Realizado na última quinta-feira (7), na praça do Mirante, em Santarém, o 2º Festival ManíFestar 2023 marcou a programação da Semana da Amazônia em Santarém e na região do Tapajós.
Os participantes que compareceram ao evento, puderam curtir dois momentos em 1: a 2ª Mostra Maní e a 5ª edição do Sarau Curupira, marcando a parceria entre a Na Cuia Produtora Cultural, Tapajós de Fato e Maré Cheia Produtora, organizadores do evento.
Leila Borari, que apresentou o festival conjuntamente com Odete Costa e Matheus Botelho, falou sobre o festival.
“O ManíFestar e o Sarau Curupira, estão cada ano mais bonitos, cada ano mais democrático e fazendo um papel super importante que é trazer a comunidade, né? A sociedade para falar sobre mudanças climáticas”.
A programação do festival contou com apresentações culturais, mostra de produções audiovisuais e coleta de assinaturas pela Amazônia de Pé. A abertura do evento foi realizada pela juventude do Coletivo Guardiões do Bem Viver, que fizeram uma mística saudando a ancestralidade amazônica. Na ocasião o pajé Naldinho Kumaruara pediu bênçãos aos ancestrais e trouxe a reflexão de que a Amazônia há anos vem sendo violada e, ela, segue pedindo socorro.
O evento também contou com feira de artesanatos, brechós e venda de livros. Uma forma de fortalecer economicamente coletivos e associações dando visibilidade a artesãs e artesãos da região, bem como, impulsionar pequenos empreendedores da região do Tapajós.
Alice, que faz parte do movimento Tapajós Vivo, é arqueóloga e bordadeira, estava na feira expondo seus bordados, comenta sobre o evento. “Ela [a feira] é importante justamente para ampliar esses espaços de participação da sociedade civil, principalmente, de pequenos produtores, né? sejam eles da agricultura familiar, pequenos empreendedores também, que tão começando. Então é uma forma de visibilizar também esses artistas locais, né? Seja através da música ou da exposição dos seus produtos também”.
Apresentações musicais do Sarau Curupira
O Sarau Curupira foi abrilhantado pelas apresentações musicais da dupla Darlinho e Taty Mattos, que fizeram a abertura das atrações com muito brega e carimbó. Na sequência o cantor e ativista Everaldo Martins cantou a regionalidade santarena.
O grupo de comédia AlterNativos foi um show à parte e encantou a juventude presente com uma apresentação eclética e muito animada. Da mesma forma, o tradicional Caldo de Piranha, disse ao que veio, colocando o público presente para dançar cantando ritmos regionais como o carimbó, o brega e a cumbia amazônica.
O cantor, compositor e multiartista Rawi, também conhecido como Arte de Bicha, tocou musicas autorais acompanhado pelo violão de Caboquinho em uma apresentação primorosa e no final a animação ficou a cargo da aparelhagem frenética da DJ Pedrita, que finalizou as apresentações musicais e não deixou ninguém parado.
Apresentações audiovisuais da 2ª Mostra Maní
A 2ª Mostra Maní de Audiovisual amazônico apresentou ao público 5 produções amazônicas que abordam a temática socioambiental a partir das realidades da região: a web série Guardiões do Bem Viver: educação popular e juventude na Amazônia, que apresenta a atuação do coletivo de juventudes Guardiões do Bem Viver do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande que luta em defesa do seu território e constrói anualmente a Romaria do Bem Viver, pautando a necessidade de se preservar e respeitasr os modos de vida das populações tradicionais; o curta Kumaru - cura, força e resistência que conta a história do pajé Naldinho Kumaruara e aborda o tema da pajelança, produzido pela produtora independente Dzawi Filmes; o curta Amazônidas, produzido pelo Tapajós de Fato em parceria com outras organizações e que pauta a liderança feminina trazendo histórias de mulheres que são exemplo de atuação na luta; o curta Terra, rio e lutas construído a partir da atuação do projeto de democratização do cinema nas periferias de Santarém “Telas em Rede” durante a sua intervenção junto a juventude do Bairro Maíca, em Santarém, e que pauta a defesa desse território frente a instalação de portos ao longo do lago do Maíca; e o documentário produzido pelos jovens comunicadores indígenas do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns (CITA) intitulado En-cantos - clima, luta e resistência no Baixo Tapajós que pauta a luta de comunidades indígenas que lutam pela demarcação de seus territórios.
Todas as produções em formato de curta-metragens e séries foram produzidas e protagonizadas por ativistas amazônidas, reunindo organizações, coletivos, iniciativas e produtoras audiovisuais e socioculturais do espaço cívico e cenário cultural local e regional.
Sobre a produção do curta que retrata a sua história, o pajé Naldinho Kumaruara explicou que o curta foi produzido lá na sua aldeia, no território Kumaruara, aldeia Muruarí. “Ele conta um pouco dessa minha história espiritual e um pouco da retomada da aldeia. Ele mostra como é que está sendo essa trajetória de entendimento espiritual e o quanto isso é importante na nossa luta em defesa do nosso território e organização indígena. O filme é bem emocionante, porque conta uma história real, vivência, e tem uma responsabilidade porque até então isso não é muito exposto, essa parte espiritual indígena. É muito difícil de se encontrar registro de pessoas que tenham uma responsabilidade espiritual e querem falar disso [...] mas é importante enquanto liderança”, relata.
O Festival
Um evento lindo, democrático e participativo, que discutiu através da arte e da cultura questões socioambientais, buscando educar, sensibilizar e mobilizar as pessoas em prol da sustentabilidade e da justiça social, no Baixo Tapajós.
O objetivo é levar as pessoas a questionarem o seu papel no processo de luta pela preservação da Amazônia de Pé e de suas populações. O que ficou evidente durante a belíssima e marcante intervenção da artivista Norah Costa, que buscou instigar o público a pensar criticamente o papel de cada um nesse processo.
Ao final do evento Marcos Wesley, Coordenador do Tapajós de Fato e um dos produtores executivos do festival falou um pouco sobre como se deu a organização.
“A gente criou muita expectativa na produção desse Sarau Curupira, dessa mostra Maní de Audiovisual. Nos dedicamos muito pra construir essa programação, pra construir esse momento, então a gente realmente espera que tenha conseguido os nossos objetivos com ele, que era de conversar sobre justiça climática, sobre defesa dos territórios, sobre bem viver. É muito importante que a gente entenda e compreenda de uma vez por todas que se a temperatura aumentar não são somente causas pessoais, mas causas coletivas, né? Porque mais pessoas vão ficar doentes. A gente já sente no nosso dia a dia essa elevação da temperatura e falar sobre mudança climática, falar sobre crise climática, na nossa atual conjuntura é fundamental”.
Sobre unir o Sarau Curupira e a Mostra Maní de audiovisual ao Festival ManíFestar Marcos Wesley explica que “foi muito necessário” para o sucesso do evento. “Seriam duas atividades em dias diferentes, mas a gente decidiu unificar justamente por isso, por entender que chamando um público que é da música, chamando um público que é do audiovisual a gente chegaria mais nas pessoas. E a gente percebeu isso nas pessoas, tanto nas atrações musicais, quanto nas exibições, a galera prestou atenção, a galera se envolveu e tudo mais. Então, sem dúvida, foi um diferencial muito importante”, finaliza.