No dia 17 de agosto, sábado, o projeto Clube da Luta Feminina realizou um dia de atividades para debater sobre democracia e mulheres, com participantes do projeto do bairro Juá, o encontro também contou com uma oficina de pintura de pano de prato.
Com sede no bairro Santarenzinho, o encontro reuniu cerca de 14 mulheres iniciando o sábado com uma roda de conversa que teve como tema “Não há democracia sem a presença de mulheres”, em seguida fez um momento de escuta de demandas das participantes sobre o que desejam para suas vidas e de seus territórios, e finalizou com uma tarde de oficina de pintura de pano de prato.
Roda de conversa: “Não há democracia sem a presença das mulheres”
O primeiro momento trouxe a reflexão a partir de uma dinâmica denominada “teia”, mediada por Isabelle Maciel, idealizadora do projeto “Clube da Luta Feminina”, onde mostrou a maneira como as mulheres de diversas áreas, principalmente periféricas, se conectam entrecruzando histórias e se fortalecendo na união do encontro ao conhecimento de seus direitos, especialmente mulheres da ocupação do Juá que residem e resistem garantindo a permanência pelo direito à moradia.
Partindo dessa organização e conexão das mulheres é que se desenvolveu a roda de conversa que discutiu o tema “Não há democracia sem a presença de mulheres”, mediada por Maria Santos, apoiadora e voluntária no projeto, onde o pontapé inicial foi a partir da pergunta norteadora: o que é democracia?
O momento foi de fala e escuta onde as mulheres expuseram diversas histórias acerca de suas próprias vidas e entendendo seu papel político social diante de uma estrutura opressora, e compreenderam quanto a importância de seu voto para a transformação social e garantia de exercerem a democracia acreditando que uma participação ativa faz diferença na transformação, mudança e melhorias nas estruturas de vida nos seus territórios. As mulheres pautaram fortemente sobre as questões de gênero e como observam as desigualdades em suas vidas cotidianas, mas também, como enfrentam essas realidades buscando conhecimento, participando de projetos como o “Clube da Luta Feminina” e fazendo valer a ideia de ocupar os lugares onde elas desejam estar.
Dentre as falas das participantes, se destaca a fala de Fátima Souza, uma das participantes do encontro. Diante da pergunta “O que é democracia para você?” ela respondeu:
“Acredito que democracia é a gente estar em um lugar onde a gente nunca pôde alcançar, digamos, a política por exemplo, é difícil a gente chegar num lugar desse, porque precisa de muita qualificação, precisa de estudo, e, eu acredito que a democracia mostra que a gente pode alcançar, chegar um pouquinho mais pra frente”.
A roda de conversa contou com a presença de duas convidadas que tem um papel social importante em Santarém, Odete Costa, primeira vereadora negra de Santarém e artista cênica, e Norah Costa, mulher cientista e ativista amazônida, ambas fizeram parte da roda de conversa e contribuíram com o momento da roda de conversa.
Norah Costa pontuou sobre a importância de as mulheres estarem nesses espaços de discussão sobre democracia.
“...Bom, hoje foi um dia muito legal, porque estar na presença de mulheres sempre é muito bom, principalmente por discutir a democracia, discutir política, que permeia tanto o nosso dia a dia, e como a gente comentou hoje, as mulheres elas estão nesses espaços, elas precisam estar nesses espaços e é importante também que a gente discuta sobre política porque é o nosso dia a dia, é o que a gente come, é o que a gente veste, é o que a gente fala. E com essas mulheres aqui foi uma troca na verdade né, porque eu aprendi com elas, elas aprenderam comigo e assim a gente consegue fazer uma revolução, e a revolução ela vem de mulheres sim”.
Entendendo suas histórias, compartilhando suas experiências, concepções acerca da democracia e acreditando que a revolução vem das mulheres, se construiu um novo passo a partir dos desejos dessas mulheres, quais seus desejos, o que as mães das periferias desejam para suas vidas, seus filhos e seu bairro. Pensando nisso, o Clube da Luta Feminina deu início a uma campanha sobre o que as garotas querem.
Campanha: As garotas só querem…
Inspirada na música de Cyndi Lauper “Girls Just Want To Have Fun”, que em sua tradução diz “As garotas só querem se divertir”, foi iniciada no segundo momento do encontro, a campanha “As garotas só querem…”, onde com um “toró de ideias” as mulheres expuseram seus desejos e o que elas querem, cada uma teve seu momento de fala e escuta sobre as demandas desejadas sobre direitos, democracia e políticas públicas para as áreas periféricas da cidade de Santarém.
Dentre algumas coisas enumeradas pelas participantes estão: sáude mental, saneamento básico, respeito, creches e escola para seus filhos - importante destacar que elas sempre pensavam também nas outras mulheres e mães do bairro que igualmente a elas não têm acesso a essas políticas públicas- unidades de saúde, praças para lazer, dentre outras demandas identificadas por elas que o bairro do Juá precisa urgentemente enquanto políticas públicas. E assim montou- se o painel onde elas escreveram tudo o que “as garotas só querem”, a campanha será veiculada nas redes sociais do projeto através do perfil do instagram (@clubedalutafeminina.stm) a partir de artes e vídeos com conteúdos de falas das participantes.
Oficina de pano de prato: Pintando Democracia
Entendendo que lugar de mulher é onde ela quiser, o terceiro passo foi a oficina “Pintando a Democracia”, onde através dos panos de prato as participantes puderam pintar frases e desenhos de empoderamento para enfatizar que para além da cozinha, mulheres podem ocupar vários espaços na sociedade, e inclusive, políticos.
Com a realização da oficina “Pintando a democracia” o momento da prática de arte como manifestação política estampada nos panos de prato trouxe a contraposição sobre a imposição social de lugar de mulher ser só na cozinha ou na beira do fogão, os panos de prato foram pintados a fim de reforçar a importância do poder que as mulheres têm em suas mãos de promover grande transformação social partindo de seus cotidianos, e em práticas diárias de empoderamento de si mesmas, de suas filhas e filhos.
A oficina também teve como objetivo a partir da pintura e diversas outras artes já realizadas pelo Clube da Luta Feminina, reforçar a importância do empoderamento econômico, pois a fragilidade econômica é o que faz com que, em diversos casos, as mulheres fiquem vulneráveis e sujeitas a violências. Enfatizar a capacidade empreendedora das mulheres e fazê- las acreditar que suas vidas podem ser transformadas com seu poder de mobilização e união, assim como na frase, “mulheres são com água, crescem quando se encontram”, estimula as mulheres das periferias a se organizarem e balançarem as bases dessa sociedade todos os dias, que mesmo ainda sem acesso a políticas públicas conseguem sobreviver e educar os filhos com a grandeza de seus trabalhos.
Entrega da carta de demandas para única mulher candidata a prefeitura de Santarém
Durante a oficina foi elaborada uma “carta de demandas” que as mulheres entregaram à Isabel Salles, única mulher candidata à prefeitura de Santarém.
Com isso as mulheres do bairro do Juá plantaram uma semente de esperança quanto ao atendimento sobre “o que as garotas querem”, mostrando que unidas e com apoio se fazem ser ouvidas e tem a possibilidade de em breve suas demandas serem atendidas com respeito, empatia, amor e com políticas públicas efetivamente aplicadas para o envolvimento social, igualdade de gênero e de transformação, rompendo barreiras de um sistema patriarcal opressor.
Sobre o Clube da Luta Feminina
Para atender mulheres periféricas das grandes áreas do Santarenzinho, Maracanã, Residencial Salvação e Juá, da cidade de Santarém, o Clube da Luta Feminina surgiu em 2021 com a proposta de fortalecer, empoderar – principalmente financeiramente – e conectar mulheres. O trabalho desenvolvido pelo Clube envolve a realização de oficinas gratuitas para que as participantes possam aprender novas atividades, que, então, poderão ser exercidas para obtenção de renda.
Ao longo desses três anos de atuação já foram formadas turmas dos cursos de: Biojoias, Manicure e Pedicure, Artesanato em E.V.A, Empreendedorismo, e Redes Sociais. Além de diversas parcerias ao longo dos períodos de atividades, como orientações jurídicas, atendimento psicológico, palestras, doações de cestas básicas, entre outras.
Para conhecer mais o projeto, acesse o perfil do instagram @clubedalutafeminina.stm