No último domingo (22), a Pastoral Da Juventude da Área Pastoral São Lucas, do Urumari, decidiu comemorar o Dia Nacional da Juventude de uma forma que engajasse mais os participantes na luta pela preservação dos corpos d’água daquela região que compreende bairros como Uruará, Área Verde, Jutaí, Urumari, Pérola do Maicá e Maicá, os quais são cortados por igarapés que têm sofrido a agressão de ter despejados resíduos sólidos, lixo, em suas águas, ainda que abasteçam parte da população mais carente que mora às margens desses cursos d’água.
Segundo Evelyn Suane, uma das coordenadoras do evento, “não à toa escolhemos começar nesse bairro [Urumari], porque é onde se abriga o igarapé do Urumari, que é sabido de toda a comunidade santarena que está bastante poluído. Então, ali é um descaso, é uma tristeza que a gente carrega. E como o tema vem falando [sobre água] nós decidimos começar por lá”. Ela destaca os jovens com cartazes caminhando, orando e cantando em uma só fé.
Quando a romaria passou pela igreja do Divino Espírito Santo, no bairro do Jutaí, mais um grupo de jovens cristãos aguardavam para se unir aos caminhantes em direção à comunidade de São Miguel, no bairro Pérola do Maicá. A respeito disso, Evelyn disse ao Tapajós de Fato que não foi uma escolha aleatória. A parada foi para apreciar o lago do Maicá, que, de acordo com a romeira, “está sendo constantemente ameaçado pelo avanço capitalista desenfreado”.
A água é um bem indispensável para a sobrevivência de todos; assim, o tema do evento, que iniciou às 15h na Igreja de Frei Rainério e que contou com a participação maciça de jovens da Paróquia Cristo Libertador, foi “Água, nosso bem comum”. A frase chama a atenção para a necessidade de envolvimento de todos na causa em defesa dos nossos mananciais. O pronome “nosso” visava a sugerir aos participantes que a responsabilidade e o compromisso com a preservação das águas também são de cada um deles, tal qual são de cada uma de nós. Não podemos esquecer que a água poluída na superfície pode chegar nessa condição ao lençol freático e ser levada às nossas torneiras em situação que gere dano ou/e risco para a nossa saúde e até mesmo para a nossa vida.
Dessa forma, o lema foi, e não podia ser diferente, “Água: fonte de vida que brota do solo sagrado”. Ele reflete a necessidade de água para existam vegetais, evocados pelo verbo “brotar”, os quais protegem as nascentes, evitando, dessa maneira, a secura do “solo sagrado”, que hoje está sedento, árido, devido à escassez de chuvas resultante das mudanças climáticas e que alterou completamente o ciclo das águas na Amazônia, levando ao colapso de ecossistemas, como a morte em massa de peixes e de cetáceos, bem como o canibalismo entre jacarés.
Em caminhada até a sede da Associação de Moradores do Bairro Pérola do Maicá, os romeiros eram iluminados pelas palavras do profeta Isaías, que, inspirado por Deus, escrevera no capítulo 55, versículo 1: “Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas”. Os jovens se mostraram sedentos de justiça climática e de justiça hídrica durante a romaria, expressando em seus cartazes o desejo de preservação do lago do Maicá, por exemplo.
As bases para a elaboração das questões a serem refletidas durante a programação estão na exortação apostólica pós-sinodal “QUERIDA AMAZÔNIA”, do Papa Francisco. De acordo com a coordenação do evento, as reflexões visam a desenvolver nos jovens um novo olhar a respeito das águas.
Depois de refletir e caminhar, o evento encerrou com uma noite cultural. Foi muito carimbó, calypso, xote e forró para divertir essa juventude engajada que defende a preservação da Amazônia, nossa casa comum.