Aconteceu na sexta feira (4), na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Agricultores e Agricultoras Rurais de Santarém (STTR), o Encontro dos Movimentos Sociais de Santarém na luta contra os agrotóxicos e na defesa da agroecologia, organizado pela Fase Amazônia, STTR de Santarém, STTR de Mojuí dos Campos, Terra de Direitos, Instituto de Saúde Coletiva (UFOPA) e pelo Núcleo de Agroecologia e Bem Viver na Amazônia Muiraquitã, em articulação com a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
O encontro objetiva criar espaços de diálogo, de construção de estratégias e de articulação dos movimentos sociais da região metropolitana de Santarém no enfrentamento aos danos socioambientais e para a saúde humana causados pelos agrotóxicos, anunciando a agroecologia como estratégia de resistência das comunidades e de povos tradicionais.
Samys Vieira, educador popular pelo Programa Regional Fase Amazônia, relata que o encontro “é um evento organizado pela Fase em parceria com o STTR de Santarém, com o STTR de Mojuí dos Campos, com a Terra de Direitos, com o Instituto de Saúde Coletiva da Ufopa e também com o Grupo de Agroecologia Bem Viver na Amazônia também da Ufopa, e o objetivo principal deste evento é criar um espaço de diálogo, mas ao mesmo tempo ser um espaço de articulação e de construção de estratégia em torno desse debate dos agrotóxicos aqui na região metropolitana de Santarém”. Além dessas instituições, estiveram presentes no encontro representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Associação AMABELA, Flores do Campos, AMTR, Projeto Odisseia, Conselho Indígena Munduruku do Planalto, Associação de moradores da Pérola do Maicá, Comissão Pastoral dos Pescadores, Associação de Produtores Rurais de Santarém, Tapajoara, Fase, Feagle e o Coletivo Guardiões do Bem Viver.
Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida
O encontro pautava a produção agroecológica / Foto: Tapajós de Fato
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida é composta por uma rede de organizações, movimentos sociais do campo e da cidade, organizações sindicais e estudantis, entidades científicas de ensino e pesquisa, conselhos profissionais, ONGs, grupos de consumo responsável. O principal objetivo é denunciar os efeitos dos agrotóxicos e do agronegócio, além de apontar a agroecologia como caminho para um desenvolvimento justo e saudável da sociedade.
Jaqueline Pivato, membro da Secretaria Nacional da Campanha, em conversa com o Tapajós de Fato sobre a campanha e também sobre esse encontro com as lideranças e representações de entidades locais da região, explicitou a necessidade e a importância dessa ação: “A campanha vai completar doze anos de trajetória em todo o território nacional e, hoje, a gente entende a campanha como uma importante rede de articulação entre as diversas organizações e movimentos sociais do campo, entidades de pesquisa, universidades, grupos que se ligam e se organizam nesta pauta, tanto da agroecologia como na pauta ambiental, né? … na construção desses territórios de resistência e da luta contra o agronegócio e contra o agrotóxico. A Campanha tem uma importância para esse processo junto aos e às organizações que a constroem, porque talvez no território nacional ela seja uma das principais ferramentas que conseguem fazer essa amplitude diversa de sujeitos coletivos. Assim, na unidade e na construção de elementos que vão fortalecendo nossos argumentos e a construção de processo de resistência e de denúncia ao agrotóxico, ao modelo do agronegócio como um todo, né? Mas tendo o agrotóxico como a chave desse debate e também que consegue dinamizar as linguagens de trabalhar essa temática com a sociedade”.
Jaqueline Pivato (na mesa), que faz parte da Secretaria Nacional da Campanha / Foto: Tapajós de Fato
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, de acordo com a apresentação disponível em seu site oficial, tem a perspectiva de consolidar uma rede em torno da luta unitária contra os impactos severos que os agrotóxicos causam na saúde humana e no meio ambiente. Ao mesmo tempo, em que se busca explicitar as contradições e os malefícios gerados pelo agronegócio, também se apresenta a agroecologia como modelo de agricultura viável e capaz de cultivar alimentos e vida saudável.
“Ela [a campanha] hoje está estruturada num amplo cenário nacional com influência, né? Nos campos de incidência, a gente consegue fazer uma boa articulação junto às políticas públicas e o acompanhamento do debate do processo de legislação, de acompanhar a construção de programas e de fortalecer as políticas públicas para o âmbito da agroecologia. A gente consegue também, os grupos de pesquisa junto às universidades, fazer em parceria com os movimentos sociais nas bases e nos territórios, processos formativos, instrumentalizando e dialogando com a sociedade sobre as mais diversas formas de se resistir ao avanço do agronegócio, né? E de enfrentar e denunciar o modelo a partir do agrotóxico”, pontua Jaqueline sobre os avanços a partir da Campanha ao longo desses quase 12 anos.
O encontro em Santarém
A programação em Santarém iniciou às 9h, com uma apresentação de cunho místico, realizada pelos jovens do Coletivo Guardiões do Bem Viver. Em seguida, foi feita uma análise de conjuntura, um importante momento de repasse de informações sobre as mudanças em relação à flexibilização quanto ao consumo e a aquisição de agrotóxicos no Brasil, bem como, uma explanação sobre as ações do governo em relação à temática. Tais ações, são assunto pautado pela bancada do agronegócio na Câmara e no Senado.
Lideranças que participaram do encontro / Foto: Tapajós de Fato
À tarde, foram feitos grupos de estudos para se debater vários aspectos relacionados, não somente, aos impactos do uso de agrotóxicos na produção de alimentos, mas também, aos impactos na saúde, na produção de cosméticos, de roupas, de medicamentos, uma vez que o veneno está em todas as dimensões da cadeia produtiva na natureza, pois ele está no ar, na água e no solo.
Sobre a participação e atuação da Universidade Federal do Oeste do Pará no encontro, contou-se com a articulação da docente Helionara da Silva Alves, do Instituto de Biodiversidade e Florestas. “Aqui, nós estamos representando o Núcleo de Estudos em Agroecologia, o NEIA Muiraquitã. Então, é a partir desse núcleo que nós somos convidados pra poder participar desse processo de construção, que aqui não é só uma questão da campanha em si, né? Mas, vai ser todo um processo formativo que vai ser construído aí, por um longo prazo, de mais ou menos um ano e meio. A Ufopa vai estar nesse processo de construção desse caminhar educativo com relação às problemáticas devido ao uso de agrotóxicos, as denúncias que devem ser feitas, como devem ser conduzidas essas denúncias, os mecanismos legais relacionados ao combate ao uso dos agrotóxicos, os passos jurídicos”, pontuou a professora.
O encontro debateu agroecologia e o combate ao uso de agrotóxicos / Foto: Tapajós de Fato
A partir desse encontro, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida retoma as suas atividades na região do Baixo Tapajós e, em específico, na região metropolitana de Santarém. A importância da retomada das ações da campanha, de forma mais efetiva na região, não só para articular o combate ao uso de agrotóxicos, mas também para preparar os produtores das comunidades a produzir sem veneno, a levar conhecimento, assistência técnica, formação e incentivá-los à prática da agroecologia.
Nesse contexto, uma liderança na região do PAE Lago Grande, presidente da Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande - Feagle, que participou do encontro, a Rosenilce Vitor, pontuou: “Nós, movimentos sociais, têm que se organizar contra o agrotóxico e sensibilizar os nossos agricultores familiares a continuar cultivando suas terras, a plantar de forma agroecológica e sem veneno [...] a gente sabe que poder trabalhar nossa Agricultura Familiar de forma agroecológica, estamos fazendo bem à nossa saúde. (...). Enfim, então, o uso do agrotóxico para nós não tem nada de importante, então, não ao agrotóxico e sim à agroecologia”.
Outra liderança presente no evento, Ivete Bastos, presidente do STTR de Santarém, também explanou e ratificou a importância de se levantar a bandeira da Agroecologia, principalmente, na região, que está sendo tomada pelas monoculturas. “Hoje, é mais um encontro sobre a campanha contra os agrotóxicos e nós queremos dizer que a agroecologia é uma alternativa de vida, de produzirmos sem veneno, de amor, de harmonizar nossas lutas, de convivência de relações entre povos, entre tudo aquilo que nós fazemos. Então, nós queremos dizer basta. Chega de agrotóxicos e vamos pra luta para combater”.
A agroecologia é de extrema importância para a sustentabilidade e para a segurança alimentar. Ao promover práticas agrícolas que respeitam o meio ambiente e a biodiversidade, contribui-se para a preservação dos recursos naturais e para a redução do impacto ambiental. Além disso, a agroecologia incentiva a produção local e orgânica, o que garante alimentos mais saudáveis e livres de agrotóxicos, beneficiando a saúde dos consumidores. Essa abordagem, também promove a inclusão social e a valorização do conhecimento tradicional, fortalecendo as comunidades rurais e criando uma agricultura mais resiliente diante das mudanças climáticas. Esse é o desenvolvimento que queremos na Amazônia. Como diz o Slogan da Campanha “Agrotóxico Mata” e nós queremos vida, porque a floresta, os rios, a fauna, a flora e tudo que compõe a Amazônia é vida.