Denomina-se como pré-natal é o conjunto de ações que visam a garantir o desenvolvimento saudável do bebê e da mãe durante a gravidez. É um processo formado por médicos, prevendo medidas sociais e psicológicas, podendo-se incluir muitos outros profissionais como nutricionistas, dependendo do que seja detectado durante a gestação através de exames e de análise clínica de um obstetra.
O pré-natal possui papel fundamental na prevenção e no diagnóstico de doenças, tanto maternas quanto fetais. Com isso, diminuem-se riscos para a mãe e para o bebê. Entretanto, apenas 55% das mães amazônicas vai sete vezes ao médico durante a gestação, o que é bem abaixo da média nacional de 74%. Dos cem municípios brasileiros com menores indicadores de sete ou mais consultas, 95 estão na Amazônia. Esses dados revelam o quanto a desigualdade regional no país possui muitos traços e que essas desigualdades já atingem brasileiros mesmo antes de nascerem.
Para que o pré-natal seja dentro do que prevê a Associação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, são recomendadas pelo menos seis consultas no decorrer da gravidez, diversos exames como hemograma, tipagem sanguínea, fator RH, glicemia, sorologias, urina simples e urocultura, além de três ultrassonografias. No entanto, como fazer o pré-natal de quem mora onde o obstetra não vai, onde não há laboratório, nem ultrassonografia? Uma reportagem do projeto Amazônia Vox acompanhou a dia a dia de quem tenta suprir essas demandas.
O programa de Primeira Infância do Dart Center da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, selecionou a pauta que aborda os desafios da cobertura pré-natal em comunidades ribeirinhas da Amazônia. Nesse sentido, foi imprescindível acompanhar o trabalho de agentes de saúde na região das ilhas, no município de Abaetetuba. Vale ressaltar que a situação encontrada por lá se aplica a todo o interior da Amazônia.
A equipe precisou passar dois dias na unidade fluvial de saúde, que atende o interior de Abaetetuba e conversou com os profissionais que atendem no barco e com comunitários atendidos pela ação, a fim de conhecer as soluções, as limitações e os desafios que as ribeirinhas grávidas enfrentam na região. O projeto Amazônia Vox mostra iniciativas dos amazônidas para dar respostas aos desafios da Amazônia.
Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF): pré-natal mais acessível às gestantes do interior de Abaetetuba
Na cidade de Abaetetuba-PA, a quantidade de grávidas com sete ou mais consultas pré-natais está subindo ao longo dos últimos anos. O município passou de 39% para 54% com perspectiva de aumento, por conta da atuação da unidade fluvial e do reforço dos atendimentos nas seis unidades de saúde básica fixas, construídas em comunidades ribeirinhas não atendidas pela embarcação-consultório. A UBSF registrou aumento no número de atendimentos pré-natal ano após ano. Em 2018, quando foi implementada, foram 160 atendimentos. Entre janeiro e agosto de 2023 já realizou 136 consultas de pré-natal.
Vale ressaltar que não é só de obstetras que se faz uma equipe para cuidar de grávidas. Assim, a UBSF conta com equipe de enfermagem e possui consultório odontológico e de atendimento psicossocial. Cada membro da equipe tem papel fundamental na saúde da mãe e, dessa forma, também na saúde do bebê.
O consultório odontológico ainda não possui equipamentos sofisticados, mas o suficiente para realizar procedimentos como limpeza, extração e restauração, atendimentos que ajudam a prevenir de maneira simples problemas que podem se tornar graves.
O atendimento psicossocial visa a apoiar a famílias que estão vivendo uma gravidez não planejada, bem como acompanhar mães que estão temerosas por conta da perda de um bebê no passado. Casos mais complexos são encaminhados à sede do município ou a Belém.
A fim de alcançar o maior número possível de mulheres gestantes, os agentes de saúde da região utilizam o WhatsApp como ferramenta de busca ativa. Consoante Clebeson, coordenador da UBS Fluvial de Abaetetuba, “Existe uma rede e nós preparamos a agenda do mês e enviamos para todas as agentes nas comunidades. São elas, então, que espalham isso e, chegando perto, ficam reforçando. Sem essa rede, a gente estaria aqui com tudo pronto, mas as pessoas não saberiam e não iria adiantar nada. O trabalho delas é fundamental”.
O custo do benefício
O atendimento ainda é limitado porque sai caro para o município. Como possui apenas uma equipe completa, precisa fazer o período de folga entre as fases embarcadas.
Segundo dados da prefeitura de Abaetetuba, a verba repassada pelo Ministério da Saúde é de R$103 mil por mês. Todavia, o gasto mensal com a unidade ultrapassa R$190 mil. O município a arcar com a diferença.