Terça, 17 de Setembro de 2024
Território Luta

Coletivo de Mulheres, Juventude e Comunicação do MAM realiza plenárias sobre impactos da mineração na região do Mirí, em Juruti

“Alertar sobre os riscos que a mineração pode trazer ao nosso território e que irá afetar nossas vidas, nossa cultura, região e o nosso bem comum é necessário. Nossos territórios estão sendo ameaçados e vítimas dessas mudanças climáticas, com tantas problemáticas, precisamos agir hoje para ter futuro amanhã”, Artur Silva.

27/03/2024 às 15h10
Por: Thaís Oliveira Fonte: Tapajós de Fato
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Coletivo de Mulheres, Juventude e Comunicação do MAM realiza plenárias sobre impactos da mineração na região do Mirí, em Juruti

Com objetivo de fortalecer o empoderamento das mulheres das comunidades tradicionais que são ameaçadas pela entrada de empresas de mineração e despertar na juventude o anseio de resistir diante dessas ameaças, o coletivo de mulheres, juventude e comunicação do núcleo de Base Raízes Amazonas/Tapajós do Movimento Popular pela Soberania Popular na Mineração (MAM), realizou entre os dias 21 a 23 de março, plenárias com jovens, mulheres e alunos na região do Mirí, que localiza-se no PAE Juruti Velho, no município de Juruti.

O primeiro dia de atividade aconteceu na comunidade de Santa Rita de Cássia, na região do Mirí, com mulheres locais, foi um momento de conversação com as presentes sobre como elas são as primeiras afetadas com a chegada da mineração em seus territórios e as diversas problemáticas que elas são sujeitadas.

Juruti é um município minerado há 14 anos pela mineradora Alcoa, que pretende expandir suas atividades de exploração para outras regiões do município, e uma das regiões mapeadas é a região do Mirí, que hoje abriga 12 comunidades ribeirinhas, por isso o MAM está realizando esse debate com a população, principalmente com as mulheres que serão afetadas diretamente com a chegada desse projeto.

Mulheres participantes / Foto: Tapajós de Fato

 

Além desse debate, aconteceu também a oficina de confecção das Abayomis, que são bonecas feitas de nós e pequenas tiras de tecido, hoje é um símbolo de força e resistência das mulheres, pois tem todo um contexto histórico sobre  a luta das mulheres que foram vítimas do tráfico humano e que foram trazidas da África para o Brasil, na época da colonização. Elas produziam bonecas com tiras de suas roupas como forma de acalentar seus filhos, que passavam junto com elas por momentos de sofrimento. 

Confecção das bonecas / Foto: Tapajós de Fato

Segundo Isabel Cristina, militante do MAM, o objetivo de levar essa oficina para as mulheres da região do Mirí, é uma forma de despertar o empoderamento e o fortalecimento das lutas das moradoras, além de ser uma forma de geração de renda.

“Assim como o rasgo de um pedaço do retalho da sua saia das suas vestes, nós também temos o objetivo de trazer para os territórios da mineração essa reprodução desses objetos, a gente mostra e faz com que as mulheres entendam que elas são as protagonistas dos territórios, que os territórios sejam livres de mineração a partir da sua vivência a partir da construção de um simples objeto da linha de frente para derrotar esse capitalismo que é tão ruim dentro dos nossos territórios tradicionais”, complementa Isabel.

Se você quiser se aprofundar na história das bonecas Abayomis e na oficina que aconteceu com as mulheres, ouça o episódio do podcast Tapajós de Fato, disponível no Spotify:

Ep124 - Boneca Abayomi: símbolo de resistência e empoderamento das mulheres

Construção do mapa de produção e da cartografia social da região do Mirí

A partir de reivindicações dos militantes do MAM da região do Mirí, o segundo dia, pela manhã, foi de atividades na escola EMEF. Professora Maria do Carmo Pereira Menezes, com alunos do sexto ao nono ano do ensino fundamental. A escola, localiza-se na comunidade de Mirí Centro e abrange a demanda de alunos da região.

Conjuntamente com os discentes, foi feito um levantamento dos produtos do extrativismo, da agricultura familiar e criações dos moradores da região.

O objetivo da atividade foi fazer os alunos perceberem que seus territórios são ricos e produtivos e que tudo isso deve ser preservado e protegido, pois, os projetos de destruição querem acabar com essa riqueza das comunidades.

Alunos do Fundamental / Foto: Tapajós de Fato

No segundo momento, foi feita a cartografia social, com mapeamento das cabeceiras, igarapés e comunidades do Assentamento, e como resultado foi desenhado um mapa da região, que ficou na escola para que os professores e alunos conheçam seus territórios e entendam que eles são pertencentes e fazem parte de toda essa geografia. O mapa foi construído com os alunos do ensino médio que pertencem a rede estadual da escola Professora Zenita de Matos.

Mapa construído pelos alunos / Foto: Tapajós de Fato

Juventude e mudanças climática

As juventudes dos territórios, assim como todos, presenciam a chamada crise climática, que tem impactado os modos de viver, seja nas comunidades ou nas cidades.

E dando prosseguimento no seu terceiro dia de atividade, o coletivo de juventude do MAM, reuniu aproximadamente setenta jovens, da região do Mirí, para debater essa temática.

Foram levantadas diversas problemáticas, como: a seca no lago do Mirí no ano de 2023 onde ficou impossibilitado de passar barcos no local, as grandes queimadas na mata, a diminuição de reprodução de quelônios, escassez do pescado e falta de farinha de mandioca, que é uma realidade vivenciada em diversos locais.

Para Artur Silva, jovem da comunidade Santa Rita de Cássia “realizar esse encontro na região, onde a empresa de mineração visa adentrar e minerar, é de suma importância, é uma forma de plantar uma semente e uma curiosidade na mente e no olhar de cada um e deixar também vontade na juventude da região de querer participar entrar no movimento e além disso, alertar sobre os riscos de que uma mineração pode trazer aos nosso território e que irá afetar nossas vidas, nossa cultura, região e o nosso bem comum. Nossos territórios estão sendo ameaçados e vítimas dessas mudanças climáticas, com tantas problemáticas, precisamos agir hoje para ter futuro amanhã”.

Durante a atividade, jovens apresentaram palavras de esperança diante desse cenário de resistência e problemáticas que os territórios perpassam. Fortalecer as bases e as juventudes é um passo para que seja garantido a justiça climática, entender que a juventude é o território, é um caminho para que a luta seja fortalecida e possível. 

“Minha vida é minha terra, meu território é meu lar e por ela vou lutar até que a vida possa me derrubar, mas até lá vou resistir, contra as grandes empresas que a Amazônia querem destruir” -  Rair Bastos, jovem da comunidade de Aparecida.

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