Quinta, 05 de Dezembro de 2024
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Liderança indígena expõe impactos da Ferrogrão na COP-29 

“Peço que não deixem a Ferrogrão destruir o Tapajós”, disse a liderança do povo Munduruku, Alessandra Korap, ganhadora do prêmio Goldman em 2023.

21/11/2024 às 10h15 Atualizada em 21/11/2024 às 10h24
Por: Tapajós de Fato Fonte: Aliança contra a Ferrogrão
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Aliança contra a Ferrogrão
Aliança contra a Ferrogrão

Durante a COP-29, em Baku, Azerbaijão, lideranças da Amazônia criticaram a Ferrogrão e outras grandes obras de infraestrutura que ameaçam o bioma e as populações tradicionais. O painel “Infraestrutura sustentável na Amazônia: caminhos para a transição energética e ecológica” reuniu vozes como Alessandra Munduruku e Cleidiane Vieira, que denunciaram os impactos sociais e ambientais desses empreendimentos e propuseram alternativas mais inclusivas e sustentáveis. A Ferrogrão, projetada para escoar grãos do Centro-Oeste pelo Rio Tapajós, foi alvo central das críticas.

"Peço que não deixem a Ferrogrão destruir o Tapajós", disse a liderança do povo Munduruku, Alessandra Korap, ganhadora do prêmio Goldman em 2023. A Ferrogrão (EF-170), que visa escoar grãos do Centro-Oeste pelo Rio Tapajós. Alessandra destacou que a obra não apenas ameaça o território de seu povo, mas também o equilíbrio ecológico da região.

"São hidrovias, hidrelétricas, portos e ferrovias, grandes obras de logística que não funcionam para o bioma Amazônia e impactam negativamente a vida dos povos tradicionais", afirmou. "Só no Rio Tapajós, são 41 projetos de portos, 27 já em operação, sendo que apenas cinco estão licenciados. Pedimos respeito: parem com a Ferrogrão e todos os empreendimentos que destroem nossos rios e nossa cultura".

A paraense Cleidiane Vieira, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), destacou como o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil exclui as populações amazônicas. “A energia que produzimos não chega para quem vive aqui. Pagamos a tarifa mais cara do país enquanto nossos recursos são saqueados para atender a outras regiões”, afirmou. 

Ricardo Baitelo, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), defendeu que a transição energética no Brasil precisa incluir as populações mais vulneráveis. Ele criticou a falta de planejamento em projetos como a Ferrogrão, que priorizam exportações em detrimento do bem-estar local. “Precisamos de soluções que beneficiem as comunidades, não apenas os grandes negócios”, argumentou. 

O projeto da Ferrogrão, promovido por empresas do agronegócio e apoiado pelo Governo Federal, prevê 933 quilômetros de trilhos conectando Sinop (MT) a Miritituba (PA). “A Ferrogrão é parte de um modelo que nunca pensou nos povos da Amazônia”, criticou Alessandra Munduruku. “Estamos aqui para lembrar que há outras formas de viver e proteger a floresta, e elas precisam ser ouvidas”. 

Bloco de aspas na íntegra

Alessandra Korap Munduruku

  

- "São hidrovias, hidrelétricas, portos e ferrovias, grandes obras de logística que não funcionam para o bioma Amazônia e impactam negativamente a vida dos povos tradicionais."  

- "Só no Rio Tapajós, há 41 projetos de portos, 27 já em operação, sendo que apenas cinco estão licenciados. Não deixem a Ferrogrão destruir nosso território."  

- "Não precisamos da riqueza da mineração ou do crédito de carbono. Nossa riqueza está no rio limpo, na floresta em pé."  

- "Quem destrói o planeta não somos nós, os povos indígenas. São as grandes empresas, a monocultura, as mineradoras. Nós só queremos viver com dignidade."  

- "Que cada um de vocês tenha a responsabilidade de salvar o planeta. Porque o planeta é um, não há planeta dois."  

 

Cleidiane Vieira (Movimento dos Atingidos por Barragens)

  

- "O que foi pensado para a Amazônia é sempre para atender à demanda do país, nunca para as pessoas."  

- "Temos grandes hidrelétricas, mas nossas comunidades vivem sem energia. Pagamos a tarifa mais cara do Brasil."  

- "A Amazônia está sitiada, saqueada. Nunca se extraiu tanta riqueza sem retorno para quem vive aqui."  

- "Nada para a Amazônia sem os amazônidas."  

 

Ricardo Baitelo (IEMA)

  

- "Ainda temos quase mil unidades básicas de saúde sem eletricidade, e um terço delas está no Pará."  

- "Precisamos de uma transição energética que garanta acesso e beneficie diretamente as comunidades locais."  

- "Corredores logísticos, como a Ferrogrão, são decididos sem que as comunidades possam incidir de verdade. Isso precisa mudar."  

- "A transição energética também é uma oportunidade para fortalecer a bioeconomia, mas é preciso garantir uma infraestrutura que funcione para todos." 

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