Terça, 08 de Outubro de 2024
Educação Homenagem

Casa Familiar Rural de Santarém completa 26 anos de luta e resistência pela educação no campo

A Casa Familiar Rural é essencial para o desenvolvimento da agricultura familiar e de base agroecológica.

26/04/2023 às 15h23 Atualizada em 26/04/2023 às 18h13
Por: Darlon Neres Fonte: Tapajós de Fato
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Foto arquivo pessoal
Foto arquivo pessoal

As Casas Familiares Rurais (CFRs) tiveram origem na França, na década de 1930, por iniciativa de um grupo de famílias camponesas interessadas na formação profissional aliada à educação humana, para seus filhos. Hoje, essa forma diferenciada de ensino está disseminada nos quatro cantos do planeta, sendo que a Casas Familiares Rurais chegaram no Brasil, por Pernambuco, em 1968 e ao sul do país, no município de Barracão, estado do Paraná, em 1989, hoje com forte aceitação no Pará e no Brasil.

 

Em  Santarém, a Casa Familiar Rural foi fundada em  26 de abril de 1999 com objetivo de trabalhar com jovens do campo ou qualquer pessoa adulta que não teve acesso à educação. A metodologia empregada é a “Pedagogia da Alternância”, que visa proporcionar aos educandos a oportunidade de analisar e participar da realidade em que vivem, buscando a sua transformação, através de cursos do Ensino Médio, integrado aos Cursos Técnicos em Agropecuária, Agroecologia, Zootecnia, entre outros.

 

Nessa modalidade de ensino, os jovens passam duas semanas na sua propriedade convivendo com a família, com a comunidade e aplicando na prática os conhecimentos adquiridos, e uma semana na Casa Familiar, adquirindo novos conhecimentos para a vida profissional e para a sua formação geral. Este método permite que os jovens discutam a realidade com a família e com os monitores, em relação a aplicação de novas técnicas. Esta discussão provoca reflexões e novas formas de pensar e agir na propriedade e na comunidade visando melhor produtividade.

 

Alunos da Casa Familiar Rural de santarém/ Foto: Marilene Rocha

 

A Casa Familiar Rural de Santarém está localizada entre as comunidades de São Braz e Santa Maria e sobrevive com recursos de projetos criados por organizações e pelo apoio do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Agricultores e Agricultoras Rurais de Santarém, além das mensalidades dos alunos. O que tem dificultado muito o trabalho dessas casas é a falta de parceria com o governo, apesar de muitas promessas feitas, várias casas fecharam e outras estão ameaçando fechar, por causa da falta de ajuda tanto do município quanto do Estado que fecham os olhos para as pessoas do campo, que muitas vezes são vistas como se não fossem prioridades em seus governos.

 

O Tapajós de Fato conversou com Marilene Rodrigues Rocha, atual vice-presidente da Tapajoara e também ex-diretora da Casa Familiar Rural de Santarém.

 

Marilene Rodrigues Rocha coordenou a casa familiar rural por dois mandatos, no período de 2014 a 2019, e relata algumas conquistas para a escola: “no nosso mandato a gente também conseguiu trazer várias parcerias e captamos também recurso para que a escola pudesse ter o seu próprio espaço, ter sua própria estrutura. Também conseguimos trazer jovens  para que nós formássemos na área de técnicos agropecuários; conseguimos no período também fazer a formação, a formatura  de de três turmas. Isso pra nós foi muito gratificante nesse período que a gente passou pela Casa Familiar Rural”. 

 

Marilene Rocha/ Foto: Arquivo Pessoal



Sobre os valores éticos e morais da Casa familiar rural Marilene comenta que, “os valores que a gente se sente é trazer a juventude para que ele possa ser esse jovem transformador na área agrícola, que ele possa retornar  com uma experiência inovadora pra casa dos seus pais, dos seus familiares e levar o exemplo.Vários jovens que já passaram pela Casa Familiar Rural, está dando certo no seu próprio espaço de trabalho no seu próprio território, isso pra nós é muito gratificante ter um jovem e ouvir quando ele fala que ele passou pela casa familiar rural”.

 

Marilene Rocha compartilha da alegria de hoje um jovem, ex-aluno ser o presidente da Casa Familiar Rural de Santarém e suas expectativas para a direção atual.

 

“O que eu espero que a casa familiar rural seja nesse novo mandato com o jovem na direção é um fortalecimento da educação do campo.  Sinto-me muito honrada de ter um jovem egresso da Casa Familiar Rural, como o novo presidente da casa. Eu espero que ele faça um bom trabalho e com certeza nós que passamos pela Casa Familiar Rural a gente possa estar dando todo esse suporte que ele precise para continuar a escola por muitos anos pela frente”.

 

Formatura da Turma de técnico em agropecuária 2009/ Foto: Marilene Rocha

 

O Tapajós de Fato conversou, também, com o atual presidente da Casa Familiar Rural de Santarém, Elias Rego, o mesmo relata como foi ser aluno da Casa Familiar Rural e agora atual presidente da casa.

 

“Foi muito bom ser aluno da casa familiar, é um estudo diferenciado a nossa pedagogia da alternância. É um estudo muito diferente do tradicional, então como aluno  nós temos a facilidade de absorver muito conteúdo, apesar de na escola convencional a gente tem também, mas não é com tanta facilidade, né? E dentro da Casa Familiar Rural a gente tem essa facilidade pro aluno absorver o conhecimento, se ele tiver com dificuldade”.

 

Elias Rego fala das expectativas como presidente da Casa Familiar Rural: “Creio que essa diretoria agora, nova, vai fluir muitas coisas, vai quebrar muitas barreiras porque temos vários parceiros como o STTR, a Ufopa, a Fase, Fundo Dema e um que está em ativa com a gente e com certeza virá mais organizações e pessoas para junto de nós, para nos fortalecer”.



Alunos da casa Familiar rural em visita de campo/ Foto: Marilene Rocha



São tantos desafios, um deles é pagar os monitores, alimentação,  e até mesmo a certificação após a conclusão dos cursos, mas tanto para Marilene e Elias, um objetivo comum, é que os governos apoiassem a Escola Casa Familiar Rural de Santarém.

 

Muitos jovens hoje, por terem estudado na CFR, tiveram oportunidade de emprego em outras cidades, conseguiram vagas na universidade, conseguiram montar seu próprio negócio, conseguiram acima de tudo mudar suas vidas e consequentemente de suas famílias e comunidades. E o governo sabendo de uma instituição que em vez de encorajar o ribeirinho e a ribeirinha, o indígena e a indígena, o quilombola e a quilombola, o jovem e a jovem rural, essa instituição incentiva e cria grandes empreendedores e empreendedoras, deveria abrir as portas e não fechar como eles vêm fazendo nos últimos anos.

 

São 24 anos de conquistas para o fortalecimento da educação no campo, formando cidadãos para atuar com práticas de produção, fortalecendo o território e os povos amazônicos.

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