O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR) realizou na última segunda-feira (29), em sua sede, o seminário Crise Climática e as Ameaças à Segurança Alimentar. O seminário, voltado para discutir os impactos da crise climática na produção dos agricultores familiares de toda a região, tinha como público prioritário a base sindical do STTR, mas contou também com a participação de diversas organizações locais e representantes governamentais.
Ivete Bastos, presidenta do STTR de Santarém, enfatiza que esse seminário é uma oportunidade de discutir o tema com a base sindical, com as representações sindicais de todas as regiões de Santarém, para levantamento de demandas.
“No ano passado, nós participamos de vários debates, mas como nós tínhamos muita dificuldade para trazer as nossas lideranças, era só a representação do sindicato com outras representações da Resex, da FETAGRI e outras organizações parceiras. Mas a gente resolveu fazer agora, porque há muita queixa quando eles [a base] não estão juntos construindo. Eles dizem que as organizações representativas também estão fazendo descaso. Então a gente resolveu mudar a dinâmica e trazê-las, todas as comunidades vieram participar neste debate”, pontua Ivete.
A programação do evento, que iniciou por volta das 8h, contou com a participação de representantes de alguns ministérios do Governo Federal, dentre eles a srª Márcia Muchagata representando o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome - MDS; o Srº Leonardo Queiroz Correia, representando o Ministério do Meio Ambiente - MMA; o Srº Ivan Medeiros Lustosa Junior, Coordenador de Pesquisa e Inovação/DINOV/SAF, e o Srº João Carlos Silva Reis, Coordenador-Geral de Articulação Parlamentar/ASPAR-MDA, representando o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar - MDA; e o Srº Cristiano Quaresma de Paula, representando o Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA.
“A programação iniciou por volta das oito e meia hoje, onde a primeira mesa, que a gente fez a mesa de debate, foi justamente com as lideranças que vêm da base, delegados sindicais, diretorias regionais e outras pessoas também representadas por região. O objetivo nosso era ouvir a dificuldade colocada principalmente por eles, e diante disso, nesse mesmo momento, a gente tinha online quatro ministérios que estavam ouvindo aquilo que estava sendo colocado, as dificuldades que estavam sendo colocadas pelos trabalhadores, e depois a segunda parte foi a gente ouvir esses ministérios relacionados com as políticas públicas que eles teriam, ou ideias para colocar que possam amenizar a situação dos trabalhadores sofridos na época da estiagem”, explicou Francinaldo do Nascimento Miranda da assessoria de comunicação do STTR e um dos organizadores do seminário.
O seminário tinha por intuito discutir as problemáticas e dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores rurais no período de estiagem severa que vêm assolando a região de forma corriqueira. 2023 foi o ano mais quente e representou umas das secas mais severas que a região do Tapajós sofreu nos últimos anos, da mesma forma, os pesquisadores, especialistas climáticos e meteorologistas afirmam que a estiagem deste ano será pior que a do ano passado, nesse sentido, os trabalhadores rurais que ainda nem se recuperam das perdas referentes ao ano passado, estão preocupados em relação a esse ano.
“A gente vive uma crise tão caótica que a própria floresta não tem mais alimento para alimentar os bichos, os pássaros, macacos e outros animais silvestres, eles estão vindo todos para casa da gente. Então é uma situação muito desafiadora. Esse calor insuportável, as caixas d'água todas ficam extremamente aquecidas, escaldantes. Isso aconteceu no ano passado, mas foi lá para final de setembro, outubro e esse ano nós estamos em julho vivendo toda essa seca já, dos canais, dos igarapés e não tem peixe, não tem como, a gente tá com muita dificuldade para produzir. Esse período é um período que se planta na várzea e a terra de várzea nunca negou, mas está, então é muito grave essa crise, é muito mais grave”, comentou Ivete Bastos.
Os organizadores enfatizam que diante das dificuldades apontadas e da preocupação por parte do sindicato que representa os trabalhadores rurais, o seminário foi pensado como um momento de fazer levantamento de demandas, de conversa com os representantes do ministério e de se mobilizar e organizar para cobrar.
“Diante das dificuldades que eles colocaram de manhã, agora à tarde o objetivo é ouvir quais são as propostas que eles têm, o que que eles querem de política, para que possa estar assegurando também nesse período de estiagem. Então a gente vai fazer esse levantamento de propostas, com o objetivo de construir uma carta a ser socializada no final do evento aqui com eles, e depois essa carta poderá ser assinada por todos os parceiros que estão aqui e por aqueles que não estão, mas que tem interesse também de assinar, para ser encaminhada aos ministérios”, enfatiza Francinaldo Miranda.
Ivete Bastos relata que diante da realidade posta, não dá mais para ficar esperando, é urgente que medidas a curto, médio e longo prazo sejam tomadas. “Nós não temos efetivação de políticas públicas, nem para irrigar, nem para mecanizar, nem para o crédito. Tudo é difícil esse acesso. Mas a gente precisa se alimentar e alimentar quem está na cidade”.
O evento contou ainda com a participação de diversas organizações da sociedade civil parceiras do sindicato, como a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE Amazônia), o Movimento Tapajós Vivo (MTV), a Federação das Associações da Gleba Lago Grande (FEAGLE), o Conselho de Pesca, o CNS, a Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais (AMTR), a FETAGRI, a CUT Pará, a Universidade Federal do Oeste do Pará, o Projeto Saúde e Alegria, entre outros.