Mesmo marcada por fortes traços de ancestralidade, Alter do chão sofreu grandes mudanças ao longo das décadas, que afetaram e, ainda afetam, diretamente o modo de vida da população indígena do território. A comunidade fazia parte da grande nação Tupayú. Distrito do município de Santarém, a vila é berço do povo Borari, etnia indígena que povoa o território desde a época da colonização.
Ao longo da história, os invasores impuseram suas próprias crenças, valores, línguas e práticas culturais aos povos indígenas, muitas vezes, de maneira violenta. Nesse sentido, o povo Borari, assim como vários outros povos, “se submeteu às mudanças devido à necessidade de se adaptar para sobreviver”, aponta o Sr. Laudeco, indígena da etnia Borari que vive em Alter do Chão. No entanto, muito do que caracteriza esse povo foi mantido – suas crenças, sua relação com os encantados, com a mãe terra, com a natureza e com a floresta, mas tudo isso tem sofrido com as mudanças climáticas. Então, tornou-se indispensável a união entre quem realmente se importa com o território Borari – Tapajós de Fato, Associação de mulheres indígenas Suraras do Tapajós e território indígena Borari-Alter do Chão – para debater temáticas relacionadas à Justiça Climática e alertar a população das comunidades sobre como as mudanças climáticas ameaçam o Bem Viver dos territórios. O resultado desse debate foi a feitura de uma cartilha de cunho educativo e pedagógico para auxiliar do menor ao maior sobre esse tema tão relevante na atualidade.
Mudanças climáticas
A cartilha alerta para as mudanças no clima já estão ocorrendo em todo planeta e os efeitos negativos na Amazônia tem sido notado em Alter: rio Tapajós extremamente seco, temperaturas e sensação térmica na casa dos 40º célsius, crise no abastecimento de água, catraieiros passando necessidade, umidade relativa do ar longe do esperado, nada de chuvas, morte de plantações, etc.
Na cartilha também é feito um importante esclarecimento a respeito de especulação imobiliária, gentrificação, grilagem – processos resultantes da ação coordenada de grupos que têm gerado situações conflituosas e consequências drásticas na vida do povo Borari como a expulsão de residentes originais e no deslocamento das habitações locais, levando a bruscas alterações nas dinâmicas sociais e culturais de Alter do Chão.
Em seguida, discorre-se a respeito do turismo e das mudanças significativas na paisagem urbana local. Claro que o turismo também é visto como oportunidade para os moradores locais, pois essa atividade econômica gerou certa demanda por serviços como hospedagem, restaurantes, bares e atividades de lazer, o que, por sua vez, resultou em postos de trabalho, mas incentivou a construção de hotéis e pousadas, o que aumentou o valor dos imóveis e o custo de vida para a população local. Isso levou a um deslocamento das comunidades tradicionais e à introdução de novas influências culturais, estilos de vida e valores, o que impactou na identidade e na coesão da comunidade.
A cartilha nos mostra que, diante de tudo o que é ruim para Alter do Chão, os guerreiros Borari não cruzam os braços, além de mostrar também o que eles têm feito na busca pela preservação da cultura, dos modos de vida tradicionais, do acesso à moradia para os seus.
Para conhecer a cartilha Justiça Climática pelo Bem Viver Alter do Chão e os grupos responsáveis por sua criação, acesse o link e uma boa viagem pelo Bem Viver Borari.