Quarta, 19 de Março de 2025
Território Formaçao

Juventude do Pae Lago Grande participa de oficinas em comunicação popular e território, no Oeste do Pará

“Durante nossas formações, os jovens aprendem técnicas que os ajudam a aprimorar a comunicação interna e externa, mostrando suas comunidades para um público mais amplo. A comunicação popular está diretamente ligada ao contexto de cada território, e nas oficinas discutimos a territorialidade e as múltiplas culturas e identidades presentes” (Ricardo Aires).

08/10/2024 às 14h22 Atualizada em 25/10/2024 às 16h03
Por: Thaís Oliveira Fonte: Tapajós de Fato
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Foto Coalizao Bambuim
Foto Coalizao Bambuim

Navegando de barco, entre o encontro das águas dos rios Amazonas e Tapajós, é possível chegar a várias comunidades das diversas regiões no município de Santarém, inclusive no território PAE Lago Grande, onde a coalizão Bambuim desembarcou para uma vivência e realização de uma atividade em comunicação popular, território e juventude. Essa iniciativa é fruto da parceria entre o coletivo Guardiões do Bem Viver (GBV), a Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande (FEAGLE) e o Tapajós de Fato (TdF), em colaboração com as comunidades de São Jorge, localizada na região do Lago Grande, e Aparecida, situada na região de Arapixuna, ambas dentro do Assentamento PAE Lago Grande, em Santarém, oeste do Pará.

A primeira atividade ocorreu no mês de maio em São Jorge e reuniu aproximadamente 25 jovens, homens e mulheres de comunidades, incluindo os brincantes do grupo de dança Bailado de Carimbó. Foi um momento rico de trocas de saberes entre a equipe idealizadora e os jovens locais. Durante os dois dias de atividades, foi apresentada a ideia do "Banzeiro de Comunicação Popular", por meio da Coalizão BAMBUIM, que representa a união das três organizações mencionadas anteriormente, com o objetivo de fortalecer o conhecimento sobre as ferramentas de comunicação, como o uso do celular e das redes sociais, como Instagram, Facebook, TikTok, WhatsApp, entre outras, potencializando os movimentos, os grupos de dança, de futebol, de jovens existentes na comunidade, e até mesmo ajudar a divulgar as belezas naturais e os trabalhos realizados, como as produções de artesanato e da agricultura familiar e tantos outros, que fazem parte do Bem Viver do território, bem como ser um espaço de compreensão das lutas e resistências que existem dentro do PAE Lago Grande. Essa iniciativa busca não apenas fortalecer as conexões entre os jovens e as comunidades locais, mas também promover a valorização e preservação das tradições culturais e o protagonismo dos moradores na defesa de seus territórios. Através da comunicação popular, essas comunidades encontram uma ferramenta poderosa para amplificar suas vozes, disseminar suas demandas e conquistas, e fortalecer os laços de solidariedade e cooperação, essenciais para a defesa de seus lugares.

Para uma melhor compreensão de como foi essa primeira oficina, conversamos com o jovem Rivaldo dos Santos, da comunidade de São Jorge, que compartilhou conosco sua visão enquanto participante do encontro. “A oficina de comunicação foi de suma importância para nossa juventude, onde os jovens puderam aprender técnicas de como fazer um card, uma fotografia, podcast, vídeos. Anteriormente, costumávamos depender de terceiros para produzir esses materiais, e hoje isso iremos produzir nós mesmos. A comunidade de São Jorge adquiriu conhecimentos nessa área e somos muito gratos pelos formadores. Além disso, vale ressaltar que as oficinas foram voltadas para o grupo de dança Bailado de Carimbó, proporcionando a esses jovens a oportunidade de explorar a comunicação popular de forma criativa, promovendo a valorização e divulgação da cultura local por meio de diferentes mídias. A participação ativa desses jovens no processo de aprendizado e produção de conteúdo contribui não apenas para o fortalecimento da identidade cultural, mas também para o empoderamento da juventude local no compartilhamento de suas tradições e expressões artísticas. Estamos ansiosos por mais oportunidades de aprendizado e colaboração, e nosso desejo é expressar nosso profundo agradecimento por essa experiência enriquecedora”.

Foto: Guardiões do Bem Viver 

A vivência na comunidade de São Jorge foi muito rica em trocas, segundo Marta Silva, comunicadora popular do Tapajós de Fato e uma das oficineiras da atividade, “na comunidade de São Jorge formou-se um grupo de juventude bastante orgânico, dedicado à cultura local, essa juventude se envolve ativamente nas questões culturais da comunidade, o que potencializou sua autonomia na produção de conteúdos. Assim, eles ganharam mais preparo para comunicar tanto sobre o território quanto sobre o grupo de Carimbó e suas questões específicas. Essa atuação fortalece a identidade do grupo dentro do contexto territorial e cultural da comunidade”.

Na comunidade de São Jorge, a juventude presente focou em seu grupo de dança Bailado de Carimbó, por reconhecer a importância da arte, da dança e principalmente da valorização dessa cultura ancestral e cultural daquela região, fortalecendo assim  sua identidade enquanto jovens de um território extrativista, fazendo com que produzissem durante a oficina vídeos, fotos, cards e podcast com a temática de seu grupo de dança.

Marta Silva ressalta que “a ideia de não propor temas fixos permite que os jovens falem livremente sobre o que desejam em relação ao seu território. Essa proximidade com suas vivências resulta em produtos de comunicação de alta qualidade, mesmo que muitos deles estejam tendo seu primeiro contato com a comunicação e sejam inexperientes. Ficamos muito felizes com a metodologia utilizada e com o retorno da juventude. Nosso objetivo é que essa juventude seja um pilar de continuidade das lutas dentro dos territórios”.

Vivência na comunidade de Aparecida, região de Arapixuna

 Foto: José Marcos/Tapajós de Fato 

A segunda atividade aconteceu em setembro na comunidade de Aparecida e contou com a participação das juventudes do distrito 4 da região, sendo as comunidades de Urucureá, Nova Sociedade, Santana, Bom Jesus e Aparecida, e reuniu aproximadamente 30 jovens dessas localidades. Jovens estudantes, pescadores, agricultores, artesãos.

O primeiro dia de atividade foi marcado por conversações com as juventudes sobre Território e Territorialidade, e como a comunicação popular fortalece essas narrativas fazendo com que os próprios narradores das comunidades passem a contar suas próprias narrativas, pois ninguém melhor do que as pessoas dos territórios para falar de suas vivências.

Segundo Elton Arapium, jovem integrante do coletivo Guardiões do Bem Viver e participante do encontro, “no primeiro dia de atividade discutiu-se o conceito de território e territorialidade, compreendendo melhor o contexto em que vivem. No segundo dia, focaram na comunicação popular, trabalhando com a juventude na produção de podcasts, fotografias e vídeos. O objetivo é trazer visibilidade para a comunidade e capacitar os jovens a produzir e divulgar o trabalho local. Observamos que a maior fonte de renda da região é o artesanato e esperamos que essa juventude utilize as ferramentas apresentadas para criar conteúdos que mostrem a produção e as potencialidades de suas comunidades. Através dessa abordagem fortalecer a identidade territorial e promover a comunicação entre os jovens e a comunidade”.

Para complementar a fala do entrevistado anterior, destaca-se o jovem Antonio Jefferson, da comunidade de Urucureá, participante do encontro, ele conta como foi: “Participei das oficinas do Tapajós de Fato, FEAGLE e Guardiões do Bem Viver, e realmente estou gostando muito, estou aprendendo muito sobre edição. Estou tendo uma experiência enriquecedora com alguém que já tem conhecimento na área. É ótimo ver tantos jovens da minha comunidade e de outras vizinhas se interessando por isso, as atividades são muito divertidas; há brincadeiras, conversas e trocas de ideias. Nos últimos dois dias falamos sobre territorialidade, destacando a importância de conhecer melhor o lugar onde moramos. Também discutimos como podemos usar a comunicação popular para abordar nosso território. No início, eu não tinha uma noção clara do que era comunicação popular, mas agora entendo que se trata de se comunicar de forma acessível e envolvente com as pessoas”.

Foto: Elton Arapiun

Durante a oficina, foram produzidos vídeos, fotos e podcasts com temas relacionados ao artesanato da fibra da palha do tucumã, que faz parte da cultura local das comunidades. Através desses materiais, os participantes puderam registrar e divulgar não apenas a técnica artesanal, mas também a importância cultural e histórica desse trabalho para as comunidades envolvidas. Os materiais produzidos durante a oficina servem como uma ferramenta poderosa para preservar e compartilhar o conhecimento tradicional, valorizando a riqueza cultural e promovendo o reconhecimento da arte e do saber local.

As oficinas são sempre ministradas por jovens educadores e comunicadores populares das organizações que fazem parte da Coalizão, promovendo assim uma dinâmica que trata de questões de territorialidade e pertencimento. É importante dialogar sobre o contexto do território, pois essa juventude precisa se empoderar. A metodologia utilizada tem um primeiro momento didático e pedagógico, onde são apresentados conceitos sobre comunicação popular e discutida a função de ferramentas como fotografia, vídeo, podcast e produção de cards. Após essa parte teórica, os participantes partem para a prática, produzindo materiais que refletem a realidade de seu território, como vídeos, fotos, matérias e podcasts, abordando temas relevantes do contexto vivenciado.

Enraizando a Comunicação Popular e fortalecendo as lutas territoriais no PAE Lago Grande 

A Colisão Bambuim é uma iniciativa que busca fortalecer a comunicação popular nas comunidades do PAE Lago Grande, especialmente entre a juventude. Destaca-se a fala de Ricardo Aires, representante da FEAGLE dentro do projeto: “O objetivo é proporcionar formação em comunicação, abrangendo também o audiovisual e as relações comunitárias já existentes no território. Até agora, realizamos oficinas em São Jorge e Aparecida, e temos observado que a juventude já pratica comunicação popular através de sua participação em atividades comunitárias, como eventos na igreja,  jogos de futebol e outros. Essa comunicação é um diálogo construído pela própria comunidade, utilizando uma linguagem acessível entre seus membros. O foco é reportar não apenas o cotidiano, mas também os acontecimentos que impactam a vida da comunidade’’.

Foto: Guardiões do Bem Viver

Os jovens aprendem a fazer reportagens sobre eventos locais, como festas de santos padroeiros e gincanas, entendendo que tudo está interligado. Essa abordagem fortalece a percepção de que a prática da comunicação deve refletir a vida comunitária e suas atividades coletivas.

Além disso, os participantes têm acesso a aplicativos de baixo custo que potencializam a comunicação, permitindo a produção e edição de vídeos que retratam a realidade local. Por exemplo, em São Jorge, foi explorada a forte cultura do Carimbó, enquanto em Aparecida, a produção de artesanato a partir da fibra e da palha de tucumã, destacando a importância dessas atividades para a geração de renda e economia local.

As formações também promovem o engajamento entre jovens de diferentes comunidades, ajudando-os a perceber que estão interligados e podem pensar em termos de região e território. Durante as atividades aconteceram também discussões sobre temas relevantes, como saúde mental e mudanças climáticas, visando formar uma rede de comunicadores populares.

“Esse processo de capacitação é uma ferramenta poderosa para divulgar informações de qualidade, tanto para o público local quanto para além do território, contribuindo para o fortalecimento da comunicação e da identidade comunitária", finaliza Ricardo.

Para Marta Silva, “dentro do objetivo do projeto "Banzeiro de Comunicação Popular Território do PAE Lago Grande", essas vivências estão super conectadas e temos conseguido, por meio da produção desses materiais pela juventude, alcançar o objetivo de mostrar para eles a força e a potência da comunicação, bem como a importância da atuação da juventude na comunicação popular. Além disso, buscamos mostrar para eles que a democratização da comunicação é uma ferramenta possível e que está à disposição de todos. Essa abordagem se conecta diretamente com o propósito do projeto. Iniciamos as vivências em São Jorge e já realizamos a segunda, com a expectativa de chegar à terceira vivência como parte da proposta do projeto. A culminância está prevista para o próximo ano, na última vivência, de uma forma mais abrangente, trazendo os jovens para dentro do estúdio de rádio”.

Foto: Guardiões do Bem Viver 

Falar de comunicação popular, é falar de juventude, de empoderamento, de território, de comunidade, de pertencimento, de territorialidade, de reconhecimento e de luta. Tudo está interconectado na Amazônia, na defesa das vidas que residem em nossos territórios.

 

Essa matéria é uma produção  da Coalizão Bambuim, formada pelo Tapajós de Fato, Coletivo Guardiões do Bem Viver e Feagle, com apoio da Hivos  por meio do Programa Vozes Pela Ação Climática Justa (VAC).

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