O termo ecofeminismo ainda é pouco conhecido pela população em geral, ele é uma vertente do movimento feminista que busca igualdade de gênero, de oportunidades e direitos juntamente com a defesa e preservação da natureza.
A ideia do ecofeminismo surgiu na década de 70 a partir da obra Féminism ou la mort ("Feminismo ou morte: como o movimento feminino pode salvar o planeta", em tradução livre), escrito por Françoise d'Euabonne, que utilizou o termo pela primeira vez.
Em seu livro ela ilustra como a luta por um mundo mais sustentável está diretamente ligada na busca dos direitos das mulheres. Françoise defendia o controle da natalidade, para ela a superpopulação era um risco para o meio ambiente além de ser um segmento do patriarcado, porque os homens controlavam o corpo das mulheres. Após essa obra surgiram diversos segmentos sobre este mesmo tema.
O ecofeminismo nos apresenta formas de ter uma sociedade igualitária de direitos e ao mesmo tempo sustentável. Mesmo sem saber, diversas mulheres praticam o ecofeminismo, e a região do Tapajós é um grande exemplo disso.
Keyse Oliveira, secretária da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Santarém, em entrevista ao Tapajós de Fato, conversou sobre o ecofeminismo aqui no Tapajós.
"O ecofeminismo é um termo relativamente novo nas bases, mas a prática já é realizada por aqui de forma orgânica há muito tempo. Através de ações locais em suas comunidades, na agricultura familiar, como lideranças regionais, como mantenedoras de suas famílias, as nossas produtoras rurais praticam o feminismo e lutam pela defesa do meio ambiente que é basicamente o que define esse novo conceito politico".
Keyse Oliveira /Foto reprodução da internet
O movimento busca a valorização da mulher, lutando por sua autonomia em equilíbrio com a natureza, respeitando todas as formas de vida.
"De forma geral, nossas mulheres têm a prática que é inerente a elas, mas essa narrativa e até o tempo para refletir de forma crítica a respeito disso é quase inexistente, a tentativa de organização em suas bases comunitárias é o que torna essa discussão possível, uma vez que a educação climática por outros meios não chega até as bases", explica Keyse.
Keyse também pontua o porquê dessa "desinformação" sobre temas como esses nos campos.
"Costumo ver de forma elitista as narrativas climáticas, uma vez que a nossa população luta ainda pelo básico, que é comida na mesa. Então muito raramente vamos ver a dona Rivonete lá do Ituqui falar desses termos, pois eles não são popularizados, eles sequer são mencionados no ensino básico e isso é um problema", ela destaca.
Mesmo essas mulheres tendo a prática, a discussão do ecofeminismo fica a cargo da elite, esta política é um retrato de um país subdesenvolvido onde a população rural ainda luta para ter acesso a direitos básicos.
Ana Bernal, colunista de "VOCÊ RH" escreveu sobre a importância da participação e conhecimento das mulheres, principalmente as que estão no campo sobre ecofeminismo, "é de suma importância entendermos que fatores socioeconômicos, biológicos e climáticos afetam, na maioria das vezes, muito mais as mulheres do que homens. Isso se confirma em dados registrados pela ONU que revelam que 80% das pessoas que precisam abandonar seus lares para se refugiar em outros locais em decorrência das mudanças climáticas são mulheres".
Este movimento é essencial porque além de empoderar as mulheres, ele também luta pela preservação delas e da natureza, um bem comum de todos, principalmente para a região do Tapajós, onde as pautas das mulheres e do meio ambiente atualmente estão tendo mais destaques. A conscientização sobre esse movimento e a inserção dele nos debates dos movimentos sociais de Santarém irá fortalecer ainda mais a luta que já vem sendo feita.