Desde o surgimento das civilizações humanas, havia a tentativa de descrever o cotidiano de forma a ficar registrado para posterioridade. Desde as primeiras grafias da idade das pedras, há mais de 40 mil anos atrás, a humanidade sempre buscou encontrar novas formas de comunicação como forma de se expressar utilizando a oralidade, os símbolos ou os desenhos.
Os estudos mostram que uma das primeiras formas de escrita sistematizada surgiu por volta de 3500 a.C., desenvolvida pelos sumérios da Mesopotâmia. Os registros cotidianos, econômicos e políticos da época eram feitos na argila, com símbolos formados por cones.
Há milênios a comunicação por escrita vem sendo desenvolvida, e com os atuais recursos tecnológicos criados, se tornam cada vez mais difundida em nossa sociedade. Atualmente, muitos usam da escrita para expressar seus sentimentos e também expressar seus pontos de vista sobre determinado assunto, sendo cada vez mais frequente, a presença de pessoas que escrevem poemas, poesias, textos e livros.
Aqui na região Oeste do Pará não seria diferente. Especialmente na cidade de Santarém, jovens e promissoras autoras surgem no cenário cultural, levando suas ideias, expressões e pensamentos para o público local. O Tapajós de Fato entrevistou três autoras locais: Jenna Valéria, Amanda Brito e Greice kelly. Que nos contaram sobre suas histórias de vida, as motivações que as levaram a se tornarem autoras e suas criações.
JENNA VALÉRIA
“Sou santarena, tenho 24 anos, 3 cachorros e um amor imenso pela literatura. Coleciono livros, principalmente, de suspense policial, romance, poesia e alguns gibis da Turma da Mônica desde que aprendi a ler. Considero quase impossível ser brasileira e não ser apaixonada pelas criações do Maurício de Souza. Sempre fui uma leitora voraz e verdadeiramente fã das palavras. Acho encantador poder imergir no irreal.”
Ela conta que começou a escrever em 2016 apenas por hobby. “Acompanhei uma história na internet que a autora deixou sem final e fiquei muito chateada na época. Então, decidi que faria uma história e não deixaria meus possíveis leitores sem final. Comecei a escrever histórias despretensiosamente e quando vi estava apaixonada pela escrita também. No início, escrevia romances clichês, apenas pelo hábito. Então, em determinado momento uma das minhas personagens escrevia poesias e meus leitores na época queriam saber o que tanto ela escrevia. Decidi embarcar na poesia assim, apenas para atender pedidos e acabei me encontrando nas poesias”.
Em 2021 ela publicou seu primeiro livro físico, chamado “Eu não disse, mas escrevi”, e no ano passado (2023) publicou o segundo, chamado “Nunca te prometi palavras bonitas”. Os dois foram publicados pela Editora Voz de Mulher e ilustrados por sua amiga Katrine Lima, que é manauara. Ela possui outras oobras escritas, mas dentre elas revela que esses foram seus títulos favoritos por um tempo.
“As minhas obras surgiram primeiro como poesias soltas, era um grande desabafo de uma época não muito boa. Contudo, depois de um tempo acabei gostando do resultado e passei a trabalhar um pouco a poesia, testando o que e como eu conseguia fazer. Nos dois livros, trabalho com ideias parecidas, a divisão do livro em 3 partes principais que julgo importantes. Acabei falando desde o amor próprio, a tristeza e amizade. Emoções causadas a partir do envolvimento com o outros, o que acaba gerando identificação e eu fico muito feliz sempre que ouço que toquei alguém. Acho que esse é o principal sentido da palavra, ser capaz de tocar outras pessoas. Acredito que minhas obras são parte do que sou/fui, representam minha história. São importantes por me fazerem sair do que eu achava ser minha zona de conforto, a leitura. E me deixar um pouco mais exposta ao mundo. Considero importante para a sociedade no sentido de que não preciso usar termos regionais para que meu livro seja considerado regional. Pois não falo necessariamente de Santarém ou do Pará. Recentemente, em meu Trabalho de Conclusão de Curso de Gestão Pública e Desenvolvimento Regional, escrevi que “Tudo aquilo que for produzido por um artista amazônida será regional, será arte”.
Jenna ainda nos fala sobre as dificuldades encontradas por ela como autora para promover suas criações:
“Sinto uma imensa falta de locais destinados exclusivamente à literatura na cidade, e mesmo com essa ausência, consegui publicar dois livros santarenos. É um fortalecimento muito grande da nossa cultura”.
AMANDA BRITO
“Sou uma escritora paraense, nasci em Santarém onde vivo até hoje. Atualmente trabalho no Instituto Federal do Pará, na área de Gestão de Pessoas. A arte sempre esteve ao meu lado me guiando, me dando suporte, ainda que eu não tivesse consciência disso. Com o tempo percebi que eu não era apenas alguém que gostava de ler, eu queria me expressar através da escrita. Foi um longo processo de aceitação do próprio desejo porque minha trajetória acadêmica foi construída para eu ser tudo, menos artista. Hoje, como escritora, sei o quanto é libertador tornar-se quem se é.”
Em 2017 ela sentiu a necessidade de escrever, mas apenas de uma forma terapêutica, para entender melhor suas emoções. “Depois já não era mais sobre minhas emoções que eu queria escrever, eu queria contar histórias, criar narrativas. Queria me expressar através dos personagens. Foi nesse momento que entendi que queria ser escritora”.
Suas maiores inspirações são os autores que conseguem captar a humanidade em todos os aspectos, como vulnerabilidade, mediocridade. “O humor também é importantíssimo para mim porque o riso ajuda a tocar em assuntos que sem ele seria mais difícil de tocar. Giovana Madalosso, Fernanda Torres, Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Anton Tchekhov são mestres nisso. E Clarice Lispector é para mim quem melhor adentra a alma humana em toda a sua complexidade. Todos esses autores são grandes inspirações”.
“Em 2021 publiquei meu primeiro livro, uma coletânea de contos chamada “A Felicidade Obscena". Agora em 2024 vou publicar meu primeiro romance. A Felicidade Obscena representa o começo de tudo, capta bem a essência da minha escrita, os personagens são engraçados, angustiados, vivem em busca da felicidade e nunca conseguem encontrá-la. Já o meu segundo livro mostra a trajetória de personagens que mesmo com muito esforço não se tornam tudo o que queriam ser. Vejo as minhas obras como um reflexo do meu olhar para o mundo, elas representam a forma como eu enxergo a vida e as pessoas. Quando alguém com esse mesmo olhar lê meus livros a catarse acontece, é bonita essa conexão entre autor e leitor. Para mim isso é o mais importante”, finaliza.
GREICE KELLY
“Meu nome é Greice Kelly, nascida em 1999 em Santarém- PA, universitária, fazendo a graduação de bacharelado interdisciplinar em ciências e tecnologias das águas na UFOPA, poeta e escritora, tive minha primeira apresentação em um Puxirum Cultural na Casa da Cultura em 2019, onde tive minha primeira declamação autoral que abriu portas para novas ideias e conceitos. A partir desse evento minha escrita e declamações ficaram mais fluentes, participei de vários eventos culturais produzidos pela cidade. Já em 2022 lancei meu primeiro livro intitulado "Eu entendo, mas preferi sentir ", baseado em histórias de pessoas próximas e vivências, um livro repleto de poesias dramáticas, acolhedoras e calorosas. E em 2023 tive o prazer de expor minha primeira obra na feira do livro pan-amazonica.”
Ela conta que a vontade de ser autora veio através da leitura e incentivo de pessoas próximas. “Eu sempre gostei de ler poesia e escutava música ao mesmo tempo, juntou uma coisa com a outra e comecei a escrever. Umas das minhas primeiras inspirações foi Vinícius de Moraes e Rupi Kaur, me apaixonei pelos sonetos de Vinícius e me identifiquei com as poesias rápidas de Rupi Kaur”.
"Eu entendo, mas preferi sentir" é sua primeira obra e única até o presente momento. “Ela fala sobre algumas situações que não costumamos esquecer e muito menos falar a respeito delas. Leva muito o pensamento de que tudo faz parte da mesma moeda, tudo tem seus dois lados. Eu entendo, mas preferi sentir fala da dor que talvez todos já passaram, do sentimento leve de um momento breve e do calor da emoção. Fala, ainda, da indecisão de expor o que sente, daquilo que se passa apenas na própria mente e da chama efervescente”.
A segunda obra ainda está em execução, e será algo mais brando. “Tento transmitir para os leitores um olhar de compreensão, uma leitura simples e rápida em que o público possa se identificar e sentir cada palavra e sentimento depositado ali”.