As histórias e pesquisas contam que o café tem sua origem na região Tropical da África, mais especificamente, na Etiópia, Sudão, Quênia e Tanzânia. Outra história curiosa é que a descoberta do café tenha ocorrido acidentalmente por um pastor de cabras, que ao observar que os animais, após consumirem frutos vermelhos de um arbusto selvagem, as cabras ficavam mais animadas, e que segundo eram as cerejas do café.
No Brasil, segundo a história, conta- se que as primeiras mudas de café foram trazidas por Francisco Mor de Mello Palheta, que contrabandeou as primeiras mudas da Guiana Francesa a mando do governador do Maranhão e do Grão Pará. Assim as mudas foram plantadas aqui no Pará e floresceram facilmente, em seguida a planta foi levada para o Rio de Janeiro, Maranhão, São Paulo e Minas Gerais em 1860. Em 1837, o café tornou-se o principal produto de exportação do Brasil Império, e o Brasil, em 1860 já produzia 60% do café mundial.
Atualmente existem várias plantações pelo país, no Pará existem inúmeras, mas não há informações oficiais sobre produção de café na região de Santarém, Oeste do Pará. Um dos poucos registros de produção de café na região é no Planalto Santareno, na comunidade Serra Grande do Ituqui, que fica a 93 km de Santarém.
Em entrevista ao Tapajós de Fato, Rivonete Ferreira, produtora rural da comunidade de Serra Grande do Ituqui, compartilhou sobre a plantação de café na comunidade. Ela relata que no início da plantação eram aproximadamente oito mil pés de café, com a renovação do plantio, restam apenas 4 mil pés de café, Rivonete conta que “devido ao clima, nosso clima foi um pouco devastador que acabou perdendo- se muitas plantas que tínhamos dentro do sítio, do cafezal, e as plantas iam morrendo e acabou levando alguns cafeeiros junto”.
O cafezal de Serra Grande do Ituqui existe há trinta (30) anos, e entre alguns anos acontece a renovação dos pés, contudo, ainda existem alguns pés do passado. No início, segundo nos conta dona Rivonete, era uma safra grande de café que era fornecida para o proprietário da empresa Café Ouro do Tapajós, que existiu em meados da década de 1990, hoje extinta.
Eram cerca de 700 sacas de café produzidas, vendidas por preço baixo direto dos produtores, que pouco lucravam com a venda, contudo, na mesa do consumidor, o produto final chegava por um preço alto. E hoje com as questões climáticas, o cenário da agricultura do café é bem diferente comparado às produções do passado.
Rivonete nos diz que “começou a ter decadência, né? Fechou a fábrica que não existe mais, aí foi o tempo que o cafezal foi desfalecendo, foi morrendo alguns pés, ‘minguou’, aí é o período que o papai fez novos cafezais por aqui e a gente já consome esse café aqui mesmo, a gente vende já aqui dentro da comunidade, para outros produtores que procuram, mas a maioria do café é eu que compro do meu pai. Como eu faço feira então eu compro em grão e já processo ele aqui mesmo e já levo processado pra feira pra vender, então a gente tem essa parceria de pai com filha. Meu pai é o dono do sítio, do terreno, e como eu sou produtora eu já negocio com ele, e assim a gente vai levando nossa vida com o café”. Os tipos de café produzidos na comunidade de Serra Grande do Ituqui são o café do sol, café da ìndia, café moca e café beirão, que é mais graúdo, além de produzir também o café arábica, um dos mais famosos e especiais.
A Serra Grande do Ituqui é uma comunidade de povos tradicionais, e a produção de café na comunidade é invisibilizada. O pai de Rivonete, seu João Aguiar Santos, é um senhor de 72 anos e é o ‘carro chefe’ da produção de café na comunidade, a partir de suas produções, os demais agricultores compram de seu João para vender o café na cidade de Santarém e nas feiras de modo geral. Por se tratar de uma produção independente, Rivonete adquire o café de seu pai João para vender nas feiras da cidade com preços diversos, chegando a custar em torno de R$80,00 o quilo.
A questão climática é um fator que atinge e influencia diretamente na produção do café na região do Oeste do Pará, e em todo o país, pois com as mudanças climáticas e o clima extremamente seco no verão, contribui para a redução das produções, pois consequentemente, alguns pés não resistem ao calor extremo, como diz Rivonete. “Sim, influencia e muito, inclusive, ultimamente, estamos desde o ano passado que nós não estamos tendo produção de café [...] Ano passado devido o clima ser muito quente não teve produção, e nós estamos rezando a Deus que esse ano como começou a chover parece que estão floreando[...] talvez não vá ter aquela safra que eu comprei naquele ano porque o clima ele influenciou muito, não morreu, mas devido chuva e quentura, parece que não vingou tanto o café. Mas vamos ver se vingou ou não, daqui pra junho ou julho vai ser a colheita, vamos rezar que apareça fruto esse ano, ano passado nós não tivemos café”.
Na região são apenas quatro (4) produtores de café que também compram para revender, e há consumidores dentro da região que compram entre 10 e 15 quilos para seu consumo, segundo nos contou dona Rivonete.
Sendo um dos únicos e maiores produtores de café da região, João Aguiar Santos, de 72 anos, mantém viva a tradição do plantio de café na comunidade. Ele relata como o clima interfere na produção de café e faz um comparativo da produção do passado e dos dias de hoje.
“O que eu percebo na época do passado é que o clima era diferente de hoje, e a gente produzia, todo ano a gente tinha produção. Hoje o clima tá diferente, tá com dois anos que o café faz a floragem e pouco segura. E outra coisa, que no tempo do passado fez com que os produtores que acompanhavam a gente pra juntar a produção pra vender eles pararam de fazer isso porque o valor era muito baixo. Eu entreguei cento e poucos sacos de café e no valor de 40 centavos o quilo, então isso aí fez com que o pessoal não acreditassem mais na agricultura e parassem de fazer, e chega no que tá chegando hoje, no aumento do valor”.
Os produtores rurais, no passado, juntavam suas produções para vender, mesmo com o preço abaixo do merecido, era uma tradição, “porque no passado, 600 sacos, 700 sacos a gente juntava às vezes três, quatro produtor e vendia, mas agora não, ficou só a família mesmo fazendo isso aqui. Agora, se tiver como a gente aumentar a produção, mudas tem demais, eu faço é dar as mudas pras pessoas que tem a boa vontade de fazer, e fazendo com certeza vai ficar mais barato o valor do café para consumirem”. Com o excesso de trabalho e preço baixo muitos ficaram desacreditados no negócio e desistiram das produções.
Segundo informações, as produção de 600 ou 700 sacos de café no passado, eram repassados para um caminhão baú que pertenciam à fábrica Ouro do Tapajós, que distribuía os cafés já empacotados para os comércios da comunidade santarena que buscava a produção, que era comprada a um preço baixo e levada para revender, porém, hoje, com a produção de pouco mais de 120 sacas, a distribuição circula apenas na região para consumo e pequenas vendas em algumas feiras agroecológicas da cidade, dessa forma não se faz venda em grande escala na região devido a baixa produção, principalmente em consequência das mudanças climáticas. E em apenas um ano, houve incentivo de bancos para contribuir na produção de café.
Café no Brasil e impactos climáticos
Há mais de um século o Brasil lidera a produção de café mundial. Em 2024 foram 54,2 milhões de sacas de 60 kg, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Desse total produzido, foram exportadas 50,5 milhões de sacas de 60 kg de café em 2024. Esse número representa um recorde e alta de 28,8% comparado ao ano anterior, isso de acordo com dados do MDIC.
A quantidade exportada, nota- se que foi altíssima, esse fator de exportação se dá devido a valorização do produto no mercado internacional e também devido a alta do dólar. Esse cenário de oferta e demanda foram os impulsionadores de influência na alta dos preços do café. Outro fator não menos importante que explica a alta do preço do café é a Crise Climática, que em importantes países produtores, limita a produção e a recuperação de oferta futura. Um estudo da ONU alerta para interrupções na oferta global dos grãos.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura- FAO, o preço do café continuará subindo em 2025 caso as principais regiões produtoras enfrentem reduções significativas na oferta. Além disso, as limitações de exportações do Vietnã, a queda na produção da Indonésia e o impacto do clima seco na produção brasileira são variáveis que estão motivando mudanças nas indústrias, nos negócios, no campo e no consumo de café.
O governo brasileiro incentiva a produção de café através das medidas como o Plano Safra e o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé). O Plano Safra 2024/2025 oferece juros mais baixos que os do mercado para produtores rurais e incentiva o fortalecimento de produções sustentáveis. No mais, os eventos climáticos extremos têm causado esse desequilíbrio na produção, oferta e preços do café, que em 2025 continuarão em alta.
O aumento generalizado do preço do café impacta diretamente na vida dos mais pobres, pois o café é um alimento de consumo popular, e está presente diariamente na mesa dos consumidores brasileiros.