No estado sede da COP 30 as juventudes da floresta e cidade não valem um real

Essa semana vamos ecoar em nosso jornal as ideias de Darlon Neres dos Santos, Guardião do Bem Viver, comunicador popular, jovem negro, agricultor familiar, liderança comunitária, membro do coletivo Guardiões do Bem Viver, do Projeto de Assentamento Agroextrativista PAE Lago Grande em Santarém-Pará e acadêmico de Antropologia.

28/04/2025 às 15h54 Atualizada em 28/04/2025 às 15h59
Por: Tapajós de Fato Fonte: Darlon Neres
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Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Dados do IBGE de 2022 mostraram que a juventudes no Brasil e aproximadamente de 50 milhões, no estado do Pará os números chegam à soma de 2 milhões de habitantes jovens (IBGE, 2022), na faixa de 15 a 29 anos, somando ¼ da população paraense.

A capital do estado do Ceará, Fortaleza, hoje detém o patamar de liderança entre as capitais com relação ao orçamento e as políticas públicas voltadas ao público jovem, chegando a ter mais de 15 programas sociais para a juventudes e o orçamento só cresce a cada ano. Sabemos que nos 4 anos do governo Bolsonaro a Secretaria Nacional de Juventudes foi quase extinta, inclusive teve incentivos de programas com o comando de Damares Alves, com isso colocando mais uma vez o orçamento da juventude para a propaganda que meninos usam azul e meninas rosa. Com a conjuntura do novo governo, surgiu alguns novos programas, destaco, por exemplo, o Pé de Meia, programa lançado para incentivar os jovens que estão estudando o ensino médio a continuarem nas escolas e diminuir a invasão escolar.

Mas no estado do Pará, quais os avanços que tivemos? Quanto está o orçamento para a juventude no estado?

É isso que quero aqui refletir junto com a juventude, eu me coloco junto, pois sei que dentro desse orçamento nós não valemos um real. Sim, mas um real ainda é muito alto.

Sem uma secretaria de juventudes no estado, apenas uma gerência dentro da Secretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEIRDH-PA), mesmo sendo ¼ da população paraense o orçamento de 2024 foi de R$ 20 mil reais apenas, pegue aí sua calculadora e faça a soma de R$ 20 mil para 2 milhões de jovens, corresponde a quase R$ 0,01 centavo.

Com esse orçamento a educação, saúde, esporte, lazer, emprego e tantos outros programas de serviços públicos não vão alcançar quem de fato tanto precisa, principalmente para as juventudes da floresta, povos indígenas, quilombolas, das baixadas, periferias, que deveriam ser prioridades no orçamento público. Na sede do estado, Belém, se aproxima o maior evento climático do planeta, a COP 30, que no discurso do governador Helder barbalho, tem olhado para todos os povos, menos para juventudes.

Juventudes porque somos diversos, estamos em vários lugares, e todos os dias nossos corpos são violados, principalmente a juventude negra nesse país que todos dia precisa afirmar: “Não somos o futuro, somos o Presente”. Mas se estes rostos jovens de várias partes do estado não estiverem no orçamento, o estado não terá futuro, ou governador acha que futuro é colocar seu filho com carisma jovem como seu sucessor fazendo suas dancinhas de TikTok? A resposta é não.

Nos últimos anos vimos a juventude se levantar, criar seus espaços para se manterem vivos, olhamos e em todas as esquinas está a juventudes, do campo a cidade. Vimos cada um se juntar, se organizando, sonhando e construindo utopias. Carregando a bandeira da esperança, e essa é uma das razões porque todos os dias precisamos enfrentar o Estado que não nos coloca no orçamento, mas que nos coloca na mira do extermínio e do julgamento social.

E talvez a gente se pergunte: podemos construir algo novo? podemos comungar por um mundo novo? Sim, nós podemos ir além dos Barbalhos, do capitalismo e da burguesia, mas é necessário ser rebelde todos os dias, principalmente as juventudes da Amazonia. Precisamos incidir nos nossos municípios, nas prefeituras, formar líderes jovens para ocupar os cargos dos esgravatados no Congresso Nacional, na assembleia legislativa e câmaras municipais, fazendo assim garantiremos o presente, e faremos história no futuro.

 

*As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as do Tapajós de Fato. Nosso objetivo é estimular a participação da população a enxergar a comunicação como ferramenta de luta.

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