Frente Pelo Clima: uma resposta popular à crise ambiental no Oeste do Pará

Manifestação organizada pela Frente Pelo Clima convoca a sociedade civil para exigir ações efetivas contra queimadas e poluição na região.

02/12/2024 às 11h15
Por: Marta Silva Fonte: Tapajós de Fato
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Frente Pelo Clima
Frente Pelo Clima

A região Oeste do Pará vive uma crise climática sem precedentes há meses. A estiagem chegou antes do esperado, e do que é comum na região, isso acarretou uma das piores seca dos rios Amazonas e Tapajós dos últimos anos. Além disso, desde de setembro a região, assim como todo o estado do Pará, sofre com os elevados índices de focos de queimadas. Esse último, tem acarretado outro problema grave, a fumaça.

Santarém, vive há meses sufocada pela fumaça. Uma densa cortina que polui o ar, compromete a visibilidade e a trafegabilidade, e ocasiona diversos problemas de saúde à população.

Diante da situação grave e da falta de ações efetivas por parte da Gestão Municipal e do Governo Estadual e Federal, em reunião no dia 25 de novembro, movimentos sociais e população criaram a Frente Pelo Clima.

Oganizada por diversos movimentos sociais, ambientalistas e organizações locais, a Frente Pelo Clima, em sua primeira ação organizou a Marcha Pelo Clima, que irá se concentrar no Centro Regional de Governo do Oeste do Pará às 17h e percorrerá ruas centrais da cidade, em reivindicação por ações imediatas e concretas do poder público para combater as queimadas e mitigar seus impactos.

“Na segunda-feira (25) diversos atores sociais aqui de Santarém reuniram-se, um pouco para ver se tomavam uma atitude frente à crise climática profunda que a gente vive, especialmente a questão da fumaça. Uma conclusão que todo mundo chegou: nós estamos numa câmara de gás que não para de ter fumaça, e aumentando isso nós vamos acabar morrendo, nós precisamos de ajuda. [...] Em função disso, então, criou-se a frente, para que esses atores pudessem dialogar com mais constância. E a primeira atitude dessa frente foi puxar uma marcha para dar maior visibilidade e dizer para a população santarena, não só santarena mas da região, um pouco acordar frente a isso porque nós estamos numa situação muito séria que pode nos levar à morte”, ressalta Thiago, Advogado Popular do Maparajuba, um das organizações que compõem esse movimento.

Santarém e o ar insalubre

Segundo dados da plataforma PurpleAir, no último domingo (24), o município chegou a registrar um IQar (Índice de Qualidade do Ar)  de 458 microgramas por metro cúbico (µg/m³) — quase dez vezes acima do limite considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 0 a 50. Em, 21 de novembro, Santarém já havia registrado a pior qualidade do ar do Brasil, com 307 µg/m³.

Diante deste cenário, os organizadores da manifestação enfatizam que “a marcha surge em um momento crítico, quando Santarém e municípios vizinhos enfrentam uma grave crise ambiental, com o ar da cidade atingindo níveis perigosos de poluição devido às queimadas”.

Além de Santarém, municípios como Itaituba, Alenquer, Óbidos e Monte Alegre, também têm sido impactados pela fumaça proveniente de queimadas que se alastram pela região.

Município de Mojuí dos Campos também tem sofrido com a fumaça que impacta a qualidade do ar/ Foto Marta Silva (Tapajós de Fato)

Situação de emergência

O prefeito Nélio Aguiar por meio do Decreto nº 698/2024 decretou, na segunda-feira (25), após intensa mobilização da população, situação de emergência ambiental no município. Segundo o  decreto, como medida de urgência, foi solicitado reforço de apoio federal no combate às queimadas na região. No documento, o prefeito destacou o avanço acelerado das queimadas e seus impactos na qualidade do ar. A Prefeitura pediu a presença da Força Nacional e da Guarda Nacional para ajudar no combate aos incêndios, que têm sobrecarregado os recursos locais e agravado a crise climática.

Além de alertar para os riscos imediatos causados pelas queimadas, a marcha também destaca a necessidade de uma política pública de proteção ambiental mais robusta e de maior fiscalização para evitar a destruição de áreas de floresta e o aumento das emissões de gases de efeito estufa”, ressaltam os organizadores.

Thyago reforça que a saída da Marcha Pelo Clima se dará da frente do Centro Regional de Governo porque o intuito é dar um recado para o governador Helder Barbalho (MDB) que ele precisa junto com o Governo Federal sinalizar políticas públicas para enfrentar o problema das queimadas e seus agravos, como a fumaça que polui o ar e torna insalubre respirar.

 

Programação da MARCHA PELO CLIMA

Data: 02 de dezembro, a partir das 17h
Concentração: Em frente ao Centro Regional de Governo do Oeste do Pará

Endereço: Rua 15 de agosto, Centro.

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