Domingo, 26 de Janeiro de 2025
Reportagem Especial Pesquisa

Observatório das Eleições Indígenas é criado por discentes da Ufopa e Ufam na busca de levantar dados referentes a candidaturas indígenas nas eleições

O OBELIN- Observatório das Eleições Indígenas busca compreender e dar visibilidade ao fenômeno das candidaturas indígenas, compreender o interesse, as alianças e as estratégias representadas por essas candidaturas. E os estados do Pará e Amazonas foram selecionados para a abordagem do projeto.

04/10/2024 às 15h56 Atualizada em 24/10/2024 às 15h24
Por: Conce Gomes Fonte: Tapajós de Fato
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Foto do evento sobre Políticas Ameríndias / Arquivo pessoal
Foto do evento sobre Políticas Ameríndias / Arquivo pessoal

O Observatório das Eleições Indígenas surgiu de maneira orgânica no final de agosto de 2024, após o evento sobre “Política Ameríndia e eleições municipais, abordagens teóricas e perspectivas etnográficas para as eleições 2024”, realizado na Universidade Federal do Oeste do Pará, em Santarém. 

Ele é um braço extensionista do projeto de pesquisa “Política Ameríndia Comparada”, coordenado pela professora Helena Schiel e pretende acompanhar candidaturas indígenas nos estados do Amazonas e no Pará, com base nos dados do TSE de candidatos indígenas autodeclarados, bem como análise de conteúdos das campanhas, sobretudo, nas redes sociais e em alguns casos, entrevista aos candidatos para conhecer suas alianças e estratégias de campanha.

O objetivo principal do Observatório é acompanhar o envolvimento dos povos indígenas com a política partidária, além de buscar a compreensão de como se organizam internamente e que tipos de alianças eles têm para dentro das aldeias. A professora Helena compartilhou com a equipe do Tapajós de Fato o que a motivou na idealização do OBELIN- Observatório das Eleições Indígenas.

“Minha motivação inicial foi um certo incômodo porque é um fenômeno pouco mencionado né, assim a gente vê muitas notícias sobre ou tragédias, esse momento de aquecimento global, de seca extrema, eventos extremos no clima ou de coisas muito idealizadas aquela imagem paradigmática do indígena no ritual, enfim, eles têm suas articulações políticas, estão inseridos em teias, em articulações para muito além do que se pensa, e eu assim na minha pesquisa do doutorado que é sobre política, chefia e guerra entre os Carajás da região do Araguaia, descrevi o envolvimento deles com a política partidária. Então assim não é exatamente o cacique da Aldeia, mas alguém ligado por laço de parentesco, então para mim sempre foi muito interessante evidenciar essas teias nessas lógicas internas”.

Professora Helena Schiel - Foto/ Arquivo pessoal

Conhecer esse fenômeno do envolvimento dos povos indígenas com a política partidária é um dos principais objetivos do projeto, e neste momento próximo às eleições municipais, estudantes voluntários estão em pesquisas e entrevistas com candidatos e candidatas indígenas observando sua articulação, material de campanha, redes sociais que utilizam, como o Instagram e tik tok. As pesquisas se estendem também na busca de dados junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a elaboração de mapas e tabelas que em breve serão divulgadas pelo projeto.

A professora Helena também compartilhou as pretensões futuras de sua pesquisa acerca do aspecto político partidário da organização dos povos indígenas.

“Eu pretendo continuar as pesquisas mais qualitativas, que são pesquisas de mais longo prazo, de ouvir e conhecer como é que se organiza internamente, que relações, que lideranças que estão como candidatos a vereador ou prefeito né, que tipo de aliança ele tem para dentro da Aldeia, será que eles são uns representantes externos como uma espécie de diplomata ou eles são um braço para política externa de uma família que já é de chefia, por exemplo, esse tipo de lógica interna que eu gostaria de revelar esse tipo de informação” .

O projeto de pesquisa ao qual o Observatório está vinculado, o Projeto de Pesquisa Política Comparada, tem a equipe composta por pesquisadores de diversas áreas como Antropologia, Sociologia, Ciência Política, Geografia e Ciência de Dados, com contribuição entre alunos da UFAM- Universidade Federal do Amazonas e UFOPA- Universidade Federal do Oeste do Pará, cujo objetivo fundamental é acompanhar as candidaturas indígenas no Amazonas e no Pará.

A relação entre os indígenas e a política eleitoral não é uma questão recente, e em muitos lugares os indígenas são uma parte fundamental do eleitorado, no entanto observa- se um crescimento expressivo nas candidaturas autodeclaradas desde 2014, pleito após pleito essas candidaturas estão aumentando especialmente nos municípios do Pará e do Amazonas que são regiões com uma forte presença indígena.

Dentre estudantes que contribuem com o projeto, está Lucillany Carneiro, Cientista Social formada pela Universidade Federal do Amazonas- Ufam e atualmente, mestranda em Antropologia Social pelo PPGAS- Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da Ufam, e que desenvolve pesquisas voltadas para a relação entre os indígenas e o Estado, e compartilhou conosco a importância do Observatório diante da movimentação e organização política dos povos indígenas.

“É fundamental que se entenda esse fenômeno, e, mais importante ainda, que se entenda como essas pessoas estão se organizando politicamente no que parece ser uma nova fase do movimento indígena no qual a política eleitoral passa a ser então uma pauta que recebe mais ênfase, nesse sentido o Observatório é importante enquanto uma iniciativa local regional e nortista que está olhando para a realidade local e eu acredito que nós vamos trazer contribuições muito interessantes para entender um pouco mais desse novo cenário que se apresenta com a intenção de mais indígenas na política eleitoral”.

Foto/ Aressa Laura de Melo

Foi lançado o primeiro boletim do Observatório das eleições indígenas. No primeiro boletim é possível encontrar informações gerais da primeira etapa da pesquisa, onde os dados mostrados sobre candidaturas indígenas no Pará e no Amazonas são a partir da autodeclaração apresentada pelos próprios candidatos quando se registram no TSE. A equipe do projeto  destaca que a ausência de candidaturas indígenas em um município não significa necessariamente a ausência de candidatos, mas, a ausência de autodeclaração. O mapa abaixo mostra que os municípios em branco são aqueles onde não há candidatos indígenas autodeclarados. As cores azuis mais escuras são aquelas onde há maior número de candidatos indígenas.

Foto/ Observatório das Eleições Indígenas

Segundo dados mostrados no site da APIB- Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, de candidaturas indígenas de todo o Brasil, éapontado que os povos indígenas com maior número de candidatos são os Kaingang, os Makuxi e os Tikuna.

Abaixo, é possível observar o mapa de candidaturas indígenas do estado do Amazonas 

Foto/ Observatório das Eleições Indígenas

O OBELIN- Observatório das Eleições Indígenas busca compreender e dar visibilidade ao fenômeno das candidaturas indígenas, compreender o interesse, as alianças e as estratégias representadas por essas candidaturas. E os estados do Pará e Amazonas foram selecionados para a abordagem do projeto por facilitar contatos com candidatos e entrevistas.

O Observatório irá lançar boletins informativos semanais trazendo dados e pequenas análises explicativas. Após as eleições, o projeto tende a seguir com as pesquisas para compreender as estratégias e alianças, tanto internas (intra- étnicas) quanto externas (Interétnicas) dos candidatos.

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