O município de Novo Progresso ganhou destaque nacional no último domingo (27). Em reportagem do Domingo Espetacular, uma investigação mostrou a operação dos órgãos fiscalizadores que desmantelou um esquema de fraudes que legalizava a criação de gado em áreas embargadas no município. Nos últimos anos, milhares de hectares foram derrubados
Operações conjuntas do Ibama e da Polícia Federal revelaram que o município paraense, situado ao longo da BR-163, é um dos municípios epicentros do desmatamento florestal nos últimos anos. Com cerca de 35 mil habitantes, a base da economia no município é a pecuária e em nome dela, nos últimos anos, milhares de hectares de floresta foram derrubados para se transformarem em pastagens.
Segundo a reportagem, durante a operação realizada nas últimas semanas, três frigoríficos sem licença ambiental foram embargados pelo Ibama. Além disso, foram apreendidas quase nove mil cabeças de gado e aplicadas multas que juntas somam 365 milhões de reais.
Desmatamento e corrupção
A reportagem deu destaque a um esquema criminoso, muito comum e bastante conhecido por quem é da região, onde para tentar encobrir ou legalizar o desmatamento, muitos fazendeiros recorrem a um esquema de fraudes que permite que produtores que criam gado em áreas embargadas consigam empréstimo em bancos estatais que acabam servindo para financiar novos desmatamentos
Por trás das árvores derrubadas e queimadas, um esquema criminoso para abrir novas clareiras. Segundo o Ibama e a Polícia Federal, um plano comandado por famílias milionárias, que nos últimos dois anos movimentou só em empréstimos, cerca de 100 milhões de reais.
“O produtor que desmatou ilegalmente que tem uma área embargada e que ele não poderia vender gado daquela área embargada, muitas vezes ele vende esse gado como se fosse de uma outra propriedade, onde não está embargado. Então ele esquenta o gado, com documentos e informações de um outro imovél rural”, explica Jair Schmidt, diretor de proteção ambiental no IBAMA.
A reportagem do Domingo Espetacular aponta a família Dal Magro, como uma das principais famílias envolvidas no esquema fraudulento. A família Dal Magro, tradicional do agronegócio, atua na área de serviços de consultoria e também é dona de várias fazendas no Pará. O patriarca Bianor Dal Magro é conhecido como um rei da grilagem na Amazônia e responde a vários processos na justiça por questões ambientais. O filho dele, Júlio César Dal Magro, é dono da empresa que, segundo a Polícia Federal, comandava o esquema de fraudes. A empresa é suspeita de adulterar informações no cadastro ambiental rural, possibilitando aos fazendeiros irregulares comercializar o gado criado em áreas desmatadas irregularmente. A fraude servia também para que os mesmos fazendeiros tivessem acesso ao crédito rural.
O IBAMA considera como terras embargadas as áreas que foram desmatadas ilegalmente, que não poderiam ser usadas para a criação de gado ou lavouras, e que devem ser reflorestadas.
A operação das últimas semanas também envolveu Gelson Dio, prefeito de Novo Progresso, cuja fazenda mantinha gado em terras embargadas, segundo os órgãos fiscalizadores. O prefeito foi multado e parte do rebanho foi apreendido.
As consequências do desmatamento e os desafios da fiscalização
O desmatamento da Amazônia acarreta perdas ambientais e sociais de longo prazo. A destruição de florestas primárias reduz a capacidade da Amazônia de regular o clima e de sustentar uma rica biodiversidade, além de afetar populações tradicionais e indígenas. As operações de fiscalização, embora intensas, enfrentam desafios consideráveis, como o poder econômico e político de algumas famílias envolvidas.
Apesar das apreensões e multas, o lucro gerado pelas práticas ilegais de pecuária parece superar os prejuízos. “Queremos que o crime ambiental não compense [...] Não podemos permitir que infratores se beneficiem economicamente da devastação”, pontuou Jair Schmidt.