O grupo musical de mulheres indígenas As Karuana surgiu no ano de 2018, com o intuito de intensificar as vozes e as lutas em defesa dos rios, das florestas e dos povos originários.
O nome Karuana foi escolhido pelo seu significado de proteção dos rios e das florestas. O ano de sua criação, em 2018, foi um o momento em que se intensificou, principalmente, a poluição dos rios no território Borari. Dessa forma, o grupo de mulheres indígenas resolveu ecoar as vozes e as lutas do território para o mundo através da arte musical.
Para conhecer e entender mais a luta e a atuação do Coletivo de Mulheres Indígenas As Karuana, o Tapajós de Fato conversou com Viviane Borari, engenheira civil por formação, que também trabalha com fotografia e audiovisual, ferramentas o que lhe dão proximidade com temas de cunho social e que podem lhe servir de inspiração artística. Ela atua desde cedo nos espaços de ativismo e de militância no território e faz parte do Coletivo de Mulheres Indígenas Karuana.
De acordo com Viviane Borari, que luta junto às demais Karuana em defesa do território, a música pode ser uma ferramenta de mudança de opiniões sobre o que vem acontecendo na Amazônia e sobre como é importante a proteção dos rios e dos igarapés, temática observada nas letras das músicas do grupo, que é composto por diversas mulheres de várias etnias e que conseguem, através da música, ecoar as vozes femininas que lutam “nos quatro cantos do mundo” - enfatiza a ativista.
A ativista ressalta que, atualmente, Vandria Borari, que é uma grande liderança e representante do grupo, tem feito esse papel de levar a voz das mulheres indígenas do território para outros lugares do mundo, mostrando a todos a realidade da vulnerabilidade do ecossistema do território. Ela reforça ainda que é importante que figuras de destaque social, como a Vandria, ocupem espaços nacionais e internacionais de poder, que antes eram espaços restritos a homens e a estrangeiros e, agora, as mulheres amazônidas podem estar nesses ambientes, sendo protagonistas também nos debates e nas tomadas de decisões. Vale dizer que as portas estão se abrindo e que essas mulheres estão atentas a todas as oportunidades de se fazerem sujeitos da sua própria história.
Viviane destaca ainda a participação de integrantes do coletivo na campanha "¡Que paguen! Los contaminadores” [Que paguem os contaminadores], que é uma campanha por justiça climática, contra grandes poluidores que existem no Brasil e na América Latina, e que estão afetando diretamente vários biomas, outros territórios e povos tradicionais e originários.
Viviane Borari destacou que, recentemente, a pauta da justiça climática teve uma ascensão no Brasil e no debate mundial. Entretanto, ela ressalta que tal temática já deveria ter sido destaque há muito tempo, mas que, agora, com as temperaturas elevadas no mundo todo, ela está em maior evidência.
Viviane enxerga na arte das Karuana uma forma de resistência, de luta potente dentro da região. Para ela, através da música dessas mulheres é possível estar na luta e trabalhar a sensibilização sobre a proteção ao meio ambiente para as futuras gerações. É assim que As Karuana continuam resistindo e “levando a voz das mulheres indígenas cada vez mais longe”, comenta.
De acordo com a entrevistada, o grupo de cantoras e instrumentistas vem organizando esses espaços de diálogos dentro do território, para entender como é que tudo funciona. No debate, elas destacam também a questão do crédito de carbono; pois, de acordo com a ativista, “é muito importante saber já que, atualmente, tem muitos parentes sendo assediados em seus territórios, por conta disso e achando que [investidores de fora] trazem melhorias, mas acabam que é só mais uma falsa solução”.
A ativista pontua ainda que a arte trazida pelo grupo - na música, na moda indígena, na produção de cerâmicas, na medicina tradicional - é um conjunto de expressões artísticas que tem grande contribuição a fim de abrir o debate para todos os públicos sobre esta pauta que é de grande importância: a proteção do planeta Terra. Vale ainda frisar que o grupo espera que as pessoas tenham uma mudança de postura e que todos possam lutar em prol da Amazônia. Esse é o bem viver almejado pelo grupo.