O documentário “Colhendo Histórias, o protagonismo de mulheres montealegrenses na agricultura” é uma homenagem à força e determinação das mulheres que transformam a agricultura e a vida rural com histórias de resistência e inovação na cidade de Monte Alegre, no Pará
O projeto foi selecionado na categoria Curta documentário no edital de chamamento público nº 001/2023- Audiovisual da Lei Paulo Gustavo.
O documentário foi idealizado por Rabbya Fraia, estudante de Antropologia, poeta, escritora, nascida em Monte Alegre, iniciante na área de produção cultural e audiovisual, produziu o documentário com o objetivo de apresentar histórias de mulheres que são invisibilizadas, mas que desenvolvem um trabalho e uma relação com a terra de forma muito inspiradora. O projeto mostra à sociedade os desafios e resistências das agricultoras Wilma, da comunidade de Serra Azul e Jacira, da comunidade de Vai quem quer, do município de Monte Alegre.
Focado na vivência dessas duas mulheres agricultoras, Wilma e Jacira, o documentário mostra que na terra marcada pelo fogo e pela seca, é nas mãos das mulheres que a agricultura ganha forças e encontra formas de sobreviver, com resistência, na luta diária das mulheres agricultoras.
Em meio à Crise Climática iminente, a seca e o desmatamento, a luta não é somente por terra, mas pelo direito à sobrevivência, ao direito de plantar, de colher e ter uma vida consumindo uma alimentação saudável para sua família, e além, esses alimentos produzidos pelas mãos de agricultoras e agricultores, além de saudáveis, sem veneno, eles também são levados para alimentar a população das cidades, das áreas urbanas.
A luta dessas mulheres gira em torno do plantar e do colher, contudo, não é a única tarefa direcionada a elas, que diariamente lidam também com a organização e manutenção da casa, e ainda lidam com a educação e os cuidados com os filhos e suas famílias de modo geral. São elas o alicerce de sustento de suas famílias, mas também de sua comunidade. Uma tarefa árdua, e nada fácil.
Dona Jacira expressa em sua fala as dificuldades do trabalho na roça, mas ela diz também que “cresci e me criei plantando mandioca…é muito triste a vida do colonheiro, que a gente pensa que não é fácil trabalhar com mandioca…vou fazer 68 anos agora em janeiro trabalhando na farinha, na agricultura…”. Isso mostra a lida de uma vida na cultura do plantio e da agricultura familiar, é herança dos antepassados, dos povos indígenas e de toda uma ancestralidade alicerçada no aprendizado e conhecimento da terra e do cultivo das plantas e principalmente, da mandioca.
Para o envio dos alimentos para a cidade requer uma logística nem sempre muito fácil. Os entraves de manter uma boa circulação dos alimentos produzidos pela agricultura familiar são estruturais, estradas difíceis e por vezes quase intrafegáveis, falta de políticas públicas que garantam que essas senhoras produtoras consigam exercer seu trabalho com segurança e qualidade, e por fim, os atravessadores, que são pessoas que se aproveitam e compram produtos baratos, pagam pouco e levam muito.
Da importância dessa produção audiovisual que traz a força dessas mulheres, é como diz dona Jacira, que “ a agricultura da gente é uma fonte de renda que ajuda a gente e leva a comida pra mesa dos ricos lá na cidade, porque se não for nós trabalhar na mandioca pra vender lá pra fora não tem mesmo né? Tem que ser os agricultores que planta mandioca…porque a mandioca aqui que é o ágil do agricultor, se a gente num tiver uma rocinha né…? Aí tem que ter uma fonte de renda da poderosa que é a mandioca”.
O campo é a força dessas mulheres, e o cenário de desafios, que se mostram cada vez maiores diante da realidade climática que o mundo enfrenta, e a desvalorização torna seus esforços ainda mais pesados. Ainda assim, mesmo com as mãos calejadas elas seguem firmes, plantando, para o presente e garantindo um futuro para as novas gerações. Mulheres fortes e resilientes que carregam esperança, que trazem consigo força e poder do domínio, conhecimento e manejo da terra. É sobre essas mulheres que o documentário fala.
Dona Wilma Araújo, da comunidade de Serra Azul, produtora, agricultora e feirante compartilha sua rotina até a cidade, onde durante a feira, vende seus produtos vindos da agricultura familiar e diz: “A gente não é rico, mas a gente consegue nosso sustento, pagar nossas contas com nossos produtos daqui”. Ela diz ainda: “ A gente trabalha, todo dia tem muita coisa pra fazer, porque no interior a gente num …geralmente eu digo quando a gente tá descansando em Serra Azul nós tamo carregando pedra”, dona Wilma diz isso sorrindo. O que retrata a ausência de descanso de quem trabalha na agricultura familiar rural, enfatizando a dificuldade da labuta, mas também a felicidade de ter uma comida saudável.
As agricultoras participam também de um projeto onde através de uma licitação com a prefeitura, elas fornecem alimentação para as escolas, dentre os alimentos estão a banana, farinha, feijão, farinha de tapioca, e um pouco de cada coisa produzida em suas terras, garantia de fonte de renda e alimentação saudável para estudantes das escolas públicas.
A vida das mulheres agricultoras têm também sido impactada pelo fogo, as queimadas fizeram com que perdas significativas ocorressem, como a perda de bananais, alimento que sustenta tanto o interior quanto a cidade.
O documentário traz a importância de mostrar à população as realidades de quem garante alimento saudável em suas mesas, que a luta seja por cada vez mais políticas aos agricultores familiares da região amazônica que lutam diariamente para manter os modos de vida, a cultura e agricultura em harmonia para o bem viver de todos.
Rabbya Fraia, idealizadora do projeto compartilha conosco a importância e os maiores desafios na produção do documentário.
“O documentário surgiu com a necessidade mesmo de documentar a vida da agricultura familiar e ter um produto didático pra que a gente possa mostrar pros jovens e pras crianças que não é essa indústria gigantesca do agronegócio que coloca comida nas nossas mesas, mas duas, três mãos da agricultura familiar que nos alimentam… Então quando a gente pensa a importância do documentário pra temática desse momento histórico que a gente tem vivido a gente pode pensar exatamente sobre como o agricultura familiar talvez tivesse a solução que a gente estava precisando. Talvez sejam essas pequenas famílias, a mão dessas pequenas mulheres que pensam no futuro, que ainda não existe pros seus filhos. Talvez elas tenham uma solução. A relação delas com a terra seja a solução pra que a gente viva minimamente bem diante desse desastre. São essas mulheres que talvez a gente precise colocar no foco, ouvir as suas histórias de existência, de resistência pra frear todo esse desastre climático”.
Os maiores desafios, segundo Rabbya, foram: o acesso, a logística de transporte e chegada ao local ficou comprometido devido a queda da ponte de acesso à comunidade, a desarticulação do sindicato e a revolta quanto às dificuldades das agricultoras sem assistência do governo que negligencia as necessidades dos agricultores quanto ao escoamento dos seus produtos, e também quanto aos atravessadores que insistem em comprar barato e vender muito mais caro um produto que vem da agricultura familiar sabendo a labuta diária para produzir desvalorizando totalmente o trabalho das agricultoras.
O documentário “Colhendo histórias, protagonismo de mulheres montealegrenses na agricultura" foi lançado dia 20 de Dezembro de 2024 e está disponível na plataforma digital do youtube.