O serviço de transporte público coletivo ofertado no município de Santarém é alvo de críticas por seus usuários há algum tempo, seja pela falta de ônibus, seja pela demora, seja ainda pela própria condição sucateada em que os ônibus se apresentam; muitas vezes, apresentando defeito em meio à rota e, consequentemente, causando transtornos aos passageiros.
Além dos problemas acima, que foram citados pela própria população, o valor do serviço também foi criticado; pois, apesar das rotas curtas em Santarém em comparação com outros municípios do Brasil, um estudo mostra que o município tem uma das tarifas mais caras do país, o que prejudica quem mais precisa, a população carente, que, muitas vezes, depende desse meio de transporte para chegar ao trabalho.
Um estudo apresentado no início deste ano, no Valor Econômico, onde se faz comparação em relação ao preço da passagem em 103 dos maiores municípios do Brasil (Santarém aparece na pesquisa), o município de Santarém, que no início deste ano tinha o valor da tarifa do transporte ainda de R$3,80 [passagem inteira], ficou atrás apenas de algumas grandes cidades do Brasil como Porto Alegre, Belo Horizonte, Vitória e Uberlândia, entre outras grandes cidades do país, cuja quilometragem da rota cumprida por cada linha é bem maior que aquelas cumpridas pelos ônibus na Pérola do Tapajós.
As denúncias acerca do transporte público na cidade não começaram recentemente, como apontam empresários e a prefeitura do município. Vale ressaltar que a falta de ônibus em período de recesso universitário, por exemplo, já deixou estudantes com dor de cabeça, assim como a denúncia de superlotação do transporte no período noturno em rotas universitárias.
O aumento tarifário excessivo no município é também um problema que precisa ser questionado ao poder público da cidade, pois, como o Tapajós de Fato destacou no início deste ano, em menos de dois anos, o prefeito de Santarém autorizou o aumento do valor da tarifa do transporte público por três vezes.
E para entender como a população santarena se sente diante do serviço de transporte ofertado, o Tapajós de Fato foi às ruas ouvir a população que depende desse transporte.
A identidade dos entrevistados foi mantida em sigilo, de acordo com o que é assegurado na Constituição Federal, no art. 5º, inciso XIV, o qual garante que seja resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.
Tapajós de Fato: o que você acha da qualidade do serviço ofertado pelo transporte público de Santarém?
Entrevistado 1: “acho que o ônibus que pego é péssimo [...] eu uso a carteirinha para pagar a passagem, mas quem paga 4 reais para andar nessa porc****? com certeza deve achar que está pagando caro”.
Entrevistado 2: “O ônibus não passa no horário, semana passada, inclusive, ele quebrou comigo dentro do ônibus, já foram várias vezes que eu peguei um ônibus e ele estourou o pneu ou ele simplesmente desligou. Na semana passada, fui pegar o São Cristóvão e o ônibus simplesmente desligou”.
Entrevistado 3: “Muitas vezes o ônibus quebra e está sempre atrasado. A maioria deve ser desse jeito, quando você precisar ir a algum lugar específico, com horário marcado e ele sempre se atrasará”.
Entrevistado 4: “Alguns ônibus são bons, mas o do Santarenzinho, ele demora muito dia de domingo, e aos finais de semana. Ele é muito custoso [demorado] e era para dar uma melhorada, que tivesse pelo menos 2 ou 3 ônibus dia de domingo, porque a gente usa ele, mas, quando é o domingo, só é tem 1, e se a gente for para o hospital ou for fazer uma visita, sair para algum lugar e precisar pegar o ônibus no final de semana, a gente acaba demorando muito na parada do ônibus dia de domingo”.
Entrevistado 5: “Acho bem péssima, porque tem locais que são muito distantes e o ônibus é muito quente. Poderia ter mais ventilação ou ar-condicionado, porque é muito longe, eu por exemplo moro longe, e o ônibus não tem ar-condicionado e tem outros que têm uma janela fechada; então, é muito quente até chegar lá. Sem contar que demora demais”.
Entrevistado 6: “O imposto que a gente paga deveria ser usado para melhorar a condição do transporte público. Às vezes, os ônibus são velhos e realmente precisam de manutenção, mas [isso] não tem a importância devida, a prefeitura não dá [a] importância devida, e isso precisa ser valorizado. O povo santareno precisa ser valorizado, a cidade precisa ser valorizada. Se a cidade está progredindo, cadê os órgãos públicos para acompanhar esse progresso e ajudar a melhorar a cidade e os serviços dela?”.
A realidade é que a população santarena não está satisfeita com o transporte oferecido na cidade, além do preço da passagem inteira fixado em R$4,00 que saí pesado ao bolso do trabalhador, têm também os horários e dias dos ônibus. Em dias de semana, o transporte passa até às 22h30 [de segunda a sexta-feira], enquanto na capital paraense as frotas rodam até às 23h30.
Outro problema é que, nos finais de semana, as frotas são reduzidas e os passageiros ficam nas paradas por longas horas, ficando, assim, cada vez mais privados do direito à cidade. Ademais, deve-se questionar o horário em que esse transporte roda pela cidade, suas condições, a fiscalização e sua acessibilidade.
A população está farta das desculpas dadas para os aumentos de tarifas, da falta de resolução de problemas em relação ao transporte público e da omissão da prefeitura em relação à sua responsabilidade quanto ao serviço. Licitações foram derrubadas pela justiça por irregularidades. Enquanto isso, sofre a população que acessa um serviço precário, com frotas de ônibus velhas que já vieram sucateadas [com alta quilometragem] de Manaus, Belém e Brasília [pois não serviam mais para essas cidades]. Todavia, esse transporte descartado em outras cidades é o tipo de transporte oferecido em Santarém.