Quinta, 05 de Dezembro de 2024
Reportagem Especial Alternativa

Um futuro sustentável por meio da Educomunicação Socioambiental

Então, se queremos que os futuros adultos saibam respeitar os limites do meio ambiente e de todo o ecossistema do contexto em que eles estiverem inseridos, devemos traçar estratégias educativas nas escolas, visando à capacitação de crianças e adolescentes conscientes da importância, da necessidade e da viabilidade de ações sustentáveis.

05/12/2023 às 11h36 Atualizada em 10/02/2024 às 00h49
Por: Fernanda Lima Fonte: Tapajós de Fato
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Os jovens produziram cartazes, telejornal e filmes com temática socioambiental – Foto Débora Menezes
Os jovens produziram cartazes, telejornal e filmes com temática socioambiental – Foto Débora Menezes

Uma das grandes preocupações para com as futuras gerações é o mundo que elas herdarão de nós. Entretanto, segundo o filósofo e professor com doutorado em Educação Mário Sérgio Cortela, “O mundo que vamos deixar para os nossos filhos depende dos filhos que vamos deixar para o nosso mundo”. Então, ao invés de nós apenas pensarmos na qualidade do ar, da água, da terra e de tudo que esses elementos da natureza podem nos dar, é essencial prepararmos as futuras gerações para cuidar de tudo na nossa casa comum. Dessa forma, é preciso educar crianças e adolescentes para que eles possam cuidar responsavelmente do planeta.

Alunos da Escola Estadual Terezinha Rodrigues em ação alusiva ao Dia da Amazônia/ Foto: Arquivo pessoal

O filósofo iluminista Immanuel Kant  disse que “o homem é aquilo que a educação faz dele”. Então, se queremos que os futuros adultos saibam respeitar os limites do meio ambiente e de todo o ecossistema do contexto em que eles estiverem inseridos, devemos traçar estratégias educativas nas escolas, visando à capacitação de crianças e adolescentes conscientes da importância, da necessidade e da viabilidade de ações sustentáveis. Assim, é fundamental tirar os alunos das tradicionais condições de receptores de conhecimento e fazê-los sujeitos pensadores de um futuro mais sustentável.

 

Alunos da Escola Estadual Terezinha Rodrigues em ação alusiva ao Dia da Amazônia/ Foto: Arquivo pessoal

Com esse intuito de integrar o ensino e a pesquisa o professor Everaldo Cordeiro, decidiu pôr em prática a educomunicação socioambiental:

“Eu descobri à época, ali pelo ano de 2005, através de estar na assessoria de comunicação uma correspondência que chegou do Ministério do Meio Ambiente propondo a criação de uma política educomunicacional para todo o território nacional chamada educomunicação socioambiental. Essa política [é] influenciada pelo professor Ismar Soares que eu havia conhecido em São Paulo (...). Então, lá na Escola Aluísio Lopes Martins, ali na grande área do Maracanã com Nova Vitória, no entorno temos ali os lagos do Mapiri e Papucu, a praia do Maracanã, praia da Salvação, lago e praia do Juá; então, o nosso alunado era dali ou vinha da região de rios do Tapajós e do Arapiuns, nós começamos a pensar com os presidentes de turma da manhã e da tarte e também da noite – eu assumi o projeto Mundiar duas vezes à noite: terça e quinta – organizarmos três coletivos: um coletivo infanto-juvenil para protagonizar com eles, para estimular o protagonismo infanto-juvenil na área da educomunicação, chamando aquele núcleo de Educomunicação Socioambiental Escola Aluísio Lopes Martins (...) Foi quando a professora Lucineide Pinheiro me fala da Ashoka que vira lançar em Santarém o projeto territórios transformadores do Brasil e o primeiro território seria aqui, o Território Transformador do Tapajós, para trabalhar o protagonismo juvenil na defesa do meio ambiente e na questão da justiça climática e, junto a essa proposta, o projeto escolas 20 e 30 apoiado também pela Ashoka que seria fazer uma pesquisação – li lá no folder, depois li no site - uma pesquisação. O que é uma pesquisação? Uma pesquisa conjunta às pessoas envolvidas no projeto. A pesquisa ela duraria de 2020 a 2030 para investigar práticas transformadoras nas escolas. E começamos a produzir, então, com os alunos da Escola Terezinha [de Jesus Rodrigues] pequenos vídeos.

 

Professor Everaldo Cordeiro e alunos da Escola Estadual Aluízio Lopes Martins/ Foto: Arquivo pessoal

O professor também destaca o pouco envolvimento dos alunos após a pandemia:

 

 “No início, de maneira muito tímida. A gente percebe como educador (...) que há um aceleramento do pensamento do estudante contemporâneo, ou seja, do estudante infanto-juvenil por conta do uso das tecnologias e dos jogos eletrônicos, sobretudo na questão do Freefire e outras mídias, o que leva-os a uma dimensão, segundo alguns pesquisadores, de estarem na dimensão digital enquanto a escola inda está na dimensão analógica, na dimensão mais do livro didático, da lousa, do quadro, da explicação mais oral, mais reflexiva (...) Quando você chama para uma conversa, chama o aluno para dialogar ele trava. Ele, realmente, às vezes, responde mais com alguma reação quando vê um meme, quando vê um vídeo na internet, do que quando você diz leia e interprete este texto, ou então, me diga o que você sabe sobre isso ou sobre aquilo. Então, é uma geração que realmente carece da dimensão basilar da natureza comunicacional a meu ver que é o diálogo. Nós precisamos retomar o diálogo”. O docente tem razão. Para ter total sucesso em qualquer prática, agroecológica ou não, é necessário superar essa ausência de envolvimento quando os alunos são chamados ao diálogo.

Agroecologia é uma forma de agricultura sustentável pautada em sistemas agrícolas que incorporam as questões sociais, políticas, culturais, energéticas, ambientais e éticas, incluindo a agricultura familiar, as hortas comunitárias e a educação socioambiental, o que o entrevistado expõe como no projeto que lidera educomunicação socioambiental. No contexto atual, a educomunicação socioambiental é uma abordagem necessária para lidar com os problemas socioambientais e políticos decorrentes do atual modelo econômico. Assim, os baixos custos de um projeto educativo agroecológico tornam viável a implementação de um trabalho dessa natureza, mesmo que o professor tenha que custear parte dos insumos.

“A gente não tem um projeto formal que seja bancado ou patrocinado pelo setor público ou privado. Eu confesso que, muitas vezes, meto a mão no bolso mesmo e vou fazendo a partir da minha renda com a ajuda de outros parceiros, de outras pessoas da escola que acreditam, que estão ali, e a própria escola dando apoio pra gente no sentido de fazer um cartaz maior, bem elaborado, um minidoor e tal, filmar com drone, por exemplo (...) se ele for melhor elaborado e assumido pela escola nós podemos até conquistar recursos melhores e maiores para isso.”  

Alunos da Escola Estadual Terezinha Rodrigues em ação alusiva ao Dia da Amazônia/ Foto: Arquivo pessoal

A prática proposta pelo educador-filósofo Everaldo Cordeiro, propõe uma ampliação da visão a respeito do lugar em que estão inseridos os educandos. Para tanto, deve-se pensar o lugar em que se vive e conhecê-lo para melhor agir e realizar ações conscientes em relação ao meio ambiente. Essa proposta levanta a reflexão que pode mudar a mentalidade dos alunos. Para tal, é necessário, conforme o professor Everaldo, conhecer o nosso campo de pesquisa, saber onde estamos: 

“Nós temos aí o projeto de trabalhar educomunicativamente ou práticas educomunicativas valorizando, por exemplo, o conhecimento que os alunos e os professores precisam ter, e nós todos precisamos ter do território que habitamos. Qual território é esse, Tapajós de Fato? Do Baixo rio Tapajós. Pelo menos dali de Aveiro, passando por Belterra e chegando a Santarém, conhecer esse lado do rio ou esses lados do rio, as margens direita e esquerda, o que temos de desafio socioambiental, os nossos povos tradicionais, em especial, as populações nativas indígenas, mas também quilombolas, seringueiros, os pescadores, os moradores que ocupam essas áreas, as reservas que temos, além do próprio rio Tapajós. No lado direito, a Flona – Floresta Nacional do Tapajós, que nós estamos batendo nessa tecla para tentar levar alunos e professores para conhecer de perto essa realidade – se não ainda, na prática, mas, pelo menos, teoricamente: quando foi criada, quando foi fundada, quantos hectares tem, quais os desafios que tem. Na margem esquerda, a Resex Tapajós-Arapiuns, mais acima o projeto PAE Lago Grande. Tudo isso já foi temática de nossas feiras do conhecimento nesses três anos que estou na escola. Conhecer as etnias: arapins, borari, mundurukus, tapajó; as áreas de proteção ambiental como a APA do Juá, como a APA do Saubal, como a APA Alter do Chão. Então, tudo isso temos trabalhado para a gente olhar para nós mesmos, porque essa realidade muitas vezes é conhecida por quem é de fora e desconhecida por quem é de dentro mesmo a gente morando aqui”.

Ele conclui falando de um sonho: “A gente sai da escola Aluísio Lopes Martins, onde sonho voltar e integrar com a escola Terezinha um núcleo que a gente resgate lá a educomunicação socioambiental daquela área do Mapiri, Papucu, Salvação, Juá. Mesmo a escola Terezinha não tendo aqui reservas no seu entorno, mas que ela ajude com o seu protagonismo de comunidade escolar comprometida com  a realidade amazônica de sermos mais como diz ou como mostra a farda da nossa escola, que é uma farda de cor predominantemente verde, que foi conhecida como escola cheiro-verde porque tem uma feira do produtor rural há muitos anos, na frente do prédio escolar – por um lado fica o Hemopa, o Hemocentro do Pará; do outro a feira do produtor rural – e ali está a escola Terezinha, que era apelidada de cheiro-verde, de fazer de fato esse empoderamento como uma escola verde rumo à COP 30. Uma escola que conhece a Amazônia, sobretudo o território em que integra, em que faz parte, e defenda promovendo a vida no planeta”.

Nessa perspectiva, fica clara a construção de uma educação socioambiental que valoriza a vida das pessoas e da floresta e dá a devida devolutiva social: sujeitos ativos socioambientalmente, pois, esses alunos, quando saírem da escola e tornarem-se, por exemplo, chefes de família, líderes comunitários, engenheiros, professores, profissionais de saúde, terão levado consigo a prática de ações socioambientais que proporcionará a possibilidade de um futuro sustentável a todos. 

 

Ouça ainda o nosso podcast Não Abra Mão da Sua Terra e confira a entrevista na íntegra. 

 

 

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