Segunda, 07 de Outubro de 2024
Empate Avanços

Últimas ações para punir casos de racismo contra indígenas do Baixo Tapajós são um marco para a luta seguir avançando

Decisões que devem servir de lição para combater discursos de ódio contra povos indígenas não só do Baixo Tapajós, mas no país como um todo.

28/07/2023 às 13h10 Atualizada em 28/07/2023 às 13h24
Por: Tapajós de Fato Fonte: CITA
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Ascom Cita
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Nos últimos dias decisões importantes, no que diz respeito ao combate ao racismo na cidade de Santarém, foram tomadas. Ambos os casos mostram que o discurso de ódio segue violentando, subalternizando e negando espaços para os povos indígenas.

 

A primeira decisão aconteceu no dia 25 de julho de 2023, com a demissão de Manoel Bentes dos Santos Filhos, até então servidor da Universidade Federal do Oeste do Pará. A demissão foi fruto de muita indignação do movimento indígena que não aceitaria que um funcionário que cometeu o crime de racismo contra uma das alunas indígenas no dia 27 de setembro de 2022, dentro da sala de aula, continuasse no quadro de profissionais da universidade.

 

No momento da denúncia, a parenta vítima do crime relatou: "o mesmo desferiu palavras ofensivas se referindo a minha etnia, pois sou indígena do povo Arapiun. Desmerecendo as nossas lutas e tudo que defendemos. Palavras como 'os índios daqui são usados pelas ONGs pra atrair dinheiro pra Amazônia', me disse que é só pegar dois pretos e dois índios e levar para as ruas para fazer manifestação. Fora outras coisas desnecessárias que ele falou. Usou palavras para se referir às pessoas do Arapiuns (região) em tom de desprezo como 'xexelentos, cabeludos.'"

 

Após a notícia da situação, o movimento indígena da universidade e da região se mobilizaram e foram até a universidade cobrar respostas. A exoneração de Manoel Bentes deve ser usada como exemplo para todos aqueles e aquelas que transmitem em seus discursos palavras de ódio contra os povos indígenas e os fazem acreditar que o espaço da academia não foi feito para eles.

 

Arliene Arapiun, vítima do crime de racismo na Ufopa declara: "a sensação do fim, posso afirmar que é um alívio. Foram muitos dias sofridos esperando pelo fim, crises de ansiedade, crises de pânico. Foram inúmeras tentativas de voltar a sala de aula, reprovei em um semestre inteiro, mas hoje acabou e eu posso ter um pouco de tranquilidade sabendo que foi feito algo".

 

Paralelo a esse caso, no dia 27 de julho de 2023, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia à Justiça Federal contra o advogado William Martins, pelo também crime de racismo contra indígenas em uma churrascaria. O crime aconteceu em agosto de 2022 em um restaurante onde lideranças almoçaram após um encontro promovido pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) em parceria com a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). 

 

No episódio, William Martins proferiu palavras de ódio contra os indígenas que ali estavam, como "índio não gosta de trabalhar". Um evidente caso de racismo.

 

A decisão do MPF de fazer a denúncia à Justiça Federal contra William Martins também demonstra um significativo passo na construção de uma luta de combate ao racismo pelo movimento indígena.

 

"Foi muito constrangedor pra gente como indígena se deparar com uma situação daquela, bem na hora do almoço, onde estava algumas lideranças indígenas", diz Marquinho Karajá, presidente da Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins e uma das vítimas do crime de racismo no restaurante em Santarém.

 

Infelizmente esses dois casos ainda demonstram o quão a cidade de Santarém também foi foco da proliferação de discurso de ódio massivo, deliberado e incentivado nos últimos 4 anos. Sanções como essas devem ser levadas como exemplo para que crimes como esses não venham a ser incentivados e normalizados. 

 

"Nenhum ser humano deve ser tratado da forma que nós fomos tratados pelo advogado", pontuou Marquinho Karajá.

 

Se o discurso de ódio aos povos indígenas continua deliberadamente acontecendo, a luta e organização do movimento indígena do Baixo Tapajós também conseguem dar respostas a altura de crimes como esses precisam.

 

Ocupar os espaços, seja na universidade, seja na cidade, também é uma forma de dizer que os povos indígenas seguem invertendo a lógica de colonização que a história impôs.

 

Esse texto foi produzido por Alexandre Arapiun - Comunicador do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns / Uma parceria do TdF com o CITA

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