A comunicação popular representa uma forma alternativa de comunicação, logo, ela não se caracteriza como um tipo qualquer de mídia, mas como um processo de comunicação que emerge da ação dos grupos populares. Nesse sentido, a juventude amazônica, inserida no contexto de resistência e de enfrentamento se apropria cada vez mais dessa ferramenta.
Um exemplo disso é o que vem acontecendo no ATL 2023, onde a juventude, principalmente indígena, vem se empoderando e atuando na cobertura do maior acampamento indígena do mundo.
E sobre a atuação dos comunicadores populares e a importância da juventude nesse espaço, o Tapajós de Fato conversou com a equipe de comunicadores populares do Conselho Indígena Tupinambá do baixo Tapajós e com a equipe de comunicadores populares do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns - CITA.
A juventude Comunicadora Popular do Tapajós
Ádria Fernandes, jovem indígena do povo Tupinambá, moradora da aldeia Muratuba, e atual coordenadora de comunicação do Conselho Indigena Tupinambá, do baixo Tapajós, enfatiza, em sua fala, a importância da comunicação popular para os territórios. Segundo ela é fundamental comunicar e “poder falar do nosso jeito e pro nosso povo, de uma forma que eles entendam, de maneira acessível, comunicando nossas questões: conflitos e tudo que tá acontecendo dentro do nosso território”.
Na atualidade, em quase todas as organizações organizadas em defesa da floresta e dos territórios na Amazônia, a comunicação popular, feita pelos agentes inseridos nesta realidade, são compostas massivamente pela juventude. Essa juventude entende a importância da comunicação como ferramenta de luta e resistência, logo, se colocam como agentes dessa transformação.
Ádria Fernandes, comunicadora popular, na cobertura do ATL 2023/ Foto Tapajós de Fato
Ádria comenta sobre como e para que a comunicação é utilizada na sua organização e no seu território: “a gente tem utilizado [a comunicação popular] pra denunciar as ameaças dentro do nosso território e também para divulgar as ações que estão sendo feitas para combater essas ameaças”. Logo, comunicar é um mecanismo de luta e defesa.
Nesse mesmo sentido, Douglas Cavalcante (popularmente conhecido como DG do Tapajós), jovem da etnia Munduruku Cara Preta, que faz parte da equipe que gerencia o setor de comunicação do Conselho Indigena Tapajós Arapiuns - CITA, enfatiza que “a partir do momento que os povos indígenas começaram a utilizar a ferramenta [comunicação popular] a seu favor, como ferramenta de luta, tudo mudou” [...] porque “comunicação é tudo hoje em dia”.
Douglas também faz um paralelo histórico sobre a situação das populações do baixo tapajós e pontua que “o CITA era um antes da comunicação e depois da comunicação é outro”. Ele explica que todos os povos e territórios que compõem o CITA são mapeados, e possuem comunicadores, e quando há a necessidade de fazer uma denúncia “eles enviam pra gente [setor de comunicação do CITA] e a gente sobe [posta]”. Assim a comunicação entre os vários territórios indígenas que compõem a região é feita em “rede”, de forma articulada. E isso só beneficia a luta.
Para Douglas a comunicação popular, enquanto ferramenta de luta serve para "denúncias, para mostrar a resistência e a luta, a realidade indigena”. Adria, assim como Douglas, explica que a comunicação dentro do Conselho do Povo Tupinambá é feita de forma a interligar o que acontece nas várias aldeias que compõem a organização. Ambos, Ádria e Douglas, pontuam que essa comunicação é feita, de forma massiva, pela juventude desses territórios e que isso vem empoderando esses agentes e modificando a luta, de forma que as redes sociais e a internet, tem se tornado ferramenta de combate, enfrentamento e resistência.
A história está sendo contada, em tempo real, pelos povos da floresta.
Cobertura do ATL 2023
Dg do tapajós, Comunicador popular, na cobertura do ATL 2023/ Foto Tapajós de Fato
Essa mesma juventude é que está em Brasília, realizando a cobertura do ATL. Esse evento grandioso. E que de forma brilhante, vem mostrando que os comunicadores populares das diversas organizações do baixo Tapajós estão mais que prontos.
Ádria explica que o Conselho Indigena Tupinambá está com uma equipe de jovens fazendo a cobertura do ATL e pontua “isso é uma coisa legal, porque as lideranças depositaram confiança na gente”. No grupo, segundo ela, cada um é responsável por uma atividade: “umas pessoas ficam com a parte de live, outras com a parte de vídeo, outras com o audiovisual, então assim a gente vai produzindo os conteúdos e soltando no instagram”. A comunicadora popular explica que, atualmente, a equipe está utilizando só o instagram, mas futuramente a comunicação do conselho pensa em outros meios [plataformas] para comunicar.
Sobre a participação dos jovens do CITA no ATL, DG do Tapajós fala da emoção que é participar desse evento. Ele afirma que “todo jovem indígena deveria passar por essa experiência". Ele enfatiza ainda que a equipe se organizou para realizar a cobertura e que “a gente está aqui para cobrir exatamente as agendas das nossas lideranças", mas sem deixar de cobrir o que está acontecendo na tenda principal.
A cobertura se baseia basicamente em lives e materiais para redes sociais, durante o evento, mas também está sendo produzido material para ser construído um minidocumentário, posteriormente, sobre o que é o ATL. “Nós vamos mostrar o que é o ATL [...] a gente vai mostrar a realidade do que é um ATL, tipo, questões de banheiros, logística. O quê que é tá aqui dentro, como é a logística para chegar aqui, a gente vai mostrar a vivência: chegar aqui, viver o ATL e voltar”, relata Douglas.
A equipe do CITA na cobertura do evento é composta por seis jovens e a equipe do Conselho Indígena Tupinambá por dez jovens.
Ádria pontua que a equipe vem recebendo vários elogios sobre a primeira atuação desses jovens comunicadores, em um evento tão grande. E que para ela tem sido uma experiência incrível. Assim, também, DG do tapajós de expressa sobre a participação da juventude do CITA.
É a juventude do baixo Tapajós fazendo história e contando a sua história, com propriedade, com lugar de fala. É o poder da comunicação e das mídias sociais em envolver e empoderar uma juventude aguerrida e de luta.
Como diz o Slogan da luta indígena “Nunca mais um Brasil sem nós”.