No sábado, 2 de setembro, o Tapajós de Fato lançou a cartilha Justiça Climática pelo Bem Viver, em Alter do Chão, na virada cultural Amazônia de Pé, que ocorreu no lago dos botos.
A nova edição da cartilha “Justiça Climática Pelo Bem Viver”, lançada pelo Tapajós de Fato, contemplou três territórios: o território Borari, em Alter do Chão, onde foram entregues 200 exemplares da cartilha durante a virada cultural; o território de várzea, cujo enfoque foi o território de Santana do Tapará; e o território quilombola de Murumuru.
Thais Isabelle, educadora popular do Tapajós de Fato, falou sobre a construção da cartilha e sobre a importância da entrega. Ela ressalta que a cartilha foi construída pelo Tapajós de Fato em conjunto com as organizações presentes nos três territórios: a Federação das Organizações Quilombolas (FOQS), do território de Murumuru; a Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Santarém (AMTR), do território de várzea em Santana do Tapará; e a Associação de Mulheres Indígenas - Suraras do Tapajós, de Alter do Chão.
De acordo com Thais, a cartilha Justiça Climática pelo Bem Viver, aborda o que é justiça climática bem como os impactos das mudanças climáticas na floresta Amazônica, em Santarém. Além disso, a cartilha trata sobre como o bem viver dentro desses territórios pode ser uma alternativa para minimizar as consequências dessas alterações.
A educadora enfatiza ainda que os três volumes da cartilha, buscaram abordar esse tema de forma mais lúdica, para que elas sejam distribuídas nas escolas de cada um desses territórios. Além de realizar o lançamento da cartilha que aborda o território Borari na virada cultural da Amazônia de Pé, o evento oportunizou que pessoas de diversos segmentos sociais em conjunto com a equipe do Tapajós de Fato pudessem debater, em um espaço de cultura, sobre esse assunto tão importante - mudanças climáticas - para o cenário atual.
Isabelle Maciel, editora-chefe do Tapajós de Fato, falou sobre a experiência do Tapajós de Fato na virada cultural Amazônia de Pé, não apenas como um veículo de comunicação popular, mas também com a atuação na educação popular. De acordo com ela, é importante trabalhar a educação popular nos territórios nesse formato de cartilha porque essa pauta precisa chegar aos territórios de forma facilitada e, muitas vezes, o acesso escasso à internet faz com que nem todas as pessoas tenham acesso a essa informação.
Para a editora-chefe, a participação do Tapajós de Fato na virada Amazônia de Pé foi uma honra, visto que aquele espaço proporcionou um diálogo com um público maior e mais diversificado. Lá, as pessoas, não só tiveram informações sobre a cartilha, mas também desfrutaram de um espaço cultural tão importante como a virada Amazônia de Pé para falar das alteraçoes; assim, num contexto geral, o evento se tornou muito produtivo, pois o Tapajós de Fato não apenas quis levar a informação para a população do território, como buscou debater de forma leve e didática o assunto em questão.
Virada Cultural Amazônia de Pé
A Virada Cultural pela Amazônia de Pé 2023, que aconteceu na Vila de Alter do Chão, é uma realização do Movimento Amazônia de Pé - Movimento nacional pela proteção das florestas e dos povos da Amazônia.
A programação do festival iniciou com a apresentação do ritual oficial do Çaíre, um momento de espiritualidade e de alegria. Na ocasião, foi pedida uma benção especial para o evento e para os presentes nele. A abertura do show musical contou com a presença de artistas da região e foi realizada pelo grupo Espanta Cão, que faz parte da folia do Çairé e que abrilhantou o evento com um verdadeiro espetáculo. Estimou-se que o público presente no lago dos botos foi de aproximadamente 3 mil pessoas.
Dando sequência à programação, a segunda atração foi o grupo de carimbó Suraras do Tapajós, formado por mulheres indígenas, cujo show encantou os presentes. Em seguida, a cantora Priscila Castro também abrilhantou a noite com toda a sua irreverência e voz marcante e de quebra ainda dividiu o palco com Cleide do Arapemã, encontro que entrou para a história dos festivais da região.
O ponto alto da noite foi o show da rainha do carimbó chamegado, Dona Onete. Durante a sua apresentação, a cantora falou da importância de se acreditar no caboclo, referindo-se à valorização dos artistas da região. "É isso aí, acreditar no caboclo igual a você, porque eu sou uma cabocla que vocês tão também acreditando no meu trabalho, que a gente só acredita quase no que é de fora, num é, meu amor... Eu sou paraense, cabocla marajoara, sou”, ressaltou a artista.
Além das apresentações musicais da noite, os estandes dispostos no espaço do festival, ocupados por coletivos e organizações da região, davam um show bônus para os visitantes que apreciavam produtos artesanais de alta beleza e qualidade, produtos medicinais e produtos alimentícios advindos de produtores e extrativistas da região, o que deu à virada outros papéis de extrema importância: fortalecer a economia local e incentivar os pequenos produtores e trabalhadores da região. Todos os produtos expostos são fruto de um processo economicamente sustentável, que deve ser valorizado por fomentar o comércio regional, mantendo a floresta de pé.
A Virada Amazônia de Pé 2023, vem pautando a luta contra o Marco Temporal. Durante toda a programação do festival em Alter do Chão, a equipe que compõe essa rede de centenas de organizações e milhares de ativistas mobilizados em redes, ruas e rios de todas as regiões do país, estiveram colhendo assinaturas para o projeto de lei Amazônia de Pé.
Já é de conhecimento de todos que os territórios das populações originárias são as áreas mais preservadas da Amazônia. Logo, a luta contra a tese do Marco Temporal é uma ação direta em prol da preservação da floresta, pautado pelo Movimento Amazônia de Pé.
A virada cultural Amazônia de Pé e o lançamento da Cartilha Justiça Climática pelo Bem Viver trazem para o debate cultural a importância de pautar a Amazônia como protagonista de fato. Além da virada cultural ser um evento que entreteu com muita música e diversão, também foi um espaço que favoreceu a reflexão sobre o futuro da Amazônia frente às mudanças climáticas, principalmente, porque o futuro da Amazônia depende da conscientização e das nossas ações de HOJE.