Nas últimas semanas o município de Santarém, localizado na região oeste do Pará, tem amanhecido cada vez mais coberto por fumaça. São várias as fotos e vídeos que circulam nas redes sociais com o questionamento sobre “de onde está vindo essa fumaça?”.
A fumaça que vem tomando conta da cidade está vindo dos focos de incêndio que estão espalhados por toda a região, não apenas do município de Santarém, mas, dos municípios como Belterra e Mojuí dos Campos.
Na situação em que a Amazônia encontra-se atualmente, com uma grande estiagem durante o verão, vimos as secas dos rios, e o sofrimento que as famílias do Tapajós estão vivendo, e como se não bastasse a forte estiagem, agora, a população está enfrentando a fumaça, que durante o período matutino parece neblina nas casas e no outro lado da margem do rio Tapajós.
Mesmo com o problema que já persiste há algumas semanas, até o momento não houve qualquer pronunciamento do poder público local sobre ações efetivas ou campanhas que possam sensibilizar a população sobre o quanto o fogo pode ser prejudicial não apenas ao meio ambiente [por toda destruição causada], mas também à saúde.
Diante disso, o Tapajós de Fato conversou com João Romano, da Brigada de Alter do Chão, que explicou um pouco sobre como a Brigada está atuando diante de tantas demandas de focos de incêndio na região.
De acordo com Romano, a Brigada está atuando neste verão e já atendeu algumas ocorrências, além de montar junto ao ICMBio um sistema de comando ao sul da Resex Tapajós - Arapiuns.
Romano também reforçou que a Brigada está desde domingo atendendo a região do Arapiuns, com uma equipe em campo e outra fazendo monitoramento via satélite em conjunto com o ICMBio, além de atender as ocorrências da APA [Área de Proteção Ambiental] de Alter do Chão no Laranjal nos dias anteriores, bem como houve um alerta de foco de incêndio em Carapanari, que foi logo controlado.
João destaca que “são muitas queimadas acontecendo ao mesmo tempo e tem o clima muito seco, então, pessoas que mexem com fogo de forma controlada, acabam perdendo o controle muito rápido”, o entrevistado ainda ressalta que o fogo é uma ferramenta ancestral, e que na área da RESEX quem precisa fazer o roçado, pode acabar perdendo o controle, pois estamos vivendo um momento de altas temperaturas e por isso o fogo acaba se alastrando.
O brigadista relata ainda que muitos dos focos de incêndios são também devido a limpeza de terrenos, que é uma atividade corriqueira na região, João enfatiza ainda que “existem muitas queimadas acontecendo, sejam elas controladas ou que perdem o controle e acabam virando um incêndio florestal”.
Fumaça e os riscos à saúde
São conhecidos os efeitos nocivos que a fumaça pode causar na saúde, principalmente pelo seu poder de se espalhar por muitos quilômetros, podendo provocar doenças ou agravar quadros respiratórios.
Estima-se que em só no ano 2019, 4,5 milhões de pessoas morreram por conta da poluição do ar, esses dados são de um estudo apresentado pela Lancet Planetary Health, em 2022.
Por isso, com tantos focos de queimadas acontecendo, seja no campo, seja na cidade, a saúde da população está em risco, desta forma, o Tapajós de Fato conversou com o médico Everaldo Martins Filho, que falou brevemente de como essa fumaça pode vir a afetar a saúde da população.
Para o médico, a exposição da população a essa fumaça pode a curto prazo ou de forma imediata causar irritação na pele, nos olhos e na garganta, então possivelmente já há pessoas que apresentam esses sintomas pela exposição a que estão submetidas nas últimas semanas. O que preocupa com toda essa fumaça são os problemas pulmonares que ela pode causar, bem como alguns impactos só serão sentidos a longo prazo se houver uma exposição crônica à fumaça.
A população santarena está exposta a fumaça e até este momento, conta apenas com a ajuda de alguns órgãos ambientais e voluntários para tentar apagar “incêndios”, os gestores tanto do município, quanto do estado não deram sequer uma palavra ou solicitaram pedidos de ajuda para o Governo Federal para tentar controlar esses focos.
Os focos de incêndios na região têm coberto várias cidades ao redor do município de fumaça densa, e esses focos não são apenas de atividades comuns, que em sua grande maioria são praticadas de forma correta, existe ao redor da BR-163 [rodovia Santarém-Cuiabá], onde estão concentradas grandes fazendas de soja e do agronegócio nesta região, vários focos de calor/queimadas ativas, isso porque é nesse momento que eles aproveitam para abrir mais áreas de floresta e transformar mais campos para a soja ou pastos para a criação de gados.
Sabemos que nos últimos 4 anos de desgoverno, Jair Bolsonaro impulsionou a destruição da floresta, já houve antes na Amazônia [durante o governo Bolsonaro] grandes incêndios provocados pelo agronegócio na intenção de forçar a abertura de campos, e o fato é que mesmo que a fiscalização tenha se intensificado pela mudança de comando, não existe qualquer política ainda que parece efetiva para conter os incêndios que a cada dia que passa fazem a população acordar inalando fumaça tóxica e perder a sua qualidade de vida.
Santarém e cidades vizinhas estão respirando fumaça, o questionamento que fica é o que será feito pela população, ou será que devemos esperar tudo isso passar, enquanto hospitais podem voltar a ser centros de pessoas que vão surgir com problemas respiratórios e crises alérgicas. Santarém pede socorro!