 

Estabelecido em 2005, o Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande tem uma extensão de 250 mil hectares, e atende a uma demanda das comunidades das regiões do Arapiuns, Arapixuna e Lago Grande.

 

Juntas, compõem toda a gleba Lago Grande, localizado em uma região de lagos entre os rios Tapajós, Amazonas e Arapiuns, no oeste do Pará, segundo a Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (Feagle).

 

Organizados em 154 comunidades, habitam o assentamento aproximadamente 35 mil pessoas que vivem do agroextrativismo.

A área, rica na sua sociobiodiversidade, vem sendo assediada pela mineradora Alcoa World Alumina do Brasil, que já atua no município de Juruti, vizinho ao assentamento, e pretende expandir seu empreendimento de exploração de bauxita para o território do Lago Grande. Foram anos de luta para garantir a permanência na terra das famílias agroextrativistas, mas a regularização das terras do PAE Lago Grande ainda não está completa.

 

Em 2005, momento em que aumentavam os interesses econômicos sobre as terras da gleba, os plantadores de soja já haviam se instalado em todo o planalto de Santarém e buscavam novas áreas para se expandir, a mineradora Alcoa estava instalando seu projeto de extração de bauxita em Juruti e as madeireiras começavam a invadir terras para extrair madeira ilegalmente no Alto Lago Grande.

 

Preparação de roteiro para iniciar a gravação / Foto: Guardiões do Bem Viver

 

Para o jovem Jean Silva, narrar através de vídeos e documentários é importante, imagens ajudam a defender o território onde vive. “Nós juventude, usamos nossos celulares para gravar vídeos, de curta e longa metragem e também tiramos fotos mostrando as histórias dos encantados, nossas belezas naturais, nossas produções, e também as ameaças que sofremos, nós nos organizamos nas redes sociais através do uso do Instagram, Facebook, mostrando as ações que fazemos  defesa do território”, comenta o Guardião.

 

Tanto Cleu quanto Jean são exemplos do quanto a juventude tem se movimentado em prol dos seus territórios, e ambos têm em comum a utilização do audiovisual como ferramenta de luta. Mas para além disso, eles mostram o quanto é importante a Amazônia ser contada ou reportada por aqueles que pertencem a ela, afinal não existem pessoas melhores para narrarem suas realidades senão aquelas que do território são filhas.

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