Sábado, 20 de Abril de 2024
Amazônia Opinião

Que tipo de desenvolvimento queremos para Santarém?

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28/08/2020 às 15h27
Por: Ciro Brito Fonte: Ciro Brito
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Imagem da internet
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Santarém é um dos municípios mais importantes da Amazônia brasileira, sendo o terceiro maior município do Estado do Pará. Reconhecida internacionalmente como um destino turístico de impressionantes belezas naturais e boa gastronomia, também vem crescendo nas últimas décadas na atração de investimentos econômicos de diversos setores como agronegócio, comércio e serviços.

 

Com uma população de 304.589 habitantes (IBGE, 2019), estima-se que concentra apenas na sua região metropolitana (municípios de Belterra e Mojuí dos Campos) mais de 340 mil habitantes. Considerada como polo da região Oeste do Pará, por aqui diariamente circulam pessoas de municípios circunvizinhos como Monte Alegre, Alenquer, Prainha, Juruti, Itaituba e outros.

 

A pujança santarena é acompanhada e monitorada socialmente por muitos cidadãos que individualmente, principalmente por meio das redes sociais, ou mobilizados em grupos, movimentos sociais ou entidades de base acompanham as tomadas de decisões dos poderes público e privado e tencionam os rumos do desenvolvimento da Pérola do Tapajós. Foi assim em relação a discussão do Plano de Diretor da cidade e atualmente em relação a construção de uma passarela de concreto na orla da praia do Maracanã.

 

Os debates na arena pública santarena contemplam grupos que se posicionam contrários e favoráveis a determinado empreendimento, iniciativa jurídica ou ação administrativa da Gestão municipal. Natural que assim o seja nos tons democráticos. Nessa arena, um elemento que se percebe tomar cada vez mais corpo nos argumentos de ambas as posições é o ambiental. Isso porque aumenta-se a consciência da importância mundial da Amazônia e de como somos privilegiados por morarmos na encruzilhada dos rios Tapajós e Amazonas, e de como nossa rica biodiversidade encontra-se em perigo devido ao elevado grau de desmatamento e queimadas que vem sofrendo nos últimos anos.

 

A vida na Amazônia está em perigo? Alguns creem que sim e outros que não, mas é comprovado que os recursos naturais são finitos sendo, por isso, exigido uso consciente e racional desses recursos, tanto por parte da iniciativa pública quanto por parte da iniciativa privada.

 

Esse uso racional dos recursos naturais é chamado de desenvolvimento sustentável, que é o tipo de desenvolvimento que contempla as necessidades ambientais atuais sem comprometer as futuras gerações de atenderem suas próprias necessidades – segundo o relatório Nosso Futuro Comum da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1987.

 

Percebendo os impactos ambientais e climáticos do mau uso dos recursos naturais, o mundo todo vem, nos últimos anos, trabalhando em prol do desenvolvimento sustentável.

 

Em novembro de 2015, por exemplo, houve a reunião da Cúpula de Desenvolvimento Sustentável em Nova Iorque. Lá, todos os países da ONU, incluído o Brasil, compactuaram coletivamente novos rumos para o desenvolvimento da humanidade gerando a chamada Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e criando 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Um desses objetivos - Cidades e Comunidades Sustentáveis - é justamente tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis[1].

 

Em outubro do ano passado, a Igreja Católica convocou o Sínodo para a Amazônia, um encontro que discutiu os rumos ecológicos da ação da Igreja na Amazônia até a atualidade. Esse encontro foi considerado como o início de uma mudança de postura na ação missionária da Igreja, que admitiu que deu sua contribuição para a não preservação da Amazônia. Por isso, no seu documento final assumiu o compromisso de passar a perseguir os valores da ecologia integral[2].

 

No Brasil, o desenvolvimento sustentável encontra-se resguardado no artigo 225 da nossa Constituição Federal (1988): “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Mais do que nunca, portanto, reforçou-se a necessidade de preservar e conservar a Amazônia.

 

Mas afinal, será que o desenvolvimento sustentável está nas mesas de discussão da Prefeitura e suas Secretarias? Será que está na Câmara de Vereadores de Santarém? Será que está na discussão entre os empreendedores do nosso munícipio? Será que está nas nossas mídias? E nas nossas conversas com amigos e familiares?

 

O desafio rumo ao desenvolvimento sustentável é muito grande e passa por nós incluirmos esse tema nas nossas discussões cotidianas e assim irmos construindo opiniões e argumentos a respeito. Por isso, é preciso que pautemos o desenvolvimento sustentável, cientes que estamos na Amazônia e que ela sofre risco ambiental e climático e ao mesmo tempo é foco de grandes projetos que se dirigem em sentindo contrário ao do desenvolvimento sustentável.



[1] O documento integral você encontra neste link: https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/

 

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