Com o avanço da soja na região do Planalto santareno, localidade próxima ao município de Santarém na região oeste do Pará, agricultores familiares têm sentido o impacto do uso de agrotóxicos próximo as suas plantações, que tem ocasionado na diminuição da produção de alimentos saudáveis, na contaminação da água e transformado a paisagem.
O documentário "Além da Estrada", produção da Souza.DOC, retrata essa realidade e mergulha na vida e nas mudanças dessa região e de algumas comunidades que o cercam, na região do Baixo Tapajós. O filme acompanha a jornada de agricultores locais que lutam para preservar seu modo de vida em meio à expansão do agronegócio.
“Nós somos agricultores desde sempre, só que antes a gente plantava feijão, arroz e mandioca, mas hoje não dá mais nem para disputar, tem tanto sojeiro hoje que planta tudo isso que nem adianta mais a gente plantar. Hoje na nossa terra só temos plantações frutíferas, que é o que ainda dá. Nessa estrada aqui, antigamente era só floresta de um lado e de outro, hoje em dia a gente anda e é soja de um lado e soja do outro” conta Marlene dos Santos, agricultora familiar na região do Planalto santareno.
De acordo com relatório da Organização Terra de Direitos, a instalação de um porto sojeiro em Santarém fez aumentar casos relacionados a agrotóxico em comunidades do Planalto santareno como Belterra, Cipoal e Tabocal. Os moradores desses territórios denunciam que os agrotóxicos utilizados nas plantações de soja próximos a escolas, igrejas, casas e quintais produtivos têm contaminado as fontes de água, essenciais para essas comunidades.
Com direção de Rute Araújo e Victor Souza, o filme “Além da Estrada” estreia nacionalmente no dia 14 de julho, gratuitamente, no site bombozila.com, e busca despertar os olhares para a transição da paisagem ao longo da estrada que atravessa essas comunidades, do verde e da floresta em pé para o marrom queimado da soja.
ENGOLINDO E DESTRUINDO COMUNIDADES
O agronegócio em Santarém, afeta negativamente a agricultura familiar de diversas maneiras, uma delas é exercendo pressão sobre esse modo de agricultura tradicional resultando na redução de quintais produtivos e da diversidade de legumes, verduras e plantas medicinais cultivadas.
De acordo com dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) entre 2000 e 2020, a área de soja no município cresceu para 1.2 milhões de hectares, enquanto a produção familiar, como mandioca, milho e açaí, diminuiu drasticamente.
Outro ponto negativo é a concentração de terras por grandes empresas que vem “engolindo” as terras da agricultura familiar e se alojando próximo aos que resistem na produção de cultivos tradicionais, tendo que conviver com as queimadas e os agrotóxicos de perto.
A agricultura familiar está diretamente ligada a identidade cultural e histórica de um povo, em que conhecimentos são passados de geração para geração através do cuidado com a terra. A sua perda, em comunidades com as do Planalto santareno, gera impactos negativos para toda a sociedade, já que diminui a produção de alimentos saudáveis que abastecem as mesas de Santarém e cidades vizinhas, como também a perda de saberes tradicionais como remédios e plantas medicinais, importantes para a cultura desse povo.
Trailer oficial: https://youtu.be/b0bTw0UsxcE?si=IT0Ida9ETdLjvp7F