Moradores da comunidade de Santana, localizada às margens do Rio Curuatinga, no município de Prainha, no Pará, foram abalados nos últimos dias por um fenômeno preocupante: uma grande quantidade de peixes mortos tem sido avistada descendo o rio, gerando alarme entre os comunitários. A situação, que começou a ser observada no sábado, se intensificou ao longo do final de semana, levantando suspeitas e preocupações sobre a qualidade da água e a segurança alimentar dos comunitários.
“Está acontecendo alguma coisa de errado aqui no Curuatinga, aqui na Santana. Desde ontem [sábado] está baixando muito peixe morto [...] muito peixe morto mesmo, e é tucunaré, é dourada, é tanto peixe liso, sabe, o negócio está ficando feio, e aí a gente não sabe o que fazer, não sabe a quem recorrer…”, relata assustada uma moradora que prefere não se identificar.
Segundo relatos dos comunitários, desde o último sábado (17), um número significativo de pescado morto - de todas as espécies e tamanho - tem aparecido nas águas ao longo do curso do rio. Os comunitários, que são em sua maioria pescadores e que vivem da pesca artesanal, estão assustados e preocupados.
“Ontem os meninos foram para a praia aqui, dava pena dos meninos que tanto peixe baixar e estava um pitiu, um pitiu no rio, uma “produra” de peixe podre. Aí a gente fica triste, né, [...] Esses dias atrás era tanto pescador pescando, e aí a gente não sabe o que está acontecendo, né, aí a gente fica preocupado com essas coisas, principalmente nós aqui que sobrevivemos do peixe, né”, relata outra moradora
Além da preocupação com a morte do pescado, principal fonte de alimentação e de renda dos comunitários na região, há o desconhecimento dos motivos que têm provocado essa mortandade, o que assusta os moradores que consomem a água do rio para beber, tomar banho e outras necessidades pessoais, bem como, para irrigar as suas lavouras. O fenômeno é ainda mais alarmante devido à falta de mudanças perceptíveis na qualidade visível da água.
“A água está normal, como ela costuma estar. Não é por causa da água, então a gente está achando que é veneno”, relatou outro morador da região, ressaltando o medo de que substâncias tóxicas possam estar contaminando o rio.
Contaminação da água, insegurança hídrica e alimentar na região
A comunidade de Santana, assim como toda a região no entorno do rio Curuatinga, tem sido tomada pela expansão das grandes monoculturas de soja e milho que fazem a utilização de um grande número de substâncias para controle de pragas. Uma grande preocupação dos pescadores e comunitários da comunidade de Santana e comunidades vizinhas, impactadas pelo fenômeno, é que essas substâncias utilizadas possam estar contaminando as águas do rio e envenenando os peixes.
As comunidades estão em alerta máximo e impactadas com a gravidade da situação. "A gente acredita assim, se viesse alguém pra verificar essa água, testar essa água, seria ótimo, porque a gente não sabe, né, de onde tá vindo", desabafou um dos moradores.
O medo de contaminação, que se espalhou rapidamente entre os moradores, pode ser devastador para a região que sobrevive do consumo do pescado e da renda obtida pela pesca. Sem sistema de abastecimento de água, a maioria dos comunitários consomem a água do rio.
"De hoje em diante, nós não vamos consumir nem os vivos [...] todo mundo está com medo de comer esse peixe, de beber a água já do rio [...]”, relatou um comunitário, expressando a ansiedade coletiva.
Com a possibilidade de a água estar contaminada, muitas famílias estão recorrendo a poços e cacimbas vizinhas para obter água potável, enquanto outras, que não têm acesso a essas fontes alternativas, enfrentam grande incerteza.
“[...] a gente tá tentando averiguar essa situação, né, mas a gente já começou a ficar alerta e pegar água da cacimba e parar um pouco com o peixe, né, porque tá bem complicado”, enfatiza ele.
Além da preocupação com a saúde, há um temor crescente sobre o futuro das atividades pesqueiras na região. “Nós sobrevivemos do peixe, então isso é uma preocupação bastante para nós”, afirmou um pescador local.
Os comunitários, moradores do entorno do rio, que dependem do rio para subsistência e sobrevivência e que agora enfrentam um desafio sem precedentes, clamam por assistência, bem como, por uma resposta das autoridades ambientais que possa trazer alguma segurança e clareza em meio à crise. Eles querem respostas e ações rápidas. Enquanto isso, o cenário continua a alimentar o medo e a incerteza entre os moradores, que observam os peixes mortos descerem o rio, esperando por uma solução.