Usuários do transporte coletivo de Santarém falam sobre as condições do serviço ofertado no município

A qualidade do transporte público de Santarém não agrada usuários, que pedem melhoria na qualidade do serviço ofertado no município.

13/12/2023 às 13h51 Atualizada em 30/01/2024 às 14h55
Por: Tapajós de Fato
Compartilhe:
Reprodução da Internet
Reprodução da Internet

O serviço de transporte público coletivo ofertado no município de Santarém é alvo de críticas por seus usuários há algum tempo, seja pela falta de ônibus, seja pela demora, seja ainda pela própria condição sucateada em que os ônibus se apresentam; muitas vezes, apresentando defeito em meio à rota e, consequentemente, causando transtornos aos passageiros.

Além dos problemas acima, que foram citados pela própria população, o valor do serviço também foi criticado; pois, apesar das rotas curtas em Santarém em comparação com outros municípios do Brasil, um estudo mostra que o município tem uma das tarifas mais caras do país, o que prejudica quem mais precisa, a população carente, que, muitas vezes, depende desse meio de transporte para chegar ao trabalho.

Um estudo apresentado no início deste ano, no Valor Econômico, onde se faz comparação em relação ao preço da passagem em 103 dos maiores municípios do Brasil (Santarém aparece na pesquisa), o município de Santarém, que no início deste ano tinha o valor da tarifa do transporte ainda de R$3,80 [passagem inteira], ficou atrás apenas de algumas grandes cidades do Brasil como Porto Alegre, Belo Horizonte, Vitória e Uberlândia, entre outras grandes cidades do país, cuja quilometragem da rota cumprida por cada linha é bem maior que aquelas cumpridas pelos ônibus na Pérola do Tapajós.

Reprodução TdF

As denúncias acerca do transporte público na cidade não começaram recentemente, como apontam empresários e a prefeitura do município. Vale ressaltar que a falta de ônibus em período de recesso universitário, por exemplo, já deixou estudantes com dor de cabeça, assim como a denúncia de superlotação do transporte no período noturno em rotas universitárias.

 

O aumento tarifário excessivo no município é também um problema que precisa ser questionado ao poder público da cidade, pois, como o Tapajós de Fato destacou no início deste ano, em menos de dois anos, o prefeito de Santarém autorizou o aumento do valor da tarifa do transporte público por três vezes.

 

E para entender como a população santarena se sente diante do serviço de transporte ofertado, o Tapajós de Fato foi às ruas ouvir a população que depende desse transporte.

 

A identidade dos entrevistados foi mantida em sigilo, de acordo com o que é assegurado na Constituição Federal, no art. 5º, inciso XIV, o qual garante que seja resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.

 

Tapajós de Fato: o que você acha da qualidade do serviço ofertado pelo transporte público de Santarém?

 

Entrevistado 1: “acho que o ônibus que pego é péssimo [...] eu uso a carteirinha para pagar a passagem, mas quem paga 4 reais para andar nessa porc****? com certeza deve achar que está pagando caro”.

 

Entrevistado 2: “O ônibus não passa no horário, semana passada, inclusive, ele quebrou comigo dentro do ônibus, já foram várias vezes que eu peguei um ônibus e ele estourou o pneu ou ele simplesmente desligou. Na semana passada, fui pegar o São Cristóvão e o ônibus simplesmente desligou”.

 

Entrevistado 3: “Muitas vezes o ônibus quebra e está sempre atrasado. A maioria deve ser desse jeito, quando você precisar ir a algum lugar específico, com horário marcado e ele sempre se atrasará”.

 

Entrevistado 4: “Alguns ônibus são bons, mas o do Santarenzinho, ele demora muito dia de domingo, e aos finais de semana. Ele é muito custoso [demorado] e era para dar uma melhorada, que tivesse pelo menos 2 ou 3 ônibus dia de domingo,  porque a gente usa ele, mas, quando é o domingo, só é tem 1, e se a gente for para o hospital ou for fazer uma visita, sair para algum lugar e precisar pegar o ônibus no final de semana, a gente acaba demorando muito na parada do ônibus dia de domingo”.

Entrevistado 5: “Acho bem péssima, porque tem locais que são muito distantes e o ônibus é muito quente. Poderia ter mais ventilação ou ar-condicionado, porque é muito longe, eu por exemplo moro longe, e o ônibus não tem ar-condicionado e tem outros que têm uma janela fechada; então, é muito quente até chegar lá. Sem contar que demora demais”.

Entrevistado 6: “O imposto que a gente paga deveria ser usado para melhorar a condição do transporte público. Às vezes, os ônibus são velhos e realmente precisam de manutenção, mas [isso] não tem a importância devida, a prefeitura não dá [a] importância devida, e isso precisa ser valorizado. O povo santareno precisa ser valorizado, a cidade precisa ser valorizada. Se a cidade está progredindo, cadê os órgãos públicos para acompanhar esse progresso e ajudar a melhorar a cidade e os serviços dela?”.

A realidade é que a população santarena não está satisfeita com o transporte oferecido na cidade, além do preço da passagem inteira fixado em R$4,00 que saí pesado ao bolso do trabalhador, têm também os horários e dias dos ônibus. Em dias de semana, o transporte passa até às 22h30 [de segunda a sexta-feira], enquanto na capital paraense as frotas rodam até às 23h30.

Ônibus do transporte público quebrado, em Santarém. Reprodução da Internet 

Outro problema é que, nos finais de semana, as frotas são reduzidas e os passageiros ficam nas paradas por longas horas, ficando, assim, cada vez mais privados do direito à cidade. Ademais, deve-se questionar o horário em que esse transporte roda pela cidade, suas condições, a fiscalização e sua acessibilidade.

 

A população está farta das desculpas dadas para os aumentos de tarifas, da falta de resolução de problemas em relação ao transporte público e da omissão da prefeitura em relação à sua responsabilidade quanto ao serviço. Licitações foram derrubadas pela justiça por irregularidades. Enquanto isso, sofre a população que acessa um serviço precário, com frotas de ônibus velhas que já vieram sucateadas [com alta quilometragem] de Manaus, Belém e Brasília [pois não serviam mais para essas cidades]. Todavia, esse transporte descartado em outras cidades é o tipo de transporte oferecido em Santarém.

 

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
Tapajós de Fato, Amazônia Vox e Carta Amazônia entrevistam Ana Toni, secretária nacional de Mudanças do Clima, sobre expectativas e ações para a COP30
Entrevista Há 2 dias Em Reportagem Especial

Tapajós de Fato, Amazônia Vox e Carta Amazônia entrevistam Ana Toni, secretária nacional de Mudanças do Clima, sobre expectativas e ações para a COP30

Em entrevista para o Amazônia Vox, Tapajós de Fato e Carta Amazônia, Ana Toni abordou esforço para transição energética e importância do engajamento da sociedade para conter mudanças climáticas.
Café e clima: como uma das raras plantações de café do oeste do Pará resiste aos impactos climáticos
Produção Há 1 mês Em Reportagem Especial

Café e clima: como uma das raras plantações de café do oeste do Pará resiste aos impactos climáticos

A Serra Grande do Ituqui é uma comunidade de povos tradicionais, e a produção de café na comunidade é invisibilizada. Seu João Aguiar Santos, é um senhor de 72 anos e é o ‘carro chefe’ da produção de café na comunidade, a partir de suas produções, os demais agricultores compram dele para vender o café na cidade de Santarém e nas feiras de modo geral.
Coletivo Makira transforma narrativas indígenas em histórias em quadrinhos (HQs) incentivando a leitura e a arte na Amazônia
Educação Há 1 mês Em Reportagem Especial

Coletivo Makira transforma narrativas indígenas em histórias em quadrinhos (HQs) incentivando a leitura e a arte na Amazônia

Na contramão do que propõe o Governo, o coletivo desenvolve projetos e atua pelo fortalecimento de uma educação que se conecte e que respeite os povos indígenas, seus territórios, sua oralidade e sua ancestralidade.
Portos no Tapajós: caso da Atem em Santarém é exemplo das fragilidades e irregularidades do licenciamento ambiental na região
Impactos Há 2 meses Em Reportagem Especial

Portos no Tapajós: caso da Atem em Santarém é exemplo das fragilidades e irregularidades do licenciamento ambiental na região

Enquanto o Estado cria estruturas que dão suporte ao escoamento de grãos e combustíveis do agronegócio, não há nenhum investimento para as comunidades tradicionais, ribeirinhas e de áreas de várzeas, que há séculos utilizam os rios da Amazônia para pesca e produção familiar.