O Grupo de Juventude Negra Quilombola Abayomi lançou nesta manhã, 20 de março, uma NOTA OFICIAL contra a repressão aos Quilombolas no Marajó e a falsa narrativa do Pará na COP 30, denunciando a repressão violenta da Polícia Militar do Pará contra quilombolas e demais manifestantes que protestavam pacificamente contra o aumento abusivo das tarifas do transporte hidroviário na região do Marajó.
Na manhã do dia 19 de março, na comunidade quilombola de Vila União/Campinas, na PA-154, a polícia usou bombas de efeito moral, balas de borracha e spray de pimenta contra homens, mulheres, idosos e crianças. Além da brutalidade dos policiais, moradores relataram que agentes do Estado lançaram bombas dentro de residências, e até mesmo em uma escola infantil, deixando feridos e causando pânico na comunidade. Além disso, quilombolas foram presos arbitrariamente apenas por exercerem seu legítimo direito à manifestação.
O aumento das passagens de transporte hidroviário tem sido um golpe duro para as comunidades quilombolas, que enfrentam um custo de vida elevado e precariedade nos serviços públicos. O monopólio da Henvil Transportes mantém os preços nas alturas sem oferecer melhorias, impactando estudantes, trabalhadores e pequenos comerciantes. Diante disso, quilombolas, e moradores de diversas comunidades se uniram para exigir uma resposta do governo.
Contradição do Pará na COP 30
A repressão ocorreu no mesmo momento em que o governo do Pará se projeta internacionalmente como anfitrião da COP 30, promovendo um discurso de sustentabilidade e respeito aos povos tradicionais. No entanto, o Grupo Abayomi denuncia a contradição entre essa narrativa e a realidade enfrentada pelas comunidades quilombolas, que sofrem com a falta de diálogo, aumento do custo de vida e violência do Estado. Na prática, esses mesmos povos são silenciados e reprimidos quando exigem direitos básicos como transporte acessível e dignidade.
“O governo de Helder Barbalho quer posar de defensor da Amazônia, mas não escuta os povos que a protegem. A repressão contra quilombolas e indígenas expõe a hipocrisia de um Estado que busca reconhecimento global enquanto viola os direitos das populações tradicionais ", afirma o grupo em nota.
A contradição é gritante: como o Pará pode se apresentar como referência em políticas socioambientais se aqueles que protegem a floresta e seus territórios são tratados com violência? Como falar em justiça climática quando comunidades quilombolas, guardiãs de saberes ancestrais, são criminalizadas ao reivindicar direitos?
Demandas da comunidade quilombola: Diante dessa situação, os manifestantes apresentam reivindicações urgentes ao governo do estado:
Até o momento, nenhuma autoridade estadual se dispôs a dialogar com os quilombolas sobre o reajuste das passagens e os impactos socioeconômicos no Marajó. A Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará - MALUNGU acompanha o caso juridicamente e tomará as medidas cabíveis para garantir os direitos das comunidades.
O Observatório do Marajó - organização que atua no fortalecimento de comunidades tradicionais e no monitoramento de políticas públicas do Marajó - acompanha a situação e em repercussão demonstrou apoio a nota emitida pelo Coletivo Abayomi e segue acompanhando seus desdobramentos pela garantia dos direitos das comunidades quilombolas e demais populações tradicionais.
Acesse a nota na íntegra: NOTA OFICIAL COLETIVO ABAYOMI
NOTA EM TEXTO NA ÍNTEGRA
NOTA OFICIAL DO GRUPO ABAYOMI: REPRESSÃO AOS QUILOMBOLAS NO MARAJÓ E A FALSA NARRATIVA DO PARÁ NA COP 30
O Grupo de Juventude Negra Quilombola Abayomi vem a público denunciar e repudiar veementemente a violência cometida pelo Estado do Pará contra quilombolas e demais manifestantes que, de forma pacífica, protestam contra o aumento abusivo das tarifas do transporte hidroviário na região do Marajó.
Na manhã de ontem, 19 de março de 2025, na comunidade quilombola de Vila União/Campinas, na PA-154, a Polícia Militar do Pará, agindo sob ordens do governo estadual, atacou covardemente os manifestantes, utilizando bombas de efeito moral, balas de borracha e spray de pimenta contra homens, mulheres, idosos e crianças. Não satisfeitos, lançaram bombas dentro de residências e até mesmo em uma escola infantil, ferindo moradores e deixando muitos em estado de choque. Além da brutalidade, comunitários quilombolas foram presos arbitrariamente, simplesmente por exercerem seu legítimo direito à manifestação.
PARÁ: DA VIOLÊNCIA À HIPOCRISIA DA COP 30
Toda essa repressão ocorre às vésperas da realização da COP 30, evento internacional do clima que o governo estadual faz questão de exibir como um troféu. No entanto, há uma dicotomia evidente entre o que o Governo do Pará anuncia ao mundo e o que realmente faz. O discurso oficial apresenta um estado comprometido com a sustentabilidade, a preservação ambiental e a valorização dos povos tradicionais, mas na prática, o Pará da COP 30 reprime, agride e marginaliza suas comunidades originárias.
O governo de Helder Barbalho quer posar de defensor da Amazônia e de seus povos, mas não dialoga com quilombolas quando o assunto é direito, dignidade e justiça social. Da mesma forma que agrediu os indígenas por reivindicarem educação de qualidade, agora ataca os quilombolas que lutam pelo direito ao transporte acessível e por uma economia que não esmague ainda mais os mais pobres. Isso demonstra que a preocupação do governo não é com as pessoas, mas sim com a sua própria imagem no cenário internacional.
É inaceitável que o Pará busque reconhecimento global enquanto, internamente, viola sistematicamente os direitos das populações que são as verdadeiras guardiãs desse território. Como podemos falar em sustentabilidade e justiça climática se a população quilombola, que há séculos protege suas terras e seus modos de vida, é tratada com violência e desprezo? Como o Pará pode se apresentar como referência mundial em políticas socioambientais se suas comunidades tradicionais são perseguidas, silenciadas e impedidas de exercerem seus direitos?
EXIGIMOS:
01. A revogação imediata do aumento das passagens para que seja aberta uma negociação justa e transparente. Não aceitaremos acordos que não garantam a redução dos preços ao valor anterior. Esse reajuste atinge diretamente os trabalhadores, os estudantes, os agricultores e comerciantes locais, tornando o custo de vida insustentável e impactando severamente a economia do Marajó.
02. O fim do monopólio da Henvil Transportes, que há anos impõe tarifas exorbitantes e oferece um serviço precário sem concorrência justa. Os quilombolas e toda a população marajoara têm direito a um transporte público acessível, seguro e digno! Também utilizamos as embarcações em todas as suas áreas, incluindo as salas VIP, e não aceitaremos segregação ou discriminação velada!
03. O fim da repressão policial contra os manifestantes. A resposta do governo à mobilização popular não pode ser baseada no uso da força, no medo e na repressão, mas sim no diálogo e na construção de soluções que respeitem os direitos da população.
Até o momento, nenhuma autoridade estadual chamou os quilombolas para qualquer reunião de negociação. O governo impõe aumentos arbitrários, nega diálogo e responde com violência quando o povo se manifesta. Isso não será tolerado!
A Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará – MALUNGU acompanha a situação através de sua assessoria jurídica e tomará todas as medidas necessárias para a defesa dos direitos do nosso povo. Os quilombos de Salvaterra carregam uma história de resistência secular, e não nos calaremos diante de mais esse ataque!
Exigimos respeito, diálogo e justiça!
Salvaterra, Ilha do Marajó-PA, 20 de março de 2025.
Grupo de Juventude Negra Quilombola Abayomi