Terça, 17 de Setembro de 2024
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“Medo de comer peixe”: mortandade de peixes ao longo do rio Curuatinga alarma moradores das comunidades, na cidade de Prainha, no Pará

Moradores relatam o ocorrido e clamam por intervenção urgente para investigar as causas da morte em massa de peixes no rio, que ameaça a subsistência e a saúde da comunidade.

21/08/2024 às 09h05 Atualizada em 10/09/2024 às 14h27
Por: Marta Silva Fonte: Tapajós de Fato
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Morte de peixes sem explicação evidente/ Foto arquivo pessoal dos moradores das comunidades
Morte de peixes sem explicação evidente/ Foto arquivo pessoal dos moradores das comunidades

Moradores da comunidade de Santana, localizada às margens do Rio Curuatinga, no município de Prainha, no Pará, foram abalados nos últimos dias por um fenômeno preocupante: uma grande quantidade de peixes mortos tem sido avistada descendo o rio, gerando alarme entre os comunitários. A situação, que começou a ser observada no sábado, se intensificou ao longo do final de semana, levantando suspeitas e preocupações sobre a qualidade da água e a segurança alimentar dos comunitários.

“Está acontecendo alguma coisa de errado aqui no Curuatinga, aqui na Santana. Desde ontem [sábado] está baixando muito peixe morto [...] muito peixe morto mesmo, e é tucunaré, é dourada, é tanto peixe liso, sabe, o negócio está ficando feio, e aí a gente não sabe o que fazer, não sabe a quem recorrer…”, relata assustada uma moradora que prefere não se identificar.

Segundo relatos dos comunitários, desde o último sábado (17), um número significativo de pescado morto - de todas as espécies e tamanho - tem aparecido nas águas ao longo do curso do rio. Os comunitários, que são em sua maioria pescadores e que vivem da pesca artesanal, estão assustados e preocupados. 

Os peixes mortos possuem aspectos estranhos como bucho inchado e estourado/ Foto arquivo pessoal dos moradores das comunidades

“Ontem os meninos foram para a praia aqui, dava pena dos meninos que tanto peixe baixar e estava um pitiu, um pitiu no rio, uma “produra” de peixe podre. Aí a gente fica triste, né, [...] Esses dias atrás era tanto pescador pescando, e aí a gente não sabe o que está acontecendo, né, aí a gente fica preocupado com essas coisas, principalmente nós aqui que sobrevivemos do peixe, né”, relata outra moradora

Além da preocupação com a morte do pescado, principal fonte de alimentação e de renda dos comunitários na região, há o desconhecimento dos motivos que têm provocado essa mortandade, o que assusta os moradores que consomem a água do rio para beber, tomar banho e outras necessidades pessoais, bem como, para irrigar as suas lavouras. O fenômeno é ainda mais alarmante devido à falta de mudanças perceptíveis na qualidade visível da água.

“A água está normal, como ela costuma estar. Não é por causa da água, então a gente está achando que é veneno”, relatou outro morador da região, ressaltando o medo de que substâncias tóxicas possam estar contaminando o rio.

Os peixes mortos descem ao longo do rio e deixam os moradores preocupados/  Foto arquivo pessoal dos moradores das comunidades

Contaminação da água, insegurança hídrica e alimentar na região

A comunidade de Santana, assim como toda a região no entorno do rio Curuatinga, tem sido tomada pela expansão das grandes monoculturas de soja e milho que fazem a utilização de um grande número de substâncias para controle de pragas. Uma grande preocupação dos pescadores e comunitários da comunidade de Santana e comunidades vizinhas, impactadas pelo fenômeno, é que essas substâncias utilizadas possam estar contaminando as águas do rio e envenenando os peixes.

As comunidades estão em alerta máximo e impactadas com a gravidade da situação. "A gente acredita assim, se viesse alguém pra verificar essa água, testar essa água, seria ótimo, porque a gente não sabe, né, de onde tá vindo", desabafou um dos moradores. 

O medo de contaminação, que se espalhou rapidamente entre os moradores, pode ser devastador para a região que sobrevive do consumo do pescado e da renda obtida pela pesca. Sem sistema de abastecimento de água, a maioria dos comunitários consomem a água do rio.

"De hoje em diante, nós não vamos consumir nem os vivos [...] todo mundo está com medo de comer esse peixe, de beber a água já do rio [...]”, relatou um comunitário, expressando a ansiedade coletiva. 

Com a possibilidade de a água estar contaminada, muitas famílias estão recorrendo a poços e cacimbas vizinhas para obter água potável, enquanto outras, que não têm acesso a essas fontes alternativas, enfrentam grande incerteza.

É uma grande quantidade de peixe de todas as espécies e tamanhos, moradores desconfiam de veneno/  Foto arquivo pessoal dos moradores das comunidade

“[...] a gente tá tentando averiguar essa situação, né, mas a gente já começou a ficar alerta e pegar água da cacimba e parar um pouco com o peixe, né, porque tá bem complicado”, enfatiza ele.

Além da preocupação com a saúde, há um temor crescente sobre o futuro das atividades pesqueiras na região. “Nós sobrevivemos do peixe, então isso é uma preocupação bastante para nós”, afirmou um pescador local. 

Os comunitários, moradores do entorno do rio, que dependem do rio para subsistência e sobrevivência e que agora enfrentam um desafio sem precedentes, clamam por assistência, bem como, por uma resposta das autoridades ambientais que possa trazer alguma segurança e clareza em meio à crise. Eles querem respostas e ações rápidas. Enquanto isso, o cenário continua a alimentar o medo e a incerteza entre os moradores, que observam os peixes mortos descerem o rio, esperando por uma solução.

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