Carnaval 2024: bloco santareno leva mensagem de conscientização sobre preservação da natureza em meio a folia e diversão

Em meio a esse momento festivo, trazemos nessa reportagem um bloco carnavalesco com um propósito a mais, além do carnaval. Recentemente, surgiu no Bairro do Mapiri o bloco chamado “SónoMapiri-Quetinha”, trazendo consigo não só a ideia de festividade, mas também a luta pela preservação do meio ambiente.

12/02/2024 às 13h58 Atualizada em 12/02/2024 às 15h07
Por: Tapajós de Fato Fonte: Tapajós de Fato
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Foto: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

Segundo a Enciclopédia Britannica, a origem da palavra carnaval vem do latim carnelevarium, que significa tirar ou remover a carne. Já a comemoração do carnaval vem das festividades finais realizadas pelos romanos católicos nos dias que antecediam a Quaresma, período que acontece nos 40 dias antes da páscoa cristã. O carnaval ocorre em muitos países que têm influência católica, como Brasil, Espanha, Portugal e França.

Por mais que o carnaval e Brasil sejam considerados sinônimos, as festividades tiveram início após a colonização, por parte dos Europeus, tendo suas características finais apenas no início do século XX, quando se incrementou elementos africanos. Atualmente, o carnaval é o evento de maior proporção nacional, sendo considerado feriado por todo país. Diversos foliões esperam ansiosamente pelos 4 dias de músicas, blocos e diversão. Aqui no Tapajós, na cidade de Santarém, não poderia ser diferente. Desde o mês de janeiro, blocos de bairros tomam conta das ruas da cidade, atraindo grandes públicos apreciadores do momento.

Em meio a esse momento festivo, trazemos nessa reportagem um bloco carnavalesco com um propósito a mais, além do carnaval. Recentemente, surgiu no Bairro do Mapiri o bloco chamado “SónoMapiri-Quetinha”, trazendo consigo não só a ideia de festividade, mas também a luta pela preservação do meio ambiente.

O bairro do Mapiri é parcialmente coberto pelo lago que leva seu nome. O lago do Mapiri vem sofrendo constantes ações de degradação que estão comprometendo sua integridade e corre sério risco de poluição. Além de ter ocorrido pesca com bombas repetidas vezes, muitos barqueiros utilizam este ponto do rio para atracar suas embarcações em portos improvisados, contaminando o local com os resíduos provenientes das embarcações.

Área do lago do Mapiri na seca / Foto: arquivo pessoal

Origem do Bloco

Em conversa com Raimundo Mondega, um dos fundadores do Bloco, descobrimos mais sobre a origem deste, que atualmente é um dos símbolos no combate a preservação do Lago do Mapiri.

“O bloco ‘SónoMapiri-queTinha’ não surgiu no Mapiri, por incrível que pareça, ele surgiu no bairro da Aldeia, mais ou menos oito anos atrás. Um grupo de senhores se sentiram um pouco chateados pelo candidato que eles iam votar, não ser escolhido para presidente do bloco Menino das Coroas, do bairro da Aldeia. Eles propuseram então criar novos blocos e surgiu lá o bairro da Aldeia, pelo senhor Ira, o Zeca Moraes, o Gil e o senhor Bodini. Então surgiu lá, com o pessoal descontente pelo fato de que o candidato que eles apoiavam não foi eleito presidente do Bloco das Coroas. Então, como eles sabiam que eu, Raimundo, moro aqui na Liberdade e frequento a igreja do Menino Jesus do Mapiri, me convidaram para participar também. Aí nós fizemos alguns abadas, só que não fizemos abadar igual esses de blocos tradicionais, era feito de uma camisa Hering, com lema ‘SónoMapiri-QueTinha’ e um jaraqui. Aí coincidentemente, a igreja Menino Jesus do Mapiri ia fazer um arrastapé para as crianças, em frente aquela praça da igreja. Nossa coordenadora de pastoral, Maria das Dores, colocou o som e convidou a família, criança com família, isso porque o Cristoval era muito distante e tinha muita gente que não participava por conta disso. Então para o animar o bairro, ela colocou o som musical lá com marchinha de carnaval e eu apareci com essa camiseta. Aí no outro ano já criamos a partir daí, o nosso bloco ‘SónoMapiri-QueTinha’. Claro que eu, Raimundo, fui até os fundadores do bloco e pedi a permissão, para que pudesse usar e nós usamos, eles autorizaram e a partir daí então, usamos esse bloco, no bairro do Mapiri, onde de fato é lá que acontece o nosso bloco, e o Jaraqui, símbolo do bloco, vem do lago do Papucu”.

Praça do Menino Jesus / Foto: arquivo pessoal

Raimundo nos conta também um pouco sobre o apoio da comunidade e a forma como utilizam do bloco para criticar os crimes ambientais, principalmente contra o lago do Mapiri, assim como também conscientizam sobre sua preservação:

“A partir da autorização dos fundadores do bloco que moram no bairro da Aldeia, nós incrementamos no Mapiri, e claro, com o apoio do nosso padre, o padre Genilson, que deu muita força porque nosso bloco, ele sempre grita pela preservação, inclusive se você ver as nossas letras da música, sempre um trocadilho pedindo socorro pelo Lago do Mapiri, pelas praias também. O que acontece em todas as nossas músicas, é que elas se referem a esse lema: ‘o que tinha? o que tem? onde é? o que tinha?  Só no Mapiri que tinha!’ porque realmente é nesse sentido que a gente grita o socorro, a gente faz um trocadilho pedindo socorro e as nossas letras das músicas. Nós que fazemos as músicas, eu e o doutor Cláudio, a gente faz essa parceria e as músicas chamam muito a atenção pelo fato de não ter mais no Mapiri, e a gente tem que ter essa consciência de que somente nós, moradores, é que devemos preservar e não destruir. Hoje a Secretaria de Educação, ela está nos ajudando com algumas coisas que antes era nós tirávamos do nosso dinheiro. Hoje o nosso carnaval nós já estamos com a venda de abada, custa vinte reais e o nosso tema, vamos preservar o Lago do Mapiri. A letra busca isso e essa tem que ter essa consciência. O interessante é que toda a população, tanto do bairro do Mapiri como Liberdade, apoia essa ideia. Por isso que é esse sucesso total e contamos com vocês nesse nosso Carnaval”.

Foliões no Bloco sonomapiri-quetinha em 2023 /  Reprodução: Tapajós de Fato

Por fim, Raimundo conta um pouco sobre algumas medidas adotadas para evitar a geração de resíduos que possam vir poluir o lago e da importância dessa atitude:

“Como o nosso bloco, ele chama a atenção da preservação, esse ano, nós, diretores, proibimos a venda de maisena, nós não vamos vender mais. E também não iremos utilizar muitos copos descartáveis. A gente está lutando em preservar o meio ambiente, e nós, como diretores, temos que dar o pontapé inicial, o exemplo. Nós não vamos vender mais como antigamente nos outros carnavais, claro que também não vamos proibir alguém aparecer lá coberto de maizena ou coisa desse jeito, mas nós, diretores, não vamos vender. Também estamos tentando conscientizar a população de que levem os seus copos, evitar usar o copo descartável, porque se nós temos esse exemplo de nós tentarmos preservar, então o exemplo começa dentro de nossa casa”.

A folia vai acontecer dia 13, terça-feira de carnaval. Inicia às seis horas da noite, com um passeio pelo bairro e depois retorna para a praça, onde vai ter uma banda que vai tocar até 23h da noite. Você está convidado!

 

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Referência utilizadas para Matéria!

https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2023/02/qual-a-origem-do-carnaval

https://www1.ufrb.edu.br/bibliotecacecult/noticias/228-a-origem-do#:~:text=%22Ao%20contr%C3%A1rio%20do%20que%20se,portugu%C3%AAs%20e%20das%20mascaradas%20italianas.


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