Pesquisa destaca potencial das libélulas para impulsionar ecoturismo de base comunitária na Amazônia

Estudo revela como insetos da ordem Odonata podem fomentar a consciência ambiental, contribuir para a conservação da biodiversidade e gerar oportunidades de renda sustentável para as comunidades locais.

05/11/2024 às 16h31
Por: Tapajós de Fato Fonte: Ascom Ufopa
Compartilhe:
Fotos: acervo da pesquisa
Fotos: acervo da pesquisa

Estudo inédito, realizado por uma equipe de cientistas da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade do Algarve (UAlg), de Portugal, revela que as libélulas, insetos pertencentes à ordem Odonata, podem desempenhar um papel fundamental na promoção do ecoturismo de base comunitária na Amazônia brasileira. Os resultados da pesquisa, publicados na revista Global Ecology and Conservation, destacam a importância do conhecimento ecológico tradicional e da participação comunitária no desenvolvimento de iniciativas de conservação em áreas protegidas na Amazônia.

A pesquisa é detalhada no artigo “Neotropical dragonflies (Insecta: Odonata) as key organisms for promoting community-based ecotourism in a Brazilian Amazon conservation area”, que tem como autores os cientistas Mayerly Alexandra Guerrero-Moreno (Ufopa), Leandro Juen (UFPA), Miguel Puig-Cabrera (UAlg), Maria Alexandra Teodósio (UAlg) e José Max Barbosa Oliveira Junior (Ufopa).

De acordo com os pesquisadores, a incorporação de insetos no ecoturismo aumenta a conscientização sobre sua importância nos ecossistemas. No entanto, a inclusão desse grupo em atividades ecoturísticas ainda é rara, mas com grande potencial. Por isso, táxons emblemáticos, como as libélulas, conhecidas na Amazônia como jacinas, com perfis de alta popularidade, podem fomentar o interesse de públicos de todas as idades em relação a outros invertebrados, o que é vital, dada a atual perda de biodiversidade.

"As libélulas são vistas como símbolos culturais e ambientais importantes, por isso sua inclusão no ecoturismo de base comunitária pode fortalecer a conexão entre a comunidade, os visitantes e a biodiversidade local”, afirma Mayerly Alexandra Guerrero-Moreno, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (PPGSND) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

O estudo foi realizado na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, situada na Amazônia brasileira, onde foram entrevistados 415 líderes e moradores indígenas e não indígenas, revelando que 98,55% dos participantes reconhecem esses organismos e atribuem a eles valores estéticos, ambientais, culturais e econômicos. “Esse estudo faz parte do INCT Sínteses da Biodiversidade Amazônica e do PPBIO Amazônia Oriental, que buscam promover essa integração, pois acreditamos que ela seja essencial para a conservação da biodiversidade e para o desenvolvimento sustentável”, afirma Leandro Juen, um dos autores do artigo.

Segundo o estudo, 96,38% dos participantes afirmaram que atividades de ecoturismo atuais não incluem informações sobre invertebrados. Essa lacuna poderia ser preenchida pelo uso das libélulas como atrativos ecoturísticos, dadas suas características chamativas, cores vibrantes e voo elegante. A maioria dos entrevistados manifestou interesse em observar libélulas (99,04%) e participar no desenvolvimento de atividades ecoturísticas com Odonata (89,88%), indicando que sua inclusão no ecoturismo de base comunitária poderia aumentar a conscientização ambiental e proporcionar uma nova fonte de renda para as comunidades da reserva.

A pesquisadora destaca ainda que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) tem o programa Monitora, que avalia a biodiversidade em áreas protegidas, incluindo o uso das libélulas como indicadores ambientais. “Integrar essas iniciativas com o ecoturismo comunitário pode fortalecer a proteção ambiental e a valorização cultural na região”, afirma.

Professor do Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA) e do PPGSND, ambos da Ufopa, José Max Oliveira Júnior afirma que o ecoturismo de base comunitária, centrado em Odonata, não só tem o potencial de atrair turistas, mas também de promover a participação e o empoderamento de populações indígenas e não indígenas que habitam a reserva. “Esperamos que esta pesquisa sirva como uma ferramenta de diagnóstico essencial para impulsionar o ecoturismo de base comunitária com foco em Odonata em unidades de conservação. São extremamente importantes estudos que buscam alinhar a geração de conhecimento da biodiversidade e a interação com as populações tradicionais, visando à conservação da biodiversidade local, a geração de rendimentos e o empoderamento das comunidades”, afirma.

Para garantir que o ecoturismo com libélulas seja benéfico e sustentável, os pesquisadores enfatizam a necessidade de desenvolver políticas públicas, programas de financiamento e suporte técnico que possibilitem o desenvolvimento dessas iniciativas pelas comunidades locais. A pesquisa aponta ainda que a implementação de programas educacionais e de treinamento é essencial para preparar as comunidades para a gestão dessas atividades, promovendo um turismo sustentável e inclusivo.

Confira o artigo completo (em inglês) aqui: https://doi.org/10.1016/j.gecco.2024.e03230. 

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
Coalizão com mais de 100 entidades lança segunda fase da campanha “Nossa Chance para Adiar o Fim do Mundo” e leva voz dos territórios à Alemanha
Lançamento Há 4 dias Em Notícias

Coalizão com mais de 100 entidades lança segunda fase da campanha “Nossa Chance para Adiar o Fim do Mundo” e leva voz dos territórios à Alemanha

Do local ao global: ações locais e incidência internacional marcam campanha conduzida por organizações amazônicas. Com base na escuta ativa de comunidades amazônicas e na articulação de propostas populares para a política climática brasileira, o Comitê COP30 inicia nova fase da campanha ‘Nossa Chance’ com ações nos territórios e incidência internacional rumo à COP de Belém.
Macapá será palco do Festival Amazônia Terra Preta: juventude e povos tradicionais em defesa do clima às vésperas da COP 30
Evento Há 2 semanas Em Notícias

Macapá será palco do Festival Amazônia Terra Preta: juventude e povos tradicionais em defesa do clima às vésperas da COP 30

Evento articula cultura, ciência e ancestralidade em resposta à emergência climática na Amazônia, a poucos meses da conferência da ONU em Belém.
Juventudes da floresta realizam Pré-Conferência do Clima em preparação para a COP 30, destacando a importância da participação dos jovens no debate climático
Evento Há 2 meses Em Notícias

Juventudes da floresta realizam Pré-Conferência do Clima em preparação para a COP 30, destacando a importância da participação dos jovens no debate climático

Além das discussões sobre os impactos da crise climática, o evento terá como objetivo a elaboração de um documento político que será levado à COP 30. Este documento refletirá as necessidades das comunidades do PAE Lago Grande e de outras áreas afetadas pelas mudanças climáticas, servindo como ferramenta de pressão para que governantes e entidades internacionais adotem medidas mais eficazes e inclusivas no enfrentamento da crise climática global.
Formação Há 2 meses Em Notícias

Terceiro módulo da Escola de Comunicação Popular do Oeste do Pará do Tapajós de Fato debate a importância das redes sociais para o trabalho de comunicadores populares e jornalistas

Dialogou-se que a comunicação popular trouxe grandes mudanças para essas plataformas, e um dos exemplos é a transição da comunicação vertical para a horizontal. Na comunicação vertical, o fluxo é de cima para baixo, resultando em pouco espaço para participação ou resposta. Já na comunicação horizontal, muitos falam com muitos, promovendo vozes diversas e múltiplos pontos de vista, além de incentivar a participação ativa e a interatividade.