Quarta, 19 de Março de 2025
Reportagem Especial Comemoração

Floresta Nacional do Tapajós comemora 51 anos e promove feira da sociobiodiversidade

Nos dias 7 de março, foi realizado na sede do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade- ICMBio de Santarém um evento em comemoração aos 51 anos da Floresta Nacional do Tapajós- FLONA.

12/03/2025 às 14h06
Por: Conce Gomes Fonte: Tapajós de Fato
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Foto: Renan Taparajó
Foto: Renan Taparajó

A Floresta Nacional do Tapajós é uma Unidade de Conservação (UC) no estado do Pará, com 549.066,87 hectares. Abriga uma diversidade de paisagens, rios, terra firme, morros, planaltos, florestas, campos, essa diversidade abriga uma variedade de espécies de animais como macacos, antas, onças pintadas, aves e peixes. É a UC que concentra a maior quantidade de pesquisa científica do país.

Além da variedade de fauna e flora, a Floresta Nacional do Tapajós abriga uma diversidade de povos, onde comunidades tradicionais ribeirinhas e indígenas utilizam dos recursos naturais para subsistência.

Criada em 1974, no Decreto nº 73.684 de 19 de fevereiro de 1974/ Lei nº 12.678 de 25 de junho de 2012, a Flona completou seus 51 anos de existência em 19 de fevereiro de 2025, e fica sob gestão do ICMBio.

Foto: Tapajós de Fato

Para comemorar o aniversário de 51 anos da Flona do Tapajós, o ICMBio realizou um evento que enfatiza a importância da reserva e seu potencial, pois une sustentabilidade e conservação. O evento reforçou a importância da sociobioeconomia e dos produtos feitos por quem está dentro da floresta, protegendo-a e mantendo sua preservação. Em entrevista ao Tapajós de Fato, Elizete Jardim, servidora do ICMBio, que atua na Floresta Nacional do Tapajós e coordenadora do evento, compartilhou sobre essa comemoração. “[...] a gente pensou em realizar um evento aqui em Santarém para aproximar as comunidades da Floresta Nacional do Tapajós, juntamente com as comunidades que ficam aqui no entorno de Santarém”. Na ocasião foi realizada a feira da sociobiodiversidade “[...] pra valorizar a produção da Flona, a produção dos agricultores e agricultoras e produtores rurais de Santarém, e ainda oferecemos uma oficina de iniciação à biojoias que tem tudo a ver com o objetivo da Flona [...] e pensamos nessa oficina de biojoias também por conta do dia internacional da mulher, e nada melhor do que empoderar nossas mulheres e dar uma alternativa de renda pra elas, conciliando o uso sustentável da floresta”. 

São várias frentes de atuação do ICMBio junto à Flona do Tapajós, dentre elas estão o turismo sustentável, turismo de base comunitária, capacitação, o beneficiamento dos óleos como andiroba e copaíba, o trabalho com as sementes e a parte de pesquisas da fauna e flora e agricultura familiar com a plantação de mandioca para a produção de farinha tanto para o sustento das famílias quanto para a comercialização para obtenção de fonte de renda para as famílias da Floresta Nacional do Tapajós.

Foto/ ICMBio

As mulheres tiveram também uma oficina de iniciação à biojoia, as mesmas já coletam sementes no próprio quintal, a oficina de biojoias reforça a importância dessa construção de negócio sustentável por manter essa relação diferenciada com a natureza, sem agredi- la. E pensar na bioeconomia através da confecção de biojoias é uma maneira de manter a floresta em pé, uma forma sustentável de usar os recursos naturais disponíveis ali, como nos diz Lívia Paz, da comunidade de São Domingos. “Então, hoje estou aqui para aprender um pouco, e daqui levar para a comunidade, ajudar as mulheres, lá a gente tem bastante mulheres treinadas e capacitadas para fazer as biojoias artesanalmente com as sementes da floresta, e falar pras mulheres que nós somos capazes, né? de fazer, de evoluir[...]e temos que preservar e continuar preservando, e mostrar que estamos firmes e fortes para lutar em favor da preservação da natureza”.

Nas comunidades da Flona do Tapajós, já existem mulheres que trabalham com biojoias, possuem sua marca e se auto sustentam através de suas produções, movimentando a economia local, fortalecendo as relações entre as comunidades e valorizando o trabalho das mulheres no campo dos negócios sustentáveis mantendo a preservação da floresta e o sustento das famílias..

Estiveram presentes na oficina de biojoias mulheres da Flona, comunitárias da Resex Tapajós-Arapiuns, mulheres da várzea e agricultoras. A oficina foi realizada em parceria com o coletivo Nunghara, que disponibilizou a oficina, especialmente para a s mulheres que ainda não tinham experiência com a produção de biojoias. 

Esse é um dos objetivos do projeto, fazer com que essas mulheres olhem para seus quintais e suas comunidades, possam coletar sementes e enxerguem que isso pode ser um grande potencial econômico.

Foto/ Tapajós de Fato

 

Para Niracy Sousa dos Santos, moradora da comunidade de Maguary na Flona, e membro do grupo Natureza Viva, esse evento em homenagem aos 51 anos da Floresta Nacional do Tapajós é importante. “[...] pra nós é uma satisfação muito grande tá aqui participando desta feira pelo aniversário da Flona, fomos convidadas pelo ICMBio [...] e a gente procura preservar o máximo na coleta da semente, não derrubar as árvores, e arranjar uma maneira da nossa floresta continuar em pé e preservando ela[...]”.

Foto: Tapajós de Fato

Aconteceu durante o evento de comemoração, a feira da sociobioeconomia, onde produtoras e agricultoras rurais expuseram e comercializaram seus produtos que exprimem a sua relação não só com a natureza, mas também com a luta, principalmente de mulheres que mantém viva a cultura local através da agroecologia, do cultivo de hortaliças, frutas, produção de farinha, entre outros, e confecção de artesanato, trazendo além das biojoias produtos saudáveis para a alimentação da população santarena.

Foto: Ascom do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém

E nesse dia de comemoração dos 51 anos da Floresta Nacional do Tapajós, dia que antecedeu o dia internacional da mulher, o STTR resolveu homenagear as mulheres em parceria com a Flona do Tapajós reunindo mulheres de Santarém, Mojuí dos Campos e Belterra com a realização da feira. E como nos diz dona Ivete Bastos, presidente do sindicato, “a gente como mulher já está empoderada por muitos fatores. Já entendemos nossos direitos, já trabalhamos combatendo a violência que existe, e aquelas que não conhecem, que ainda não atuam em defesa, mas elas já estão dialogadas, conversadas, estão nas rodas de conversa”. A feira, bem como todo o evento, é um espaço importante para conversar e abordar sobre diversos assuntos “[...] sobre combater a violência, como combater o agrotóxico, como melhorar nossa produção, falar para o consumidor sobre produção agroecológica, que ela traz saúde, e também, reivindicamos. Então esse dia foi especial [...] estarmos nesses espaços ocupando e no nosso lugar de fala onde nós mulheres reivindicamos os direitos das nossas queridas mulheres”.

Foto: Ascom do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém

Além da feira, comemorando os 51 anos da Flona do Tapajós, Ivete Bastos ressalta que é importante relembrarmos que a Floresta Nacional do Tapajós foi a primeira Unidade de Conservação- UC criada na região, e para além disso, houve muitas lutas para que também a população fosse mantida ali naquela região, “ [...] então quem está dentro da Floresta Nacional do Tapajós hoje já avançou muito na questão dos diálogos ambientais, da comercialização dos produtos da floresta, o turismo comunitário está bastante fortalecido, então a gente comemora as vitórias também, que é 51 anos de existência, mas também de muita coisa pra mostrar, e Santarém está junto, nós chamamos de metropolitana por isso nós unimos todos esses segmentos de mulheres, em especial as que estão dentro da Flona do Tapajós pra que a gente pudesse valorizar ainda mais, e reafirmar nossa luta pela preservação, pela conservação em defesa dos rios, das águas, do campo e da floresta em defesa da nossa Amazônia”.

Com essa fala potente e cheia de significados de dona Ivete Bastos, esse momento de 51 anos da Floresta Nacional do Tapajós leva a mensagem de que mais espaços sejam preservados para que as florestas e as vidas existentes nesses territórios usufruam do seu Bem Viver em paz e em harmonia com a natureza, tendo todos os seus direitos protegidos, garantidos e respeitados.

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