Nos dias 18 e 19 de novembro, aconteceu nas comunidades de São Francisco [PAE Lago Grande], que fica às margens do rio Arapiuns e na Aldeia Lago da Praia, a II Romaria do Bem Viver, que este ano foi fluvial, realizada pela Pastoral da Juventude e pelo coletivo de jovens do PAE Lago Grande, Guardiões do Bem Viver (que surgiu na primeira romaria no ano de 2019).
A II Romaria do Bem Viver, teve início na comunidade de São Francisco, onde os participantes chegaram no sábado 18 de barco, e durante a tarde estiveram participando de um momento de discussões no Seminário “O rio que nos une: a água como bem comum”, momento que se iniciou com saudações de organizações aos participantes e onde foi debatido os direitos e a defesa do rio Arapiuns, do território e a importância da realização da romaria.
O primeiro dia de Romaria encerrou-se com as apresentações culturais no Festival Saga de Rio, e apresentou a música que embalou a II Romaria do Bem Viver.
O segundo dia de romaria, iniciou logo cedo com o café da manhã para os participantes, e depois a organização da caminhada na praia da comunidade de São Francisco em direção aos barcos que levaram os participantes até a Aldeia de Lago da Praia, no rio Arapiuns.
A Romaria do Bem Viver de 2023 contou com 11 barcos que saíram da comunidade São Francisco com faixas, músicas e palavras de ordem, em defesa dos rios durante um longo trajeto de 3 horas até a Aldeia Lago da Praia [Arapiuns], onde os romeiros foram recebidos com um ritual indígena e um almoço para encerrar as atividades da II Romaria do Bem Viver.
Em entrevista ao Tapajós de Fato, Darlon Neres do Coletivo Guardiões do Bem Viver, falou sobre como foi o processo de organização da II Romaria.
De acordo com o ativista, “a Romaria é um processo que começa no início do ano, e nós combinamos essa união nas primeiras reuniões. Depois nós tivemos vários encontros com a juventude para falar do tema, e fazer a mobilização para que os jovens fossem multiplicadores”.
Darlon Neres destacou também o desafio de realizar a Romaria de forma fluvial neste momento em que os rios passam por uma seca intensa na Amazônia, e destaca ainda que quando o tema foi escolhido no início do ano, jamais foi imaginado que os rios da Amazônia estaria passando por uma situação triste como essa, com a morte de peixes, com secas intensas que inclusive dificultaram o acesso de algumas comunidades a participar da romaria.
O guardião destacou ainda que havia muitas dúvidas como estava o rio até agora [momento de realização da romaria], mas de acordo com o ativista “parece que o “Divino”, os nossos encantados, prepararam o espaço e prepararam o rio para nos receber, porque o caminho que vamos fazer não está completamente seco”, além de ressaltar que “é desafiador, mas também nos fortalece, porque mesmo com os desafios da seca, nós conseguimos realizar um evento de mobilização da juventude, das mulheres, dos povos indígenas, dos povos negros, e daqueles que habitam o rio, a floresta, que estão aqui hoje, fazendo parte desse momento histórico que vai ficar na história do rio Arapiuns”.
O Tapajós de Fato ouviu também Hadassa Vânnia, jovem da aldeia indígena Camará, que contou como foi sua primeira experiência participando da Romaria do Bem Viver.
A jovem participante reforça que “chegar aqui foi [na romaria] uma experiência muito boa. Eu vi que várias pessoas estão gritando pela mesma coisa que eu. Elas gritam em defesa do nosso território, do nosso ar limpo puro, da nossa água, principalmente a água, que nós, ribeirinhos e indígenas, sofremos bastante com isso, e essa Romaria é um grito contra madeireiros, garimpeiros, para que eles possam ouvir a gente aqui, porque a gente está sofrendo muito com essa seca, principalmente afetando nossas comunidades, que estão à beira do rio”.
Sônia Martins, Vice-presidente da Feagle, federação mantenedora do Território PAE Lago Grande, falou com o Tapajós de Fato sobre a participação da federação na II Romaria.
A vice-presidente da Feagle ressalta que “a federação tem essa parceria com os Guardiões do Bem Viver, eles surgiram dentro da FEAGLE, e isso é muito importante para a Federação, pois hoje a FEAGLE não dá conta de trabalhar em todo o território, porque é muito grande, são várias comunidades, e eles estão fazendo esse trabalho e acredito que isso é muito importante, a gente ter essa parceria com a juventude do território, trabalhar junto e é isso que importa, a defesa do nosso território”.
Elton Arapiun, da Pastoral da Juventude e morador da comunidade Igapó-Açu, contou ao Tapajós de Fato como a Pastoral da Juventude ajudou na realização dessa grande romaria.
De acordo com Elton, “a realização foi entre guardiões e pastoral, então, a Pastoral da Juventude, ela teve uma ação direta, oferecemos participação direta dos jovens, na construção da segunda Romaria do Bem Viver. Os guardiões e a pastoral fizeram juntos a construção desse evento”, ainda de acordo com o jovem romeiro -“cada jovem que estava na cidade, se deslocou para o seu território, para levar a ficha de inscrição e fazer a mobilização nas comunidades, no alto Lago Grande, no alto Arapiuns, onde a pastoral da Juventude tem grupos em massa, grupo de jovens” - finaliza Elton.
O legado da II Romaria do Bem Viver
A II Romaria do Bem Viver, sai com um manifesto em defesa dos rios, além da proposição de um projeto de lei que irá para a câmara municipal de Santarém, para tornar o rio Arapiuns um rio de direitos.
O Manifesto dos Rios determinará as políticas públicas voltadas para o que querem para o território, além de ansiar o que se quer para o futuro, pois mostra a importância de preservar o rio agora. O manifesto dos Rios deverá ser entregue em todos os órgãos públicos e para todas as autoridades.
O evento II Romaria do Bem Viver, terminou no dia 19 de novembro [domingo]. Mas o objetivo da romaria apenas começou, agora com uma tarefa ainda mais importante, a de seguir a luta em defesa do território e dos rios e em defesa da juventude e dos povos tradicionais e originários que lutam pela consolidação da sociedade do Bem Viver.