Na manhã desta quinta- feira (05), no dia da Amazônia, na Ufopa campus Tapajós, aconteceu a Audiência Pública de debate sobre o Plano Clima, seus desafios e enfrentamentos à Crise Climática. Essa foi a sétima plenária realizada para discutir sobre o Plano Clima Nacional Participativo com a contribuição da sociedade civil representada pelos Movimentos, Entidades e Organizações dos povos indígenas, ribeirinhos, agroextrativistas e quilombolas.
Na primeira mesa de debate estiveram participando da discussão diversas organizações, entidades e movimentos da região onde puderam expor suas propostas e demandas diante do Plano Clima e também reivindicar quanto à metodologia utilizada pelo governo mediante as decisões tomadas na estruturação do Plano Clima. Dentre as organizações estavam a FOQS- Federação das Organizações Quilombolas; Fetagri- Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Pará; Associação das Organizações de Mulheres Trabalhadoras do Baixo Amazonas; Guardiões do Bem Viver; Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil; Associação do Projeto de Assentamento e Desenvolvimento Sustentável do Pds Paraíso; Conselho Nacional dos Povos Extrativistas do Pará Baixo Amazonas em Santarém; Movimento Tapajós Vivo; Terra de Direitos; Conselho Indígena do Tapajós-Arapiun; Federação das Associações dos Moradoradores e Organizações Comunitárias de Santarém e estiveram presentes também representantes federais bem como a Ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima Marina Silva e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Costa Macedo.
Com três minutos de direito à fala, cada representante pôde discursar acerca das demandas vindas de suas organizações com propostas para o Plano Clima Nacional e possíveis soluções à Crise Climática, mas também expuseram insatisfações quanto a metodologia enfatizando a importância de se ouvir os amazônidas, de ouvir quem está sendo diretamente impactado e sofrendo danos irreversíveis com os caminhos que as mudanças climáticas causam na vida dos que vivem e sobrevivem das águas dos rios, das florestas e da agricultura familiar.
Das lideranças presentes, esteve Alessandra Korap Munduruku, que está na frente da linha de defesa de seu território que é constantemente invadido por garimpeiros e empresas que contribuem para a destruição do bioma amazônico.
“Está discutindo o Plano Clima, só que na minha observação é que muita gente não sabe que está acontecendo, muitas urgências, a seca e queimadas, muitas comunidades não podem sair de seus territórios e chegar até aqui, mas é o governo né? è bem preocupante porque a gente vê muita liberação de projetos, muitos portos, estrada, mineração, concessão florestal, então esse discurso do Plano Clima precisa ter participação das comunidades que estão sofrendo, que estão ali sendo ameaçados, tendo suas terras invadidas, seus rios barrados. Mas infelizmente é o estado, é o governo que faz esses planos, a gente tem que se “apoderar” dessas informações que estão discutindo, mas que leve isso na base porque as populações precisam estar atentas, porque se fala da COP, muita gente não entende o que é essa COP, o que vai ser essa COP no ano que vem, o quê que vai prejudicar nossa vida, ou sim ou não, o quê que vai ser depois, na pós COP, essa é uma preocupação e precisa sim ter participação de mais pessoas nesse momento, muita gente veio pra ver a Marina Silva né? Mas a gente não tem só de ver o governo, mas ver a questão da nossa realidade dentro do território”.
Durante a leitura de propostas, o Movimento Tapajós Vivo também expôs uma ação de repúdio aos meios de destruição como mineração, hidrelétricas, agronegócio e petróleo e a insatisfação quanto à metodologia do Plano Clima Participativo.
Na ocasião da Audiência, através de uma representante da Terra de Direitos, o Grupo Popular do Plano Clima entregou à ministra Marina Silva uma carta com reivindicações sobre o Plano Clima Participativo e a Amazônia.
A carta foi assinada por noventa e seis (96) organizações, coletivos e movimentos sociais de toda a Amazônia, onde se reivindica que “Nada se decida sobre a Amazônia sem ouvir os Amazônidas, pois as soluções para a emergência climática que estamos vivendo tem sido construídas no cotidiano pela coletividade”, diz um trecho da carta.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima Marina Silva compartilhou algumas questões referentes ao Plano Clima.
“O Plano Clima, ele é um processo que é uma obrigação de cada país fazê- lo para chegar às metas de redução de CO² para 190 países do mundo…chegamos já a um e meio de temperatura da terra, se estabilizar nesse patamar, possivelmente aquilo que era normal que a gente conhecia vai deixar, definitivamente de existir, e vai surgir um novo “normal”, e o que é o novo “normal”? Aquilo que é extremo do velho normal, e é muito doloroso falar isso, as secas extremas, as enchentes extremas…Olha o tamanho da encrenca que a humanidade se meteu”.
O Plano Clima Participativo tem sido estruturado desde 2023 e pretende que seja aplicado até o ano de 2035 para que todos os 90 países cumpram as medidas de mitigação e adaptação que constam nos planos setoriais, e a Amazônia se mantém mobilizada para que de fato a participação popular seja efetiva nos processos de construção, elaboração e aplicação concreta do Plano Clima Participativo.