Ativismo digital: as redes sociais como um território de atuação das organizações do movimento social, no Tapajós

As redes sociais viraram arma de luta para a disseminação de ideias, debates e mobilização dentro e fora dos territórios.

25/08/2023 às 15h28 Atualizada em 05/09/2023 às 13h40
Por: Damilly Yared Fonte: Tapajós de Fato
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Foto: Acervo da campanha “Climou: Mulheres pela justiça climática”
Foto: Acervo da campanha “Climou: Mulheres pela justiça climática”

O uso das redes sociais tem tido uma frequência e influência muito maior na sociedade. Atualmente a maioria dos debates e opiniões formam-se a partir de uma discussão que se inicia nas redes.

 

Ao falarmos sobre as redes sociais e ativismo digital, podemos lembrar de algumas lutas que tiveram ascensão e visibilidade em escala global através das redes, como é o exemplo do movimento negro internacional com a campanha contra violência às pessoas negras, que mobilizou milhões de pessoas nas redes com a hashtag [#] #BlackLivesMatter [Vidas Negras Importam].

 

Foto: Reprodução da Internet

 

Lembramos ainda da repercussão mundial da onda revolucionária da Primavera Árabe, que iniciou-se em 2010 no Oriente Médio, e o movimento #MeToo [Eu também] em 2017, que ganhou repercussão no Twitter (atualmente X), que trouxe à tona diversos casos de assédio e abusos contra o diretor de cinema Harvey Weinstein.

 

Foto: Reprodução da Internet

 

No contexto de campanhas com repercussão em escala global, no Brasil tiveram vários movimentos, entre eles o #ELENÃO que foi um protesto massivo do movimento feminista antes do primeiro turno das eleições no Brasil, em oposição ao então candidato à Presidência na época, Jair Bolsonaro, a campanha não ficou apenas nas redes sociais e acabou se tornando uma grande manifestação em todos os lugares do Brasil.

 

E em 2019 uma campanha usando a hashtag [#] #PrayforAmazonia [Rezem/Orem pela Amazônia] dominou as redes sociais, pois em agosto de 2019 a floresta amazônica teve sua maior escala de incêndios e isso gerou uma comoção internacional e fez com que líderes mundiais voltassem seus olhos para Amazônia, gerando pressão política para que as autoridades do país se mobilizassem para salvar a floresta, além de ter pressionado os meios de comunicação de massa a fazer sua maior cobertura midiática de um problema que era denunciado há anos pela população.

 

No chamado ativismo digital, é necessário o uso das ferramentas de comunicação, principalmente das redes sociais para disseminar uma ideia, um debate, realizar uma mobilização através de uma causa, seja ela política, social, cultural ou ambiental, por isso, é comum que o ativista digital ou os coletivos que usam dessa forma de se manifestar, tracem estratégias para obter seus objetivos.

 

As principais características do ativismo digital são o baixo custo, a acessibilidade, facilidade de compartilhamento, alcance global e seu poder de mobilização social através das redes.

 

O ativismo digital e os movimentos da região do Tapajós

 

Foto: Acervo Pessoal de Kamila Sampaio

 

O ativismo digital está cada vez mais presente na dinâmica de mobilização e de denúncias dos coletivos na região do Tapajós, e para fortalecer o debate sobre a importância do ativismo digital e o uso dele como ferramenta para impulsionar as lutas territoriais e em defesa da Amazônia, o Tapajós de Fato conversou com Kamila Sampaio, militante do Movimento Tapajós Vivo (MTV) e coordenadora de comunicação da campanha “Climou: Mulheres Pela Justiça Climática”, realizada pelo MTV, Associação das Mulheres dos Trabalhadores Rurais de Santarém (AMTR) e o Coletivo Jovens Tapajônicos, apoiada pelo Edital Iara do Brasil, e também da campanha “Que clima é esse Tapajós”.

 

Ao Tapajós de Fato, Kamila Sampaio, relata que, “a gente trabalha com produtos de comunicação e faz com que as pessoas entendam que esse aumento de temperatura que elas estão sentindo, essa questão de não ser mais tão previsível as secas e as cheias, são acontecimentos que estão acontecendo bem na frente delas e elas acabam meio que sabendo que estão sentindo essa diferença, só que não associam isso a mudanças climáticas”.

 

Com as campanhas desenvolvidas, Kamila reforça que o uso das ferramentas digitais são principalmente para que as pessoas façam reflexões, como "você está sentindo que esse igarapé aqui a cada ano está ficando mais raso, então isso não é só por conta da ação humana, é porque também está acontecendo essa emergência climática mundial”.

 

A coordenadora da campanha “Climou” ressalta ainda que a campanha trabalha com mulheres trabalhadoras rurais, que “são as mais impactadas pelas mudanças, porque elas relatam que antes conseguiam ficar no roçado até onze horas, meio dia, e hoje é impossível ficar até umas dez horas, e elas estavam começando a achar isso normal, a se adaptar a esse novo horário de acordar mais cedo, para roçar, e elas não entendiam que isso é uma consequência dessa emergência climática”.

 

Foto: Acervo Pessoal de Kamila Sampaio

 

Para Kamila, é importante pensar numa comunicação tanto presencial, quanto virtual para que essas pessoas entendam o momento que estão vivendo, de emergência climática, além de reafirmar que “é importante que a gente tenha modelos de comunicação que sejam mais acessíveis, que falem a nossa língua e atualmente há uma grande necessidade de os coletivos da Amazônia fazerem sua própria comunicação, pensando na militância. Usar a internet como um território nosso é fundamental. Através da militância e da comunicação, possibilitamos o protagonismo de quem está no território”.



O Tapajós de Fato também conversou com o jovem Marlon Rebelo, da comunidade de Vila Brasil, no PAE Lago Grande, comunicador popular e membro do Coletivo Guardiões do Bem Viver, que explica a atuação do coletivo nesse modelo de ativismo.

 

Foto: Acervo Guardiões do Bem Viver

 

De acordo com o jovem guardião, “o coletivo Guardiões do Bem Viver tem usado bastante essa prática ultimamente, fazendo com que, através das redes, as pessoas possam ficar atentas e conectadas com o que está acontecendo. Então, nossos protestos estão sendo feitos não só nas redes, mas também em outros espaços. E através das redes, a gente consegue mostrar para outras pessoas, mostrar para fora do estado, fora do país”.

 

Marlon Rebelo afirma ainda que a internet é importante para a difusão de ideias e “é o momento de mostrarmos as nossas ações, as nossas indignações também, não é só algo que possa mostrar para as pessoas que há algo, mas também que há pessoas dentro da Amazônia”.

 

Foto: Acervo Pessoal de Marlon Rebelo

 

Para Marlon, há diversas maneiras de se tornar um ativista digital, onde indivíduos podem escrever manifestos, publicar vídeos ou podcasts, realizar doações, fazer o uso de hashtags e até mesmo postagens. É possível também assinar petições, compartilhar informações relacionadas a mobilizações, entre outras ações. A relevância reside em estar bem informado sobre as causas a serem defendidas, agindo com consciência.

 

A internet é um espaço de disputa de narrativas e contra narrativas, a utilização das redes sociais é fundamental hoje para a disseminação das informações, quando a rede social se tornou um espaço vazio, o mundo viu ondas da extrema-direita ganhar eleições, da mesma forma que os movimentos vêm ocupando esse território que já se mostrou muito produtivo com pautas importantes, como o combate ao negacionismo climático.

 

Nem sempre a internet vai traduzir a ação virtual em uma mudança concreta no mundo real, mas não há como negar que é através das ações que se espalham na internet sobre território, clima e meio ambiente que alguns debates estão presentes no cotidiano das pessoas, atualmente, é comum abrir uma rede social como o TikTok e se deparar com um quadro rápido e engraçado que está debatendo mudanças climáticas, ou contando histórias sobre a população de um território, por isso, o ativismo digital tem ganhado cada vez mais espaço entre os coletivos, por ser uma forma mais rápida de fazer política e de levar informação em uma escala global sobre o que está afetando a região.

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