Projeto de reflorestamento da FUNAI em aldeias impactadas pelo garimpo ilegal restaura áreas degradadas em Itaituba, Oeste do Pará

A FUNAI em parceria com ICMBio, lidera um projeto de reflorestamento que visa recuperar nascentes e reforçar os limites de reservas indígenas urbanas. A ação é uma resposta à degradação ambiental e aos impactos do garimpo ilegal, e busca promover a sustentabilidade e a proteção dos territórios indígenas.

10/09/2024 às 14h05 Atualizada em 10/09/2024 às 14h26
Por: Marta Silva Fonte: Tapajós de Fato
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Funai Itaituba
Funai Itaituba

Em Itaituba, no Pará, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) está conduzindo um projeto fundamental de reflorestamento, que visa restaurar áreas degradadas e promover a sustentabilidade em territórios indígenas. “O objetivo do plantio é recuperar as áreas de nascente dos igarapés das comunidades e realizar a reabertura dos limites de ambas reservas, tendo em vista os riscos e vulnerabilidades existentes no trato com o entorno das reservas, fortemente antropizado”, explicam os idealizadores do projeto.

Mudas de árvores foram disponibilizadas pelo ICMBio/ Foto: FUNAI Itaituba 

A primeira atividade do projeto foi o plantio de mudas nativas da Amazônia, que ocorreu em duas comunidades indígenas existentes na zona urbana da cidade de Itaituba: a Reserva Indígena Kauririti Kobu Nabū Jereğ e Ikõ Muywatpu (antiga Praia do Mangue I e II) e a Reserva Indígena Payğo Bamuybu (antiga Praia do Índio). A atividade aconteceu em junho deste ano.

As atividades de plantio envolveram diretamente as comunidades indígenas, contando com a participação de 119 famílias. As mudas nativas da Amazônia foram cultivadas com o apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que forneceu as mudas e as ferramentas necessárias para o plantio.

Limpeza de área para a disposição das mudas/ Foto FUNAI Itaituba

A FUNAI em Itaituba enfatiza que “as comunidades indígenas do alto, do médio e do baixo rio Tapajós sofrem há anos com o problema da contaminação por mercúrio proveniente do garimpo ilegal que atinge grande parte das terras indígenas da região, prejudicando a saúde, a sociobidiversidade e a economia das comunidades indígenas. Esse problema deu origem à ação judicial no STF que através da ADPF 709 requereu do governo federal a proteção da vida e da saúde das comunidades afetadas, bem como a realização de atividades alimentares, nutricionais e socioprodutivas em prol do povo indígena Munduruku”.

Nesse sentido, a ação de reflorestamento é uma resposta à crescente vulnerabilidade das reservas indígenas, que, por estarem localizadas em áreas urbanas, enfrentam riscos significativos devido à expansão da cidade e à degradação ambiental. Ao reabrir os limites das reservas e fortalecer as áreas de nascente, o projeto busca não somente preservar o meio ambiente, mas também melhorar a qualidade de vida das comunidades indígenas.

Na semana passada a gente já iniciou esse trabalho de plantio nessas áreas, acompanhando o pico com as crianças e com os jovens e os adolescentes da comunidade. E hoje a gente veio plantar as seringueiras aqui na margem do Igarapé do Mangue, que corta a cidade [...] E a gente vem recompor essas árvores, que vai servir de alimento tanto para peixe como para aves e também para roedores. Então, para nós aqui vai ser excelente [...]”, relata Marcos, liderança da RI Kauririti Kobu Nabu Jereg e Iko Muywatpu.

ADPF 709

A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709 é uma ação judicial movida no Supremo Tribunal Federal (STF) pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). A ação tem como objetivo tratar de ações e omissões do Poder Público que colocam em risco a saúde e a subsistência da população indígena.

Algumas das decisões tomadas no âmbito da ADPF 709 são: Determinação de que a União elabore um plano para a retirada de invasores das Terras Indígenas; Ordem de retirada de todos os garimpos ilegais das Terras Indígenas Yanomami, Karipuna, Uru-Eu-Wau-Wau, Kayapó, Arariboia, Munduruku e Trincheira Bacajá; Autorização para que a Defensoria Pública da União (DPU) atue na ação como “guardiã dos vulneráveis”; e outras;

De acordo com a especialista em indigenismo da Funai, Lumara Martins, o cumprimento da ADPF 709 é fundamental para a manutenção dos territórios.

Expectativas na continuidade do projeto e a instalação de um viveiro em Itaituba

Plantando as mudas/ Foto FUNAI Itaituba

Para nós isso aqui é muito importante porque exatamente essa área, é uma área de conflito, né? A gente está sempre com ocorrência de invasão desse lado e agora com a ajuda da FUNAI, do ICMBio, a gente está fazendo essa limpeza e fazendo a plantação de seringa que vai marcar os territórios, né, a divisa certinha. E a gente está muito feliz com isso, a gente esperava a muito tempo, né, e agora está acontecendo”, pontua Edilene, capitã da Aldeia Praia do Índio (Reserva Indígena Payğo Bamuybu) .

A ação, realizada nas aldeias, incluiu a distribuição de mudas nativas, como açaí, buriti, ingá e seringueira. “A receptividade foi extremamente positiva, com os indígenas expressando a necessidade não apenas de mudas nativas, mas também de espécies de valor comercial, que têm se adaptado bem ao bioma amazônico”, pontua João, servidor da FUNAI Itaituba e um dos idealizadores do projeto.

No entanto, a principal dificuldade encontrada pelos idealizadores do projeto está relacionada à ausência de um viveiro municipal, essencial para o cultivo de mudas nativas. A continuidade do projeto é uma perspectiva da FUNAI Itaituba, com novas ações planejadas. Contudo, a FUNAI Itaituba continua a buscar recursos e apoio para expandir o projeto, com planos de construir um viveiro profissional em Itaituba, capaz de abastecer não apenas as comunidades locais, mas também outras aldeias indígenas na região de Jacareacanga.

A FUNAI tem buscado alternativas diretamente em Brasília para garantir os recursos necessários para a construção de um viveiro em Itaituba. A proposta é ambiciosa: erguer uma estrutura profissional, com a contratação de um viveirista especializado, para fornecer mudas não apenas para o município, mas também para as comunidades indígenas de Jacareacanga, que abriga uma grande quantidade de aldeias”, finaliza João.

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