Quarta, 19 de Março de 2025
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14º Festival do Tucunaré é realizado no bairro do Jaderlândia, em Santarém, Oeste do Pará

A comunidade do bairro Jaderlândia mantém viva a tradição do Festival do Tucunaré, apesar da seca severa e da escassez de peixes.

15/10/2024 às 17h01 Atualizada em 15/10/2024 às 17h05
Por: Marta Silva Fonte: Tapajós de Fato
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Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

A 14ª edição do festival do Tucunaré da região do bairro do Jaderlândia, que faz parte do calendário de festivais e eventos culturais da prefeitura de Santarém, aconteceu no último domingo (13). Um evento tradicional, que tem como um dos atrativos o Tucunaré, um dos peixes mais apreciados da região, é um marco da cultura e das tradições santarenas.

O Festival do Tucunaré da região do Jaderlândia, é realizado “buscando a efetividade de assumir cada dia um compromisso, para que ele seja um exemplar da cultura da área pesqueira, dentro da sociedade Santarena, para que reconheça os valores da nossa prática produtiva, [...] dando oportunidade para que toda a população conheça a finalidade da programação pesqueira”, pontua Anísio Azevedo Pires, presidente do conselho de pesca, que representa os núcleos de base da região da cidade, pela Z20. 

Esperança e o legado de uma comunidade que resiste e não desiste 

Mesmo com as dificuldades, o grupo de 55 associados entre homens e mulheres, que compõem o núcleo de base da região do Jaderlândia não desiste. Segue realizando o festival e esperançado na ação, fazendo seu papel na proteção dos rios da Amazônia e na preservação de uma prática que é marca de um povo: a pesca artesanal. Um legado histórico de resistência de uma atividade que já foi a base econômica da cidade.

“Nós esperamos cada dia mais é que as mobilizações das apresentações da nossas programações pesqueiras em todas as regiões, que elas se desenvolvam, que elas cresçam, que elas tenham mais transparência. E mesmo com as nossas autoridades políticas públicas, que elas vissem isso aqui com mais qualidade, com mais carinho, dando valor à cultura pesqueira, o símbolo que representa uma produtividade que alimenta a sociedade e que nós queremos que a cultura cresça e ela demonstre o desenvolvimento da nossa cidadania, do nosso movimento social”, aponta seu Anísio.

A programação do festival, que é realizado anualmente, conta com apresentações artísticas culturais, shows, sorteio de rifas, torneio de duplas e muita comida típica. A organização do evento mobiliza toda a comunidade, o núcleo de base, a igreja e apoiadores. 

Nesse sentido, a comunidade faz um apelo às autoridades, aos empresários locais e a toda a sociedade, que fortaleça festivais como o festival do Tucunaré, espaços culturais e culinários que contam a história cultural.

“[...] nós não temos mais o festival da Piranha Preta, nós não temos mais o festival do Araku que tinha, né? Então, são muitos festivais que já se acabaram, e o nosso, a gente está lutando para manter. Então, é muito importante continuar, pra mim é uma cultura, né? Que a gente tem há anos, há décadas, né? Eu queria muito que as nossas autoridades, os nossos comerciantes, os nossos empresários, tivessem um pouquinho mais de atenção com os festivais, porque são um grupo de pessoas que se reúnem em busca de melhorar uma qualidade de vida para o seu povo, até mesmo para o seu bairro, que está dentro do turismo”, reforça Elielma.

O impacto da seca nos rios da região na realização do Festival

Fundamentais para o fortalecimento da comunidade pesqueira do núcleo de base da Z20, os festivais que ressaltam as espécies de pescados também fortalecem o turismo e o comércio local, sendo um subsídio econômico importantíssimo para a região. Em um período de seca extrema, em que os rios e lagos da região têm sofrido e o pescado tem ficado cada ano mais escasso, a realização do festival do Tucunaré é um legado de resistência. 

“O nosso impacto esse [...] deixou a gente até desanimado, né? Nós fomos impactados com o peixe, porque nós costumávamos tirar daqui do lago nosso peixe, dessa época, para fazermos o nosso evento, a nossa programação. Aí veio a preocupação que nós não conseguimos o pescado suficiente. Tivemos que comprar das comunidades de longe para trazer, ali do jacamim e foi pouco também, prejudicou muito”, desabafa emocionada dona Elielma Sampaio da Silva, pescadora do núcleo de base e coordenadora do festival.

Na última sexta-feira (11), a medição indicou que o rio Tapajós está com apenas 0,07cm de volume, o menor índice registrado em décadas. Os dados revelam que o rio baixou 12cm em relação à medição de quinta-feira (10), quando a medição indicava 19cm. A situação é muito preocupante, uma vez que, de acordo com os meteorologistas, até o começo de novembro o rio ainda continuará baixando.

“A cada ano fica mais dificultoso para nós organizarmos a nossa cultura com mais ampliação, com mais efetivo, devido até a dificuldade da pesca que está muito difícil hoje para produzir, para adquirir a produção pesqueira[...] também uma demanda muito forte que se adequa hoje é um questionamento da pescaria predatória, que ela traz um impacto muito sério, impedindo que os nossos organizadores de pesca que pagam o seu direito tenham uma pescaria mais de qualidade, tenham uma pescaria mais respeitada. Então, tudo isso está trazendo um impacto”, ressalta seu Anísio.

O Festival do Tucunaré celebra a cultura santarena e é um ato de resistência de uma comunidade pesqueira que enfrenta desafios como a seca dos rios e a escassez de peixes. Em meio a essas dificuldades, o evento se mantém como símbolo de perseverança e união, reunindo moradores para valorizar a pesca artesanal e preservar a identidade local.

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