Aconteceu nesta sexta-feira (19) em Santarém, a visita da Ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que participou da inauguração das novas sedes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e da inauguração do Ecocentro que atenderá produtores locais comercializando produtos da sociobiodiversidade e que incentivam o consumo de produtos agroflorestais que contribuem com a manutenção da floresta em pé.
O evento contou também com a presença da Ministra alemã de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Svenja Schulze.
Durante a inauguração do novo prédio do ICMBio, servidores que estão em greve, fizeram um ato e leram uma carta reivindicando reajustes e melhores condições de trabalho.
Gabriel de Toledo, servidor do ICMBio e que também faz parte do movimento de greve, expôs em entrevista à equipe do Tapajós de Fato, os motivos que os levaram a fazer as reivindicações.
“Desde o primeiro dia aliás, vinte e quatro de junho, alguns estados entraram em greve e o resto entrou no dia primeiro de julho e três dias depois o STJ soltou uma liminar comunicando lá uma decisão, e julgaram nossa greve ilegal e que a gente deveria retornar cem por cento das atividades em todas as áreas. Ou seja, cercearam o nosso direito de greve, né? Nos organizamos, recorremos, teve conversas dos presidentes do IBAMA e do ICMBio com o STJ e com os advogados das associações que representam os servidores ambientais da carreira federal. Hoje a gente está aproveitando o momento que a ministra Marina Silva vai estar aqui junto com as ministras da Noruega e da Alemanha pra gente aproveitar e se manifestar e mostrar a nossa insatisfação com o governo, com a o ministro e a com o Ministério do Meio Ambiente, com o Ministério de Gestão, que é quem está negociando os nossos pedidos de valorização, reestruturação da carreira”.
O IcmBio desenvolve atividades essenciais em áreas remotas e áreas de preservação, seu trabalho contribui com a gestão de unidades de conservação federais, além de propor a criação, regularização fundiária e gestão das Unidades de Conservação Federais; e apoiar a implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Assim, em campanhas de governo se ouve o discurso sobre valorização do Meio Ambiente, e os servidores não sentem essa valorização, como comenta Gabriel de Toledo.
“Nós não estamos sentindo que as palavras do governo desde a campanha, até durante o governo, valorizam o meio ambiente. Nós não sentimos isso, porque nós somos a frente de quem defende milhões e milhões de hectares de áreas protegidas, entre terras indígenas, quilombolas, unidades de conservação federal e em ambiente marinho terrestre tudo, todos os ambientes do Brasil especialmente na Amazônia, a gente não recebe e não tem condições de trabalho que são condizentes com a complexidade do nosso trabalho. Faz mais de dez anos que nós não temos reposição salarial, tivemos uma merreca aí de quatro e meio por cento esse ano, e mais de quatro e meio pro ano que vem, e isso não não tapa nem o buraco da inflação que ocorreu durante dez anos que supera os cinquenta por cento e as nossas propostas todas foram negadas pelo MGI, o MGI, que cortou as conversas conosco e assim a gente está está no limbo e nós queremos que volte a mesa de negociação e queremos ser valorizados porque assim não dá pra trabalhar”.
Essas foram as reivindicações dos servidores no ato durante a passagem da Ministra Marina Silva, bem como a leitura e entrega da carta aberta à ministra.
Em sua fala, a ministra destaca que os servidores têm o direito de se mobilizar, e que pessoas impediam os servidores de exercerem esse direito e que o governo entende que com uma situação de autoritarismo, de perseguição fica muito difícil se mobilizar, e que esse é um primeiro fruto da democracia, “o direito de se manifestar”, e que diante do comunicado da AGU- Advocacia Geral da União, o ministério de Meio Ambiente não foi consultado em relação a essa decisão. Ela aponta ainda sobre os seis anos de demanda reprimida de governos que não tem compromisso com essa agenda, e como tudo o que foi reprimido recai sobre o governo atual, e enfatiza que a questão ambiental é de grande importância não só para o governo e para o Brasil, mas para o mundo. Marina diz ainda que após ter entrado para o governo captou recursos para o Fundo Amazônia, que foi de três bilhões para seis bilhões.
Aconteceu também a inauguração do Ecocentro na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém- STTR.
Durante a inauguração, foi mostrado o espaço onde acontece o processamento da andiroba e do mel de abelha jandaíra, e a ministra foi presenteada com produtos da bioeconomia como chocolates, trançados do Arapiuns e outros artesanatos produtos da bioeconomia local.
Estiveram presentes no evento lideranças indígenas, Acosper, representantes dos movimentos, que falaram da importância da bioeconomia e sustentabilidade, e do Ecocentro para a movimentação da economia aos produtores e agricultores da região Oeste do Pará. Ivete Bastos, presidente do Sttr e liderança local, compôs a mesa de inauguração e abertura do Ecocentro, compartilhou conosco a relevância desse empreendimento.
“Para nós do STTR de Santarém e como mulher, como militante da luta dos movimentos sociais, associada das associação de mulheres AMTR, da cooperativa Acosper a qual nós junto com o PSA promovendo essa vinda da ministra, para nós foi muito importante esse momento que marca um ato que eu digo até que legaliza um empreendimento que vai atender a nossa perspectiva de uma pauta de reivindicação, de uma demanda que vem dos povos da floresta, das reservas, dos assentamentos”.
Para os agricultores da região oeste do Pará, o Ecocentro atende muitas expectativas e faz parte de um sonho que abriga a luta dos povos por seus territórios. Movimentar a economia com produtos feitos por mãos que protegem a floresta é um modelo a ser aderido pois contrapõe grandes empreendimentos que impactam negativamente a região e as florestas.
“Então esse empreendimento inaugurado pela ministra Marina, a gente fica muito feliz por ela ter dado essa credibilidade de vir pra esse momento, é muito importante principalmente num momento como esse em que a crise climática assola a nossa região e a gente tem muita perspectiva de que o meio ambiente possa criar, fazer ou cuidar um pouco mais das das questões ambientais e fazer com que os órgãos levem com mais seriedade no sentido de impedir tudo aquilo que destrói, que degrada a nossa Amazônia, como os grandes empreendimento do agronegócio”.
Assim, os povos seguem na luta para ocupar os espaços, e almejam que o governo que sempre os escutem e que consigam sobreviver e viver em seus territórios, produzindo seu próprio alimento sem a perseguição do grande capital que destrói e derruba as florestas e agrava a Crise Climática.