A questão da geração de energia na Amazônia sempre foi um problema por conta de nunca ser discutida com quem sofre os impactos mais diretos, às populações tradicionais (quilombolas, ribeirinhos, indígenas, pescadores, e outros). A hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, região do Xingu, no Pará, que hoje opera abaixo da capacidade projetada pelos estudos do Governo Federal, exemplifica a dimensão da destruição social e ambiental que se tem.
Outra deficiência da questão de geração de energia na Amazônia é que boa parte é transmitida para o eixo sul do país, para suprir a demanda de lá. Enquanto isso, comunidades, que não necessariamente são remotas, não possuem energia elétrica, mas sentem os impactos dos barramentos dos rios. Para se ter uma ideia, o estado do Pará é responsável por produzir 11% de toda a energia elétrica produzida no país, dizem os dados da Agência Pará. Mas nem todos os paraenses possuem um bico de luz e uma tomada, pelo menos, em suas casas.
Para discutir sobre a problemática, organizações como: Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) , Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Conaq, Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará e a Rede de Energias e Comunidades, promovem um encontro em Belém para discutir sobre planejamento energético e políticas públicas de acesso a energia como um direito das pessoas que moram nos estados menos atendidos.
Participaram do encontro mais de 300 representantes de organizações e territórios de todos os estados da Amazônia, além de gestores públicos e representantes de órgãos do governo federal.
O Tapajós de Fato esteve presente no encontro e ouviu alguns participantes que trazem breves relatos sobre a temática e seus territórios. Eurídice Dutra, moradora da Reserva Verde Para Sempre, no município de Porto de Moz, Pará, conta que a expectativa, com o evento, é de que “melhore o território na parte da energia”. Ela diz ainda que o debate “foi bastante proveitoso”, ela acredita que se o que foi discutido no evento for realmente colocado em prática, vai ser bom para a população. “A expectativa é que a gente tenha energia de qualidade”.
A realidade do Tapajós
A Bacia do rio Tapajós é alvo da ganância do governo federal e da iniciativa privada para a geração de energia elétrica. Muitos territórios ao longo da bacia não possuem energia elétrica, como é a realidade de comunidades e aldeias da Reserva Extrativista Tapajós - Arapiuns e do Assentamento Agroextrativista Pae Lago Grande.
Ricardo Aires, morador do PAE Lago Grande e membro da diretoria da Federação do assentamento participa do encontro e fala da importância dos debates. “Primeiramente é um encontro muito potente. Discutir essas questões de energia e comunidade principalmente na Amazônia é algo que é muito complexo primeiro olhando a realidade da nossa geografia amazônica e as características que não é a mesma característica apesar de todo mundo tá na Amazônia são características diferente”, comentou.
As contribuições feitas pelos participantes durante o encontro têm aumentado as expectativas para retornos positivos aos territórios. “Então esperamos que esses documentos que estamos criando aqui neste encontro possam de fato auxiliar as políticas públicas de governo para que cheguem ao nosso território da melhor forma possível, e não destruam nossos modos de vida".
Outro ponto destacado é o interesse do novo governo em ouvir a população: “de certa forma se comprometem através da escuta a levar essas recomendações, esses pedidos, esses desejos, esses anseios que aqui foram trazidos. A gente acha e espera muito que além da escuta, tenha uma sensibilização maior no tratamento na hora de fazer as políticas públicas, elaborar os os projetos para depois se transformarem em grandes ações do governo que vão chegar até as nossas comunidades e populações”, finalizou.
A vice-presidente da Tapajoara, organização gestora da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, Marilene Rocha, falou ao TdF sobre a participação no encontro. Visto que a maior parte das comunidades e aldeias da Resex não possuem energia elétrica. “Para nós, como direção da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns é muito bom porque a gente teve a oportunidade de trazer às organizações representadas pelos povos das áreas mais distante como os indígenas os quilombolas e nós povos tradicionais, extrativista que conseguimos colocar toda as nossas insatisfação”, comenta.
Marilene é liderança mas não foi só, levou consigo lideranças jovens do território para contribuírem nos documentos criados no evento. Sobre esse ponto, ela diz o seguinte: “os jovens que vieram participar foi muito bacana …eu acredito que nós vamos ter uma resposta mais urgente porque nós colocamos toda a nossa insatisfação com o governo passado e tenho certeza que esse governo também não, eu sei que não é fácil mas vai ter que ouvir a nossa reivindicação”, finalizou.
A Amazônia possui, também, o potencial para a energia solar, uma maneira que gera menos impacto aos territórios, podendo ser feito de forma descentralizada, tornando os tetos das casas locais de produção de energia através de painéis solares. O que dificulta é o alto custo para a instalação de tal sistema e a dificuldade de acesso a créditos para o trabalhador e trabalhadora que viabilize este tipo de iniciativa.